economia mundial – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Sun, 10 Nov 2024 12:55:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico economia mundial – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Na China, desaceleração econômica afugenta empresas estrangeiras; US$ 13 bi deixaram o país no ano https://investnews.com.br/economia/na-china-desaceleracao-economica-afugenta-empresas-estrangeiras-us-13-bi-deixaram-o-pais-no-ano/ Sun, 10 Nov 2024 12:55:51 +0000 https://investnews.com.br/?p=629155
O mercado de ações da China sofre com a falta de impulsionadores positivos no início do novo ano, e os esforços de apoio de Pequim provavelmente continuarão caindo em meio a riscos persistentes. Fotógrafo: Qilai Shen/Bloomberg

As empresas estrangeiras retiraram mais dinheiro da China no último trimestre, um sinal de que alguns investidores ainda estão pessimistas, mesmo quando Pequim implementa medidas de estímulo destinadas a estabilizar o crescimento.

Os passivos de investimento direto da China na sua balança de pagamentos caíram US$ 8,1 bilhões no terceiro trimestre, de acordo com dados da Administração Estatal de Câmbio divulgados na sexta-feira. O indicador, que mede o investimento estrangeiro direto na China, caiu quase US$ 13 bilhões nos primeiros nove meses do ano.

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O investimento estrangeiro na China caiu nos últimos três anos, depois de ter atingido um recorde em 2021, vítima de tensões geopolíticas, do pessimismo em relação à segunda maior economia do mundo e da concorrência mais forte das empresas nacionais chinesas em indústrias como a automóvel. Se o declínio continuar durante o resto do ano, será a primeira saída líquida anual de IDE desde, pelo menos, 1990, início da série histórica.

As empresas que retiraram algumas operações na China este ano incluem as montadoras Nissan Motor Co. e Volkswagen AG, além de outras como Konica Minolta Inc. disse em julho que estava saindo de uma joint venture na China, enquanto a International Business Machines Corp. está encerrando uma equipe de pesquisa de hardware no país, uma decisão que afeta cerca de 1.000 funcionários.

A perspectiva de uma guerra comercial alargada e da deterioração das relações com Pequim durante o segundo mandato do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pode pesar ainda mais sobre o investimento. A “tensão geopolítica” é a principal preocupação dos membros da Câmara de Comércio Americana em Xangai, segundo o presidente do grupo, Allan Gabor.

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“Isso torna difícil planejar grandes investimentos, mas, pelo contrário, vemos muitos membros fazendo investimentos pequenos e médios”, disse Gabor numa entrevista à Bloomberg TV na semana passada, durante a China International Import Expo. “É um ambiente de investimento muito mais cirúrgico.”

Ainda assim, os esforços do governo no final de setembro para estimular a economia já beneficiaram um grupo de investidores estrangeiros. O valor das ações detidas por estrangeiros subiu mais de 26% em relação a agosto, de acordo com dados do banco central. O índice de ações de referência chinês ganhou quase 21% em setembro, após o início de um esforço coordenado de estímulo, embora desde então alguns tenham desistido de alguns desses ganhos.

Em contraste, o investimento no exterior da China tem aumentado acentuadamente. No terceiro trimestre, as empresas chinesas aumentaram os seus ativos no exterior em cerca de US$ 34 mil milhões. Isso elevou as saídas até agora neste ano para US$ 143 bilhões, o terceiro maior total já registrado para o período.

Empresas chinesas como a BYD Co. têm aumentado rapidamente sua presença no exterior para garantir matérias-primas e construir capacidade de produção em mercados estrangeiros. É provável que essa tendência continue e se expanda, à medida que mais países impõem tarifas sobre algumas exportações da China, como o aço. Os EUA, por exemplo, ameaçam impor tarifas punitivas sobre todos os produtos chineses.

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PIB dos EUA cresce 2,8% no 3º trimestre impulsionado por gastos de defesa e consumo https://investnews.com.br/economia/pib-dos-eua-cresce-28-no-3o-trimestre-impulsionado-por-gastos-de-defesa-e-consumo/ Wed, 30 Oct 2024 14:35:10 +0000 https://investnews.com.br/?p=626569 Consumo nos EUA PIB
Consumo impulsiona PIB dos EUA no terceiro trimeste

A economia dos Estados Unidos registrou um crescimento sólido no terceiro trimestre, impulsionada pelo aumento nas compras dos consumidores e pelos gastos federais em defesa, numa fase pré-eleitoral. O Produto Interno Bruto (PIB), ajustado pela inflação, avançou a uma taxa anualizada de 2,8%, após crescer 3% no trimestre anterior, de acordo com a estimativa inicial divulgada pelo governo na quarta-feira.

O consumo das famílias, principal componente da atividade econômica, cresceu 3,7%, o ritmo mais rápido desde o início de 2023, com destaque para o aumento em bens de consumo, incluindo automóveis, mobiliário doméstico e itens recreativos.

Enquanto isso, um indicador fundamental de inflação subjacente subiu 2,2%, alinhando-se com a meta do Federal Reserve, segundo o Bureau de Análise Econômica dos EUA.

O desempenho da maior economia do mundo aponta para uma forte demanda interna, mesmo com o Federal Reserve afrouxando gradualmente sua política monetária mais rigorosa em décadas. O relatório chega às vésperas das eleições, momento em que os eleitores americanos confrontam os números da economia com suas próprias finanças, pressionadas nos últimos anos pelo alto custo de vida.

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“Quase nada está errado com este cenário”, afirmaram Carl Weinberg e Rubeela Farooqi, economistas da High Frequency Economics, em nota. “Uma normalização estável das taxas em um ritmo moderado é o que a economia precisa.”

