ESG – Environmental Social and Governance – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Mon, 24 Jun 2024 18:05:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico ESG – Environmental Social and Governance – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 BB Asset busca parcerias para alcançar R$ 2 trilhões em ativos https://investnews.com.br/financas/bb-asset-busca-parcerias-para-alcancar-r-2-trilhoes-em-ativos/ Thu, 06 Jun 2024 16:04:12 +0000 https://investnews.com.br/?p=586017 A maior gestora de fundos do Brasil está à procura de parceiros para expandir o negócio de investimentos alternativos e atingir a marca de R$ 2 bilhões em ativos sob gestão.

A estratégia para a BB Asset Management, a divisão de gestão de recursos de terceiros do Banco do Brasil, vai na contramão do que se pretendia anteriormente. O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a colocar a BB Asset à venda, mas não concluiu o processo antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir o cargo no ano passado e descartar a ideia.

“Não há essa expectativa de venda, pelo contrário: a gente quer fortalecer pilares que a gestora tem a partir de parcerias estratégicas com empresas que tenham de forma definitiva maior tecnicidade possível e sejam líderes em seus segmentos de atuação”, disse o presidente da BB Asset, Denísio Liberato, em entrevista em São Paulo.

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Com R$ 1,6 trilhão sob gestão em cerca de 1.200 fundos, a BB Asset está em expansão – inclusive por meio de joint-ventures – em uma estratégia desenhada por Liberato, o primeiro presidente negro da gestora. A BB Asset possui clientes em todo o Brasil, incluindo pessoas físicas, empresas e municípios, e vem tentando acelerar sua expansão e criar mais fundos alternativos desde que Liberato assumiu o posto, em julho do ano passado.

CEO Denisio Liberato

A gestora já se associou à Iguatemi, empresa que opera shopping centers, para lançar seu primeiro fundo imobiliário que investe nesses estabelecimentos. A BB Asset também criou uma joint-venture para fundos ESG com a JGP, gestora com sede no Rio de Janeiro.

Liberato disse que a BB Asset está em negociações com outras gestoras para novas parcerias e em busca de oportunidades de aquisição de participações, mas não deu nomes. O total de ativos sob gestão na indústria de fundos no Brasil aumentou para R$ 6,13 trilhões em abril, um crescimento de 12% na comparação com o mesmo mês de 2023, segundo dados compilados pela Anbima.

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, incluiu a BB Asset em seu projeto de estímulo à diversidade e escolheu como seu presidente Liberato, que então atuava como diretor de investimentos da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

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‘Família humilde’

Nascido em Minas Gerais, Liberato disse que veio de uma “família humilde” e conseguiu cursar o ensino médio em uma escola particular de melhor qualidade por causa de uma bolsa de estudos que obteve por causa do futebol. A decisão de estudar economia foi uma questão de “pragmatismo”, segundo ele: a faculdade que frequentou era gratuita e perto de sua casa, e a disputa pelas vagas no curso era menor do que para outras graduações.

Liberato iniciou sua carreira no Banco do Brasil em abril de 2002, mas saiu do banco cerca de 11 anos depois para um cargo no Ministério da Fazenda. Ele voltou ao BB em 2015 para depois de cerca de 5 anos ingressar na Previ, e depois voltou ao banco em julho de 2023.

Ao entrar na BB Asset, ele decidiu que a gestora deveria ter como prioridade ajudar o Brasil a cumprir sua agenda de financiamento verde. Em janeiro, assinou uma parceria com a JGP para criar uma gestora “com potencial para ser a líder do Sul Global em finanças sustentáveis”, disse Liberato.

O Banco do Brasil é o principal banco do agronegócio no Brasil, com possibilidade de gerar muitos ativos de crédito verde, enquanto a JGP tem capacidade técnica para ajudar a construir fundos de crédito ESG, disse Liberato.

O primeiro fundo de crédito privado ESG, chamado Equilíbrio, é um veículo estruturado que captou um total de R$ 600 milhões em apenas um mês. A JGP detém a maior parte da joint-venture ESG e a meta é atingir R$ 20 bilhões em ativos sob gestão até 2028.

A receita do Banco do Brasil com administração de fundos alcançou R$ 2,2 bilhões no primeiro trimestre, um aumento de 5,8% em relação ao mesmo período de 2023, segundo o resultado trimestral do banco. Isso representou 25% da receita de serviços do banco.

O BBIG11, fundo imobiliário lançado em maio com a Iguatemi como consultora, já levantou R$ 1 bilhão, atraindo pessoas físicas em busca de novos investimentos depois que os fundos exclusivos dedicados a elas perderam seus incentivos fiscais.

“Esses investidores virão atrás de nós em busca de produtos mais sofisticados e queremos ter alternativas para oferecer”, disse Liberato.