Após a divulgação dos dados do PIB, o S&P 500 abriu em queda, a taxa de rendimento dos títulos do Tesouro de dois anos subiu e o dólar oscilou. Um relatório separado do Instituto ADP apontou forte contratação no setor privado em outubro.

O crescimento do PIB no terceiro trimestre foi limitado por flutuações no comércio exterior, com as exportações líquidas reduzindo 0,56 ponto percentual do total. Importadores aumentaram o volume de bens de consumo, em parte temendo uma possível greve prolongada dos trabalhadores portuários. Os estoques também subtraíram 0,17 ponto percentual.

Gastos do governo em alta

Apesar desses fatores, um índice de tendência de crescimento subjacente, que combina consumo e investimentos empresariais, avançou 3,2%, o maior avanço deste ano. Os gastos governamentais subiram 5% anualizados, com destaque para o maior aumento nos gastos federais desde 2021. Despesas de defesa nacional dispararam a uma taxa de 14,9%, o maior crescimento desde 2003, enquanto os gastos federais excluindo defesa subiram ao ritmo mais rápido em um ano.

O investimento empresarial fixo não residencial teve um aumento anualizado de 3,3%, o ritmo mais lento em um ano, afetado pelos gastos com infraestrutura. Por outro lado, os gastos empresariais com equipamentos foram os mais fortes desde o segundo trimestre de 2023, impulsionados pelo setor de transportes.

Investimentos em computadores e equipamentos periféricos saltaram 32,7%, o maior aumento desde 2020, refletindo o boom contínuo em inteligência artificial.

O setor de investimentos residenciais recuou 5,1% anualizados, a maior queda desde o final de 2022, em meio às pressões de altas taxas de hipoteca e preços elevados no mercado imobiliário.

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Esses números indicam que o Federal Reserve deve manter o curso de corte de juros nos próximos trimestres, incluindo na reunião da próxima semana. Os dados são um reforço para a vice-presidente Kamala Harris nos últimos dias da campanha contra o ex-presidente Donald Trump.

Na comparação anual, o PIB cresceu 2,7%, sustentando um nível acima de 2,5% por seis trimestres consecutivos — “a maior sequência de crescimento sólido desde 2006”, observou Bill Adams, economista-chefe do Comerica Bank.

Entretanto, o crescimento não tem sido distribuído de forma equitativa, com a parcela de renda destinada aos lucros empresariais ainda bem acima dos níveis históricos. A renda pessoal ajustada pela inflação, após impostos, subiu 1,6% anualizados, o menor avanço em um ano, segundo os dados do PIB.

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Dólar a R$ 6,00 e pressão sobre os juros: o contágio do ‘Trump trade’ para o Brasil https://investnews.com.br/economia/dolar-a-r-600-e-pressao-sobre-os-juros-o-contagio-do-trump-trade-para-o-brasil/ Wed, 30 Oct 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=626334 Retrato do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, um homem idoso em terno formal azul escuro aponta enfaticamente para a câmera com expressão séria, fundo sugere uma ocasião oficial nos Estados Unidos.
O candidato republicano à presidência, ex-presidente dos EUA Donald Trump, faz um gesto após discursar em um comício de campanha na Pensilvânia. Foto: Getty Images/ Win McNamee

Dólar a R$ 6,00, juros de longo prazo em alta e mais dor de cabeça para o Banco Central. Essa é a resposta que se espera do mercado brasileiro caso haja uma vitória do republicano Donald Trump, de acordo com economistas e especialistas com quem o InvestNews conversou nos últimos dias. O cenário de vitória do republicano vem ganhando mais força por causa das últimas pesquisas eleitorais.

Espera-se que, em um mundo em que o republicano Donald Trump vença a eleição presidencial dos Estados Unidos, haja inflação, juros e dólar mais altos. E o Brasil não terá como escapar de um contágio.

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Essa previsão, quase consensual entre os economistas, já começou a se manifestar: em reação à vantagem do ex-presidente nas pesquisas eleitorais, os juros dos Treasuries, os títulos públicos americanos, subiram nos últimos dias, enquanto as principais moedas, inclusive o real, perderam valor. O ouro, considerado um ativo mais seguro para momentos de incerteza, também está subindo, assim como as bolsas  americanas. É o que analistas estão chamando de “Trump trade“.

A reação do mercado se baseia nas principais propostas do candidato apresentadas durante a campanha:

  1. Corte de impostos – pode ser um estímulo para o consumo e consequentemente, a inflação ;
  2. Desregulamentação da economia – estratégia que vai ao encontro dos interesses de alguns setores econômicos, especialmente o de tecnologia, e que pode destravar negócios e contribuir para a aceleração econômica;
  3. Política tarifária mais agressiva – ao restringir importações, a concorrência em muitos setores tende a diminuir e, como consequência, os preços sobem;
  4. Restrições imigratórias – menos imigrantes pode significar menos mão de obra e, consequentemente, ter efeitos sobre salários em alguns segmentos da economia.

The Wall Street Journal: Por que a promessa de Trump de taxar as importações deve ser levada a sério

O conjunto de medidas propostas pelo republicano tem impacto sobre a oferta de bens e serviços para a economia e também deve estimular a demanda. O resultado dessa equação é simples: mais inflação.

E para o Brasil?  “É o pior dos mundos”, diz Tony Volpon,  professor adjunto da Georgetown University em Washington D.C. e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. O primeiro ponto de contágio é via juros. Volpon explica que os estímulos econômicos prometidos por Trump podem trazer um problema para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) parecido com o que é vivido pelo Brasil.

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Agora, o Fed está em pleno ciclo de corte de juros. Mas, se as promessas do republicano forem concretizadas, a piora das expectativas de inflação vai obrigar o banco central americano a voltar a subir os juros lá na frente.

Um novo aumento de juros – ou simplesmente uma pausa na queda da taxa – teria o poder de mudar a direção do dinheiro global. “Um cenário com Trump tenderia a atrair mais capital, o que afetaria diretamente o câmbio e também as bolsas”, diz Volpon.

Hoje, as bolsas emergentes vêm sofrendo com a dinâmica global de juros. Enquanto nos Estados Unidos o corte da taxa deu força às ações, países como o Brasil lidam com os efeitos negativos do aperto monetário sobre o mercado acionário. Como resultado, a diferença média de preços entre as bolsas emergentes e o S&P chegou ao maior nível desde 2021.

Gráfico comparativo mostrando o desempenho superior e consistente do S&P 500 sobre o MSCI Emerging Markets Index de 2019 a 2024.

Mas alguns podem tirar vantagem de uma vitoria de Trump. Segundo relatório da XP Investimentos, empresas dos setores de exportação de commodities, como o agronegócio, podem se beneficiar em um governo Trump. É um efeito que já se observou no período entre 2018 e 2020, no auge da guerra comercial com a China, quando a demanda chinesa por commodities se deslocou dos Estados Unidos para o Brasil, beneficiando produtos como soja e milho.

Real mais fraco

O outro lado da moeda é o câmbio. O dólar tenderia a ganhar força no mundo, tanto pelo efeito do crescimento econômico americano quanto pela perspectiva de alta de juros. A desvalorização do real poderia pressionar ainda mais a inflação no Brasil. E traria um problema adicional para o Banco Central, que já tem enfrentado dificuldade em conter a inflação.

Os mercados globais estão se antecipando a esse cenário no movimento que foi batizado de “Trump trade“. Nesta terça-feira, o dólar comercial voltou a subir e fechou valendo R$ 5,7610, o maior nível desde 30 de março de 2021. Mas isso significa que o mercado já dá como certa a vitória de Trump? A resposta é não: trata-se de um movimento de proteção, como definem os especialistas do mercado.

Em 2016, quando Trump foi eleito, o mercado não esperava esse resultado. Por isso, diante de um cenário ainda incerto, investidores preferem se posicionar de forma preventiva. As contas dos especialistas mostram que as propostas de Trump adicionariam US$ 7,5 trilhões de déficit fiscal ao país – enquanto um eventual governo de Kamala Harris traria US$ 3,5 trilhões a mais de déficit.

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A vitória de Trump não está totalmente “no preço” – contemplada nos preços dos ativos –, diz Volpon. Isso significa que é preciso estar preparado para uma reação ainda mais negativa, caso o republicano realmente leve a eleição.

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Japão vive desafio de recuperar economia com novo governo e afastar transtornos regionais https://investnews.com.br/economia/japao-vive-desafio-de-recuperar-economia-com-novo-governo-e-afastar-transtornos-regionais/ Tue, 29 Oct 2024 13:07:45 +0000 https://investnews.com.br/?p=626081
O Ministro das Finanças do Japão, Katsunobu Kato, reiterou nesta terça-feira que as autoridades estariam atentas às movimentações cambiais, incluindo aquelas provocadas por especuladores. Foto: Issei Kato/Reuters

O governo japonês manteve sua avaliação de que a economia está se recuperando moderadamente, embora tenha reiterado a necessidade de prestar atenção aos possíveis riscos econômicos globais e à volatilidade do mercado financeiro.

“A economia deve continuar a se recuperar em um ritmo moderado com a melhora da situação do emprego e da renda”, disse o Escritório do Gabinete em seu relatório mensal de outubro, deixando a avaliação inalterada pelo terceiro mês consecutivo.

O relatório foi divulgado após as eleições gerais de domingo, nas quais o bloco governista do Japão, liderado pelo Partido Liberal Democrático, perdeu sua maioria, complicando as perspectivas para a taxa de juros e a política fiscal.

O relatório mensal identificou taxas de juros mais altas nos EUA e na Europa e a estagnação do mercado imobiliário chinês como riscos negativos para a economia japonesa. As consequências dos conflitos no Oriente Médio e a inflação do Japão também devem ser observadas, segundo o relatório.

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Em grande parte, o governo manteve sua opinião sobre outros subsetores da economia, com exceção da produção industrial, que foi rebaixada para ser descrita como “estável recentemente”, em vez de “mostra movimentos de aceleração”.

Foi a primeira revisão para baixo na produção industrial em oito meses, e o relatório disse que o setor deve se recuperar, embora o impacto dos riscos de uma desaceleração econômica no exterior precise ser monitorado.

O consumo privado, que responde por mais da metade da produção econômica, continuou a mostrar sinais de aceleração, já que a demanda por veículos novos e eletrodomésticos está melhorando, disse o governo. O investimento empresarial também está se recuperando, e a avaliação das empresas sobre as condições atuais de negócios está melhorando.

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O relatório foi apresentado nesta terça-feira (29) em uma reunião de ministros e do presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda.

O banco central japonês realizará sua reunião de política monetária nesta semana, encerrando na quinta-feira. Uma pequena maioria de economistas em uma pesquisa da Reuters espera que o banco central mantenha sua política monetária atual e não aumente a taxa de juros novamente este ano.