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Imóveis mundiais perderão 9% do seu valor por conta de tragédias climáticas  https://investnews.com.br/colunistas/imoveis-mundiais-perderao-9-do-seu-valor-por-conta-de-tragedias-climaticas/ Thu, 06 Jun 2024 14:18:54 +0000 https://investnews.com.br/?p=585953 Em 1972, a ONU – Organização das Nações Unidas – reuniu pela primeira vez 113 países e 400 delegações governamentais e não governamentais para discutir o cuidado com o meio ambiente na Conferência de Estocolmo na Suécia. 

Nesse conclave, foi decretado o Dia do Meio Ambiente, dia 5 de junho, marcado pela data de início da conferência. Mas não se trata de um evento celebrativo anual, serve como um alerta sobre o cuidado que todos devem ter com a natureza, uma vez que a vida humana é dependente dela.

Seguindo a mesma linha, resolvi nessa coluna também apresentar alguns alertas diante dos impactos do meio ambiente em nossas vidas, recentemente, dragadas por tragédias como no Rio Grande do Sul que deveriam ser evitadas, utilizando como fio condutor os impactos do aquecimento global no ativo imobiliário, o mais valioso no mercado financeiro mundial.

Segundo a revista The Economist o valor de 1 a cada 10 imóveis no mundo será impactado pelo aquecimento global. Em números, a publicação estima que as alterações climáticas podem eliminar 9% do valor dos imóveis mundialmente até 2050, US$ 25 trilhões perdidos em pouco mais de 25 anos. 

Se você dúvida do tamanho dessa perda, pense na redução do valor dos ativos imobiliários depois da tragédia no Rio Grande do Sul. O impacto está começando a ser dimensionado agora, com extensão para toda a cadeia de valor do setor. 

Porto Alegre na sexta (3). Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Primeiro alerta: se preparem para essa perda, ela será inevitável. Diante disso, se você é investidor do mercado imobiliário, revise a sua estratégia.

O sul do país está vivenciando uma catástrofe nunca vista, com bancos e gestoras discutindo as perdas e qual o valor real das cotas de seus fundos imobiliários. Incorporadoras imobiliárias terão que fazer o mesmo exercício e rever o valor dos imóveis a serem vendidos diante do grau de risco de eventos similares voltarem a acontecer na mesma região. Realidade bem dura para o setor, mas que terá que ser enfrentada.

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Hoje, podemos afirmar categoricamente que o setor não precifica as questões climáticas nos valores dos imóveis, muito menos na cota dos fundos imobiliários e de outros ativos financeiros relacionados. Porém, isso era compreensível até o momento. No entanto, a partir de agora, não é mais. Com a tragédia no sul do país veio a necessidade obrigatória de inclusão na matriz de risco de todos os agentes dessa cadeia dos riscos climáticos, ambientais e sociais.

A inclusão desses riscos nas matrizes dos bancos, seguradoras e demais instituições financeiras já está prevista nas regulações do Conselho Monetário Nacional e das demais autarquias como Banco Central e SUSEP desde 2021. Ou seja, agora é colocar realmente em prática e mostrar para os investidores que o preço já está incorporando os riscos climáticos que aquele imóvel pode incorrer.

É óbvio que a ANBIMA, entidade que rege os fundos de investimentos, exigirá que os fundos imobiliários apresentem informações bem detalhadas das perdas e dos riscos futuros aos investidores das questões ambientais e climáticas. Principalmente, dos fundos que possuem forte exposição à imóveis nas regiões mais afetadas.

Segundo alerta: de agora em diante, quando comprarmos um imóvel ou a cota de um fundo imobiliário, temos que verificar qual o grau de exposição à riscos climáticos e se o valor das cotas está refletindo o real valor dos imóveis. Não esqueçam que estamos falando de um ativo que historicamente em momentos de crise possuem perda de valor. 

Último alerta: quem vai pagar por todo esse prejuízo? Aguardemos para ver, é um mundo novo em que nem mesmo o valor do ativo mais valioso para os investidores está fora da guerra climática que estamos enfrentando.

Alexandre Furtado é Sócio da Grant Thornton, Membro do Conselho do Centro de Pesquisa Aplicada em Contabilidade e Análise de Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Presidente da Comissão de Créditos de Carbono da ABCarb e Colaborador do Comitê de ESG do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP).

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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A boiada passa, chega a conta e fica a pergunta: quem vai pagar?  https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/a-boiada-passa-chega-a-conta-e-fica-a-pergunta-quem-vai-pagar/ Mon, 03 Jun 2024 20:35:24 +0000 https://investnews.com.br/?p=584598 É famosa a frase do então Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles sobre mudanças na legislação ambiental, sob o viés de um governo negacionista, dita numa reunião ministerial em 2020: “Ir passando a boiada”.