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O pacote de estímulos da China ainda não convenceu os economistas. A solução? Mais estímulos https://investnews.com.br/economia/o-pacote-de-estimulos-da-china-ainda-nao-convenceu-os-economistas-a-solucao-mais-estimulos/ Sat, 12 Oct 2024 15:27:45 +0000 https://investnews.com.br/?p=621838 Figura humana em preto e branco segura uma superfície triangular branca contra um fundo vermelho com estrelas, remetendo à bandeira da China.
Ilustração: João Brito

A China anunciou novas medidas para apoiar a economia, prometendo mais ajuda para o setor imobiliário em crise e para os governos locais endividados. No entanto, as autoridades ainda não convenceram os economistas de que estão fazendo o suficiente para vencer a deflação.

Em uma coletiva de imprensa muito aguardada neste sábado (12), o ministro das Finanças, Lan Fo’an, evitou mencionar valores específicos sobre o estímulo fiscal, como os investidores esperavam, indicando que os detalhes serão apresentados quando o Congresso Nacional do Povo se reunir nas próximas semanas. As medidas de apoio anunciadas, no entanto, deram pouca indicação de que as autoridades chinesas sentem urgência em impulsionar o consumo, que muitos economistas veem como essencial para reaquecer a economia e colocá-la em uma trajetória de crescimento mais positiva.

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“A política de apoio ao consumo parece bastante fraca”, disse Jacqueline Rong, economista-chefe da China no BNP Paribas. “Ainda é muito cedo para prever uma reversão significativa da pressão deflacionária ou uma recuperação do mercado imobiliário, que são as duas questões principais enfrentadas pela economia chinesa.”

Os dados que serão divulgados no domingo (13) provavelmente mostrarão que os preços ao consumidor em setembro permaneceram abaixo de 1% pelo 19º mês consecutivo, enquanto a deflação nos preços de fábrica se aprofundou, destacando a demanda fraca antes das recentes medidas de estímulo. As autoridades falaram pouco sobre a deflação na coletiva de uma hora de duração no sábado.

Antes do fim de semana, investidores e analistas esperavam que a China implementasse até 2 trilhões de yuans (US$ 283 bilhões) em novo estímulo fiscal, incluindo possíveis subsídios, vouchers de consumo e apoio financeiro para famílias com filhos. Isso ainda pode ocorrer nas próximas semanas: no ano passado, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, o legislativo da China, usou uma reunião no final de outubro para anunciar uma revisão orçamentária e a emissão de títulos adicionais.

Mas os comentários de Lan no sábado indicaram que a China está confortável com a direção geral da economia. Ele prometeu permitir que os governos locais utilizem títulos especiais para comprar imóveis não vendidos e anunciou o maior esforço em anos para aliviar o fardo da dívida das autoridades locais, nenhuma das quais é provável de proporcionar um impulso de curto prazo ao crescimento.

Funcionário checa fios de aço em um armazém em Dalian, China 15/05/2017. REUTERS/Stringer/File Photo

“Minha impressão é que as medidas de política fiscal demorarão um pouco para serem implementadas a tempo de atingirmos 5% este ano, a menos que o volume final do estímulo fiscal seja muito maior do que o previsto”, disse Lynn Song, economista-chefe para a Grande China no ING Bank, referindo-se à meta de crescimento econômico da China para 2024.

Lan também sugeriu a possibilidade de emitir mais títulos soberanos e aumentar os gastos do governo, medidas que poderiam ser anunciadas quando os legisladores se reunirem no final deste mês ou no início de novembro.

Dúvidas e mais dúvidas

Sem novos recursos imediatos à vista, os formuladores de políticas centrais provavelmente se concentrarão em apoiar os governos locais para cumprirem seus orçamentos de gastos, utilizando recursos existentes para estabilizar o mercado imobiliário.

Permitir que os governos locais troquem suas dívidas por empréstimos mais baratos liberará recursos para serviços públicos e incentivará as autoridades a gastarem mais. E permitir que usem títulos especiais para comprar apartamentos não vendidos e transformá-los em habitação social pode ajudar a estabilizar a queda nos preços dos imóveis, dando aos proprietários uma maior sensação de segurança.

O Ministério das Finanças não forneceu um valor exato para nenhuma das medidas. Mas essas estão entre as ações que levam economistas a acreditar que “desta vez pode ser diferente” após tentativas anteriores de estímulo terem fracassado, segundo o Societe Generale.

Um trabalhador usa uma máquina para contar notas de 100 yuans chineses em Hong Kong, China.
Um trabalhador usa uma máquina para contar notas de 100 yuans chineses em Hong Kong, China. Foto: Paul Yeung/Bloomberg

“As perspectivas de uma recuperação sustentada e de uma reaquisição estão melhorando, com maiores chances de estabilização do setor habitacional e menos pressão com a desalavancagem dos governos locais”, afirmaram os economistas Wei Yao e Michelle Lam, do banco, em uma nota.

Quanto aos subsídios diretos, Lan disse no sábado que a China aumentará o número de bolsas de estudo e ampliará a ajuda financeira aos estudantes, uma medida que ocorre após o desemprego juvenil ter atingido o nível mais alto do ano em agosto. Ele também prometeu continuar oferecendo apoio aos grupos necessitados, citando um benefício único distribuído aos pobres no mês passado como exemplo.

A ausência de grandes subsídios não surpreende, já que Pequim há muito tempo se opõe ao que chama de “assistencialismo”.

“Nada de comida grátis para preguiçosos é o pensamento fundamental dos formuladores de políticas, por isso um subsídio em larga escala para toda a nação é improvável”, disse Bruce Pang, economista-chefe para a Grande China da Jones Lang LaSalle, referindo-se a um comentário semelhante feito pela principal agência de planejamento econômico do país.

Economistas há muito tempo defendem uma mudança nas prioridades da política fiscal para focar mais no consumo doméstico. Esse movimento em direção a um modelo de crescimento mais equilibrado e sustentável reduziria a dependência do país nas exportações para impulsionar a economia, em meio ao aumento das tensões comerciais.

O antigo manual de uso de investimentos financiados por dívida em projetos públicos — de estradas a pontes — tornou-se menos eficaz após décadas de urbanização que deixaram o país saturado de infraestrutura. Por causa da falta de projetos de alta qualidade, as autoridades têm mais dinheiro à disposição do que projetos para gastar.

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O Ministério das Finanças afirmou que o governo expandirá os setores elegíveis para receber apoio financeiro por meio da emissão de títulos locais especiais. Isso poderia injetar na economia até 1 trilhão de yuans que estão parados, segundo Ding Shuang, economista-chefe para a Grande China e Ásia do Norte no Standard Chartered.

As dificuldades financeiras dos governos locais estão intimamente ligadas à desaceleração do setor imobiliário. As vendas de terras, um dos principais motores de receita, estão diminuindo ao mesmo tempo em que uma desaceleração mais ampla reduz impostos e outras fontes de renda. Após um grande aumento de endividamento após a crise financeira de 2008 para sustentar o crescimento, e depois de enfrentar uma pandemia custosa, muitas localidades agora estão lutando para cumprir as necessidades diárias de gastos, como o pagamento de servidores públicos.

Algumas regiões optaram por adiar pagamentos a empreiteiros, impor multas pesadas e cobrar impostos retroativos de décadas atrás. Essas ações prejudicaram ainda mais a já frágil confiança no setor privado, levando Pequim a alertar as autoridades locais contra penalidades excessivas.

Porto de Xangai 13/01/2022 REUTERS/Aly Song

Ao permitir que os governos locais troquem mais “dívidas ocultas”, Pequim também tenta controlar os riscos de crédito em empresas que emprestaram agressivamente em nome dos governos locais nos últimos anos para ajudar a financiar infraestrutura. No entanto, títulos emitidos para trocas de dívidas não geram novo crescimento na economia, embora ajudem a manter a estabilidade financeira e social.

Esforços para lidar com os riscos da dívida dos governos locais “envolvem principalmente a transferência de dívida de uma parte do Estado para outra” e terão impacto limitado na demanda de curto prazo, disse Julian Evans-Pritchard, chefe de economia da China na Capital Economics. Ele manteve sua previsão de crescimento para 2024 em 4,8% e revisou a previsão para o próximo ano para 4,5%, de 4,3%, citando o impulso fiscal.

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Larry Hu, chefe de economia da China no Macquarie Group, disse que o modelo de crescimento de duas velocidades da China, que depende da manufatura e das exportações para compensar o setor imobiliário, é “cada vez mais insustentável”. Ele afirmou que as autoridades precisarão mudar de direção quando as exportações enfraquecerem ou a demanda interna deteriorar-se ainda mais, levando a agitação social.

“O forte senso de urgência da reunião do Politburo de setembro sugere que este é o momento de virada”, escreveu Hu em uma nota no sábado. “Mas para confirmar isso, precisamos de mais evidências.”

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Proposta encomendada pelo Brasil para o G20 prevê imposto anual de 2% sobre bilionários https://investnews.com.br/economia/proposta-encomendada-pelo-brasil-para-o-g20-preve-imposto-anual-de-2-sobre-bilionarios/ Tue, 25 Jun 2024 17:34:26 +0000 https://investnews.com.br/?p=594453 O economista francês Gabriel Zucman apresentou nesta terça-feira (25) a proposta de taxação mínima global sobre bilionários, que foi encomendada pelo Brasil para seu período na presidência do G20. A medida teria potencial de arrecadar até US$ 250 bilhões por ano, com cerca de 3 mil bilionários taxados.

A proposta, que será apresentada a ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais na reunião do G20 no Rio de Janeiro em julho, prevê uma cobrança anual de 2% sobre a fortuna total dessas pessoas.

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Zucman é diretor da instituição independente European Union Tax Observatory. Em fevereiro, a convite do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ele discursou a autoridades do G20, em São Paulo, sobre a importância de uma tributação progressiva global, com foco na cobrança sobre bilionários. Após o encontro, o governo brasileiro pediu ao economista que elaborasse um estudo para detalhar a viabilidade da proposta.

O novo plano é tratado por Zucman como uma proposta inicial para discussão das lideranças globais, e o economista apresenta também outras possibilidades, que mudariam o número de impactados e da arrecadação.

Em um cenário alternativo, o escopo da taxação poderia ser ampliado, atingindo não apenas pessoas com patrimônio superior a US$ 1 bilhão, mas aqueles com riqueza acima de US$ 100 milhões. Nesse caso, seriam adicionados até US$ 140 bilhões de ganho anual com a taxação.

“Os sistemas fiscais contemporâneos, em vez de serem progressivos, não tributam efetivamente os indivíduos mais ricos. Com todos os impostos incluídos, pessoas com patrimônio líquido ultraelevado tendem a pagar menos impostos relativamente ao seu rendimento do que outros grupos sociais”, disse no documento divulgado nesta terça. “Cooperação internacional é essencial para promover justiça fiscal”.

Zucman acredita ser possível implementar o imposto mínimo global sobre super-ricos, usando como inspiração o acordo firmado entre países em 2021 para criar uma taxação mínima sobre empresas multinacionais.

“Com base nos progressos recentes na cooperação fiscal internacional, essa norma comum tornou-se tecnicamente viável”, disse.

Zucman ressaltou que sua proposta não discute a forma como as receitas provenientes dessa taxação deveriam ser gastas. O tema gera divergências geopolíticas, com o Brasil, por exemplo, defendendo o aumento do fluxo de recursos para países em desenvolvimento, enquanto nações mais ricas rejeitam a ideia.

Segundo ele, a implementação seria feita de forma flexível por cada país, com cobranças sobre a renda ou o patrimônio. No entanto, o objetivo final seria garantir a cobrança anual equivalente a 2% do patrimônio, considerado mais fácil de medir do que os rendimentos.

“Os impostos só teriam de ser pagos pelos bilionários que ainda não pagam o equivalente a 2% da sua riqueza em imposto sobre rendimentos: apenas os indivíduos com um patrimônio líquido ultraelevado e pagamentos de impostos particularmente baixos seriam afetados”, argumentou.

Desafios

No documento, Zucman afirma que restam “dois desafios principais” para que o padrão global da tributação se torne uma realidade.

O primeiro ponto é a necessidade de fechar lacunas no intercâmbio internacional de informações e na identificação dos bens. Para ele, a solução passaria por um aprimoramento da prestação de dados sobre propriedade de ativos.

Ele argumentou que como a maior parte da riqueza dos bilionários deriva da posse de ações, a simples inclusão dessas informações em relatórios dos países, como a listagem de quem possui mais de 1% das ações de uma companhia, permitiria às autoridades identificar a maior parte da riqueza dessas pessoas.

A segunda dificuldade, para ele, diz respeito a fatores políticos que poderiam dificultar uma efetiva participação global no plano.

Ao afirmar que o relatório debate ideias para evitar que bilionários migrem para países não participantes do acordo, Zucman sugeriu a criação de um mecanismo similar ao previsto no caso das multinacionais, que autoriza os países a taxarem aqueles que estão sendo subtributados em outros locais.

Em entrevista à Reuters em maio, o economista afirmou que sua proposta deve angariar mais apoio com os esclarecimentos técnicos sendo compartilhados com os países do G20, expressando otimismo quanto ao possível apoio dos Estados Unidos à iniciativa.

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Brasil é nona maior economia do mundo, segundo projeções do FMI https://investnews.com.br/economia/brasil-e-nona-maior-economia-do-mundo-segundo-projecoes-do-fmi/ Tue, 19 Dec 2023 16:48:01 +0000 https://investnews.com.br/?p=543964 Os Estados Unidos, a China e a Alemanha são as maiores economias do mundo em 2023, de acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na projeção, o Brasil figura em nono lugar, com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em US$ 2,13 trilhões em 2023, ultrapassando o Canadá, com PIB previsto de US$ 2,12 trilhões.

Os dados são do relatórios mais recentes do World Economic Outlook (Perspectiva Econômica Mundial, na tradução). Em um contexto em que a economia global continua a se recuperar lentamente da crise provocada pela pandemia e da guerra na Ucrânia, a projeção que inflação global diminua de forma constante, de 8,7% em 2022 para 6,9% em 2023 e 5,8% em 2024, devido a uma “política monetária mais restritiva, auxiliada pelos preços internacionais mais baixos das matérias-primas”, segundo o FMI.

Rio de Janeiro (Foto: Imagem de Heiko Behn / Pixabay)
Rio de Janeiro (Foto: Imagem de Heiko Behn / Pixabay)

Veja as 20 maiores economias do mundo em 2023, segundo projeção do FMI:

1. Estados Unidos – US$ 26,95 trilhões

2. China – US$ 17,7 trilhões

3- Alemanha – US$ 4,43 trilhões

4. Japão – US$ 4,23 trilhões

5. Índia – US$ 3,73 trilhões

6. Reino Unido – US$ 3,33 trilhões

7. França – US$ 3,05 trilhões

8. Itália – US$ 2,19 trilhões

9. Brasil – US$ 2,13 trilhões

10. Canadá – US$ 2,12 trilhões

11. Rússia – US$1.86 trilhão

12. México – US$1.81 trilhão

13. Coreia do Sul – US$1.71 trilhão

14. Austrália – US$1.69 trilhão

15. Espanha – US$1.58 trilhão

16. Indonésia – US$1.42 trilhão

17. Turquia – US$1.15 trilhão

18. Holanda – US$1.09 trilhão

19. Arábia Saudita – US$1.07 trilhão

20. Suíça – US$ 905 bilhões

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Por que casais de Hong Kong não querem ter filhos – nem com dinheiro do governo https://investnews.com.br/economia/por-que-casais-de-hong-kong-nao-querem-ter-filhos-nem-recebendo-do-governo/ Fri, 27 Oct 2023 09:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=537693 Nem com o governo de Hong Kong oferecendo US$ 2.500 (cerca de R$ 12,4 mil) para cada recém nascido até 2026 casais aceitam ter um ou mais filhos. Isso por causa dos altos custos que envolvem a criação de uma criança.

Segundo o South China Morning Post, além da quantia em dinheiro, Hong Kong vai oferecer incentivos fiscais e acesso mais fácil à moradia subsidiada para combater a baixa natalidade, recorde na cidade, com 0,87 nascimentos por mulher – o que é bem abaixo dos 2,1 necessários para manter uma taxa considerada saudável, segundo o jornal chinês.

Por yavdat

Desde 1960 que a taxa vem caindo anualmente, de 5,14 nascimentos por mulher até chegar na faixa atual. Outros países também registram quedas de natalidade, mas alguns governos oferecem maiores incentivos, a exemplo de Singapura. O país disponibilizam o montante de US$ 8.036 para o primeiro e segundo filho. Para o terceiro, o valor é ainda maior: de US$ 9.497.

Alto custo de vida

Hong Kong é considerada a terceira cidade mais cara para para se morar, segundo relatório da gestora de fortunas Julius Baer, referente a 2023. O Índice classifica as 25 cidades mais caras do mundo, analisando propriedades residenciais, carros, voos de classe executiva, escola de negócios, jantares, entre outros. Singapura, por sua vez, é quem encabeça o ranking.

E é devido ao alto custo de vida que os moradores de Hong Kong acreditam que a medida do governo não é suficiente para cobrir os gastos de se ter um filho.

Segundo a plataforma Numbeo, que aponta os diferentes custos de vida pelo mundo, uma mensalidade privada de creche ou de escola do jardim de infância, para um dia inteiro para uma criança, sai em média 6.130 dólares de Hong Kong, ou, US$ 784 (cerca de R$ 3.911). Já a mensalidade de uma escola primária internacional não sai por menos de 13.545 dólares de Hong Kong, ou, US$ 1.732 (R$ 8.641).

Mas o cálculo acima não contempla custos com moradia, transporte, alimentação, vestuário, saúde e lazer.

Hong Kong – Por dibrova

Um dos entrevistados da mídia chinesa apontou que o auxílio oferecido cobre apenas três meses do que paga na creche de seu filho de dois anos. Se fosse considerar uma babá, o valor pagaria apenas um mês e meio do serviço.

Pesquisa da think tank “Youth Ideas” publicada em 2018 apontou que mais de 70% dos entrevistados entre 20 e 35 anos disseram que não estavam interessados em ter um bebê devido ao alto custo, sendo que mais de 50% identificaram a habitação como o maior impedimento.

Hong Kong é o terceiro lugar do mundo com a menor taxa de fecundidade, segundo o Banco Mundial, e fica atrás apenas da Coreia do Sul e de Singapura. Nos últimos 30 anos, os nascimentos estão em queda, mesmo com a região tendo ficado de fora da política chinesa do filho único.

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Bitcoin pode sair mais forte do cenário macro desafiador https://investnews.com.br/colunistas/bitcoin-pode-sair-mais-forte-do-cenario-macro-desafiador/ Thu, 13 Apr 2023 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=462766 Desde o início de 2022, o bitcoin (BTC) e o mercado cripto encaram uma verdadeira “prova de fogo”.

Isso porque, até o ano passado, as condições macroeconômicas eram favoráveis para uma classe de ativos de alto risco. Principalmente depois de 2010, com taxas de juros próximas de 0%, crescimento do PIB global acima de 2,5% e inflação controlada nas principais economias, não faltava liquidez para a diversificação em ativos com alto potencial.

A pandemia pôs um primeiro desafio nessa trajetória. Entre fevereiro e março de 2020, com as evidências do impacto que seria imposto pela covid-19, os criptoativos seguiram o mercado de ações numa sequência de quedas impressionantes – nos 30 dias até 13 de março, a capitalização de cripto decaiu mais de 50%.

Mas a crise global ainda seria adiada, principalmente com a emissão monetária empenhada nos Estados Unidos e na Europa. Grande parte da liquidez oferecida seria aplicada no mercado financeiro, oferecendo novo fôlego aos mercados de risco – não à toa, cripto e as bolsas não só se recuperaram rápido como alcançariam máximas históricas em 2021.

Foi em 2022 que a conta, de fato, chegou. Com o estouro da guerra da Ucrânia em fevereiro; a progressão na taxa de juros norte-americana a partir de março; e o recrudescimento das disputas econômicas entre EUA e China, com implicações inéditas no comércio e no padrão monetário mundial, ficou clara a transição para um novo ciclo econômico.

E é neste cenário que cripto, hoje, realiza muitas promessas dos seus idealizadores. Veremos, a seguir, o porquê da instabilidade econômica e do enfraquecimento do dólar serem, na verdade, grandes oportunidades para cripto e suas tecnologias.

O bitcoin na guerra da Ucrânia

Notas de rublo russo ao lado de representações de bitcoin (01/03/2022 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração).

A guerra da Ucrânia trouxe algumas validações importantes para o uso do bitcoin.

Para começar, centenas de milhões de dólares em BTC e outros criptoativos foram doados para apoiar a resistência à invasão. Nesse ínterim, as blockchains demonstraram o potencial do seu caráter transfronteiriço, permitindo transações mais rápidas, baratas e verificáveis em tempo real.

Também foi recorrendo à criptomoeda que muitos refugiados ucranianos conseguiram conservar seu patrimônio. As negociações online (24 horas por dia e 7 dias por semana), independentes de fronteiras permitiram a conversão da sua riqueza para uma moeda que pudesse ser aceita ou convertida em praticamente qualquer país de destino.

Muitos russos também aderiram a esse uso, é verdade. Mas, aqui, o frequentemente esquecido elemento “pseudo” do pseudoanonimato das blockchains mostrou o seu valor. Para impedir que as oligarquias locais contornassem as sanções internacionais à Rússia, os bitcoins que passaram pelas exchanges do país foram rejeitados por diversas instituições do mundo cripto – e, até, por muitos protocolos descentralizados.

O bitcoin na guerra das moedas

Excluída do mercado internacional e com fortes restrições no sistema financeiro, a Rússia ampliou seus laços comerciais com a China para superar o baque econômico.

O novo alinhamento político se refletiu nas reservas russas, que, pelo menos desde 2019, já vinham trocando posições em dólar por euro, yuan e ouro. Mais recentemente, o banco central russo ainda despejou seu estoque em moeda europeia para mitigar a sua exposição ao Ocidente.

O cenário é perfeito para a China, que tem aproveitado cada oportunidade de questionar a hegemonia do dólar. Em um tratado do mês passado, por exemplo, a potência oriental estabeleceu que não haverá mais conversão para dólar nas transações bilaterais com o Brasil.

E outros países veem com bons olhos o enfraquecimento da moeda estadunidense. Índia, Emirados Árabes e Arábia Saudita são algumas das nações buscando alternativas para a precificação de petróleo e gás em dólar, enquanto os BRICS (acrônimo para as cinco principais economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estudam a criação de uma moeda própria.

Mas e o bitcoin nesse meio? A criptomoeda pode parecer pequena nessa briga, dada a sua capitalização de “apenas” US$ 500 bilhões. Mas o BTC não precisa substituir o dólar para mudar de patamar.

O uso em transações internacionais não exigiria mudanças drásticas no comércio para trazer grandes avanços para o bitcoin. Os exportadores que aceitassem pagamentos na criptomoeda seriam incentivados a manter parte da sua riqueza em BTC, o que, por sua vez, significa um estímulo a também vender por BTC.

A exposição ao bitcoin via comércio exterior também abriria caminho para o investimento dos Bancos Centrais (BCs) – já que, para proteger suas balanças comerciais, os exportadores líquidos de BTC precisariam garantir a sua capacidade de compra dos produtos que importam.

E essa seria, sem dúvidas, a conquista mais importante da história do bitcoin: o status de moeda de reserva.

Aqui, claro, caberia uma pergunta: se a chave das disputas monetárias é o uso para transações e reservas, por que um governante trocaria o dólar por uma moeda que ele também não controla?

A resposta, sem paralelo no universo das moedas estatais, é o fato de o bitcoin não ser controlado por ninguém. Substituindo as cotações em dólar por preços denominados em euro ou yuan, por exemplo, um exportador de petróleo ainda está sujeito à política monetária de algum BC.

Mas chega de hipóteses. Vamos ver por que o hedge para inflação é um campo de batalha importante para a principal criptomoeda – e como ela está se saindo.

O bitcoin na guerra à inflação

Para calar os críticos da tese de ativo de reserva, o bitcoin precisa provar que o seu valor resiste à inflação.

Essa tese sofreu duros ataques desde a pandemia. Tendo se tornado mais correlacionado às ações do que nunca, o bitcoin agiu de acordo com a tese de investimento mais geral de cripto: a de ativo arriscado com alto potencial de valorização, andando em desalinho com as escaladas dos preços.

Mas o cenário, hoje, parece estar mudando. Os últimos anos marcaram a entrada de grandes investidores institucionais no bitcoin – incluindo fundos de pensão e outros agentes interessados na tese de longo prazo.

O horizonte temporal desses investimentos, a decrescente importância do varejo e o aumento da clareza regulatória em torno do bitcoin tendem a favorecer um comportamento mais estável na evolução de preços, gerando ainda mais incentivo para o uso como reserva.

A cripto hoje

O bitcoin enfrenta, hoje, desafios que dificilmente teriam sido imaginados em 2008. Na virada de ciclo econômico, com tensão geopolítica crescente e o fantasma da estagflação, a criptomoeda pode finalmente provar que não é mais um ativo de risco.

Para isso, conta com um histórico de solidez tecnológica e crescimento resiliente; com a validação de investidores e instituições do mundo todo; e com o crescimento de um ecossistema cripto cada vez mais maduro.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

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Chefe do Banco Mundial eleva previsão de crescimento global para 2023 https://investnews.com.br/economia/chefe-do-banco-mundial-eleva-previsao-de-crescimento-global-para-2023/ Mon, 10 Apr 2023 14:32:31 +0000 https://investnews.com.br/?p=462408 O presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse nesta segunda-feira (10) que a instituição revisou ligeiramente sua perspectiva de crescimento global em 2023 para 2%, contra previsão de janeiro de 1,7%.

Ele alertou, no entanto, que a desaceleração do crescimento mais forte em 2022 ainda deve aumentar o endividamento dos países em desenvolvimento.

Malpass disse à imprensa que a revisão para cima se deveu a uma perspectiva melhor para a recuperação da China dos bloqueios contra a covid-19, com o crescimento agora estimado em 5,1% para este ano, contra 4,3% em janeiro.

As economias avançadas, incluindo os Estados Unidos, também estão se saindo um pouco melhor do que o Banco Mundial previu em janeiro.

Mas o chefe do Banco Mundial alertou que a turbulência no setor bancário e os preços mais altos do petróleo podem pressionar novamente para baixo as perspectivas de crescimento ainda este ano. Uma incompatibilidade de vencimento de ativos bancários levará algum tempo para ser resolvida e os bancos provavelmente retirarão o crédito.

Malpass disse que as reuniões técnicas esta semana com as autoridades chinesas podem ajudar a “quebrar o gelo” sobre o movimento potencial para o tão necessário alívio da dívida dos países pobres.

Ele afirmou que a China também será capaz de marcar alguns pontos políticos a um custo bastante baixo para suas instituições de crédito.

“Do ponto de vista de suas instituições, não é uma quantia tão grande”, disse Malpass. “É benéfico para a China fazer esse movimento” tanto do ponto de vista econômico quanto político.

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