O neoliberalismo forjou tragédias possivelmente evitáveis em vários lugares do mundo e estamos acompanhando, em tempo real, o que acontece no Rio Grande do Sul, infelizmente em proporções inéditas e gigantescas naquela região. Não há, ainda, como calcular as perdas. Pode ser que se mostre incalculável se pensarmos na dimensão humana, nas milhares de pessoas que agora estão na condição de desalojadas, refugiadas climáticas, em luto. 

A comoção é algo esperado nessas situações, assim como a mobilização popular, já tradicional nessas grandes tragédias, que costuma fazer doações, gerar e consumir conteúdo tanto em mídias tradicionais como, mais recentemente, digitais.

Enquanto as chuvas caem no Rio Grande do Sul, uma enchente solidária transborda todo tipo de ajuda até o estado. Vale lembrar que em outros desastres ambientais, a comoção, a depender da população atingida, não é tão visível e audível como tem sido no Sul, a exemplo de Mariana e Brumadinho. Quais seriam os motivos? 

O território gaúcho devastado pelas águas abriga uma população que foi, inicialmente, vulnerabilizada de forma horizontal. No entanto, pontuamos que comunidades quilombolas e tradicionais, espaços religiosos de matrizes africanas, ribeirinhos, e outras populações, principalmente as que têm conexão diferenciadas com seus territórios – e que, muitas vezes – já estavam enfrentando outras precariedades socioeconômicas – são populações que se tornam ainda mais expostas ao racismo ambiental, logo, são mais passíveis de injustiças climáticas.

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Os efeitos da passagem da boiada e a identificação de quem abriu a porteira podem até ficar em segundo plano, inicialmente. Mas, conforme as águas baixam, os destroços e omissões se tornam mais visíveis.

Em 21 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ao governo do Rio Grande do Sul e à Assembleia Legislativa gaúcha 10 dias para se pronunciar sobre as mudanças na legislação ambiental que começaram em 2019 e, na sequência, o plenário do STF decidirá se a alteração é constitucional ou não. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União indica a necessidade de inspeção das mudanças legislativas pela Corte. O subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado se pronunciou: “Legislações ambientais não podem ser afrouxadas em prol de supostos benefícios econômicos. De certo, as exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul estavam em alta devido às mudanças legislativas. Contudo, qual preço disso tudo?”.

O argumento “achar culpados e culpadas não trará vidas, patrimônios e negócios de volta” não apenas é insustentável, como desonesto e imprudente. A apuração de responsabilidades é um imperativo da gestão pública. À questão da legislação, soma-se a corrida imobiliária – com apoio da gestão neoliberal – e a falta de manutenção, renovação e ação imediata do sistema de escoamento em algumas cidades, como Porto Alegre. 

Foto: Carlos Macedo/Bloomberg

PEC das Praias

No contexto de impactos ao meio ambiente está a PEC das Praias (PEC 3/2022), de autoria do ex-deputado federal Arnaldo Jordy (Cidadania-PA), que atualmente tramita no Senado Federal e, nessa casa, tem como relator o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Essa PEC prevê a transferência de propriedade de terrenos do litoral brasileiro da marinha brasileira (União) para estados, municípios e proprietários privados.

Na visão de Ana Ilda Pavão, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, o teor dessa PEC, no fundo, é a urbanização das orlas e os grandes empreendimentos. “Quem vai lucrar? Não somos nós. Nós só vamos perder. Essa PEC precisa ser revista. Muito tem se falado aqui, mas se esqueceram de falar da vida”, disse.

Ao promover a dilapidação de uma legislação regulatória em relação ao meio ambiente para beneficiar segmentos econômicos, como, o setor imobiliário e do agronegócio, o estado agrícola planta “progresso” para colher não se sabe exatamente o quê. Além disso, mostra-se imprudente ao lidar com mudanças climáticas como fenômenos da natureza, desconsiderando a ação humana. Afinal, a boiada que passa não é exatamente constituída de animais, mas de seres humanos e suas ações metaforizadas na fala infeliz do ex-Ministro Salles.

No momento anterior às enchentes, lucros. Mas e agora que o estado chegou a estar com 85% do seu território sob as águas? Um neoliberalismo que se ampara ideológica e politicamente no negacionismo pode ser chamado de burro, nesse contexto? Não prevenir para lucrar é inteligente em que lugar do mundo?

São perguntas difíceis que requerem respostas urgentes, assim como mudanças de paradigma e, possivelmente, nova revisão legislativa. Ainda no campo dos questionamentos difíceis, como uma gestão de viés neoliberal vai receber a ajuda do estado, já que que prega o “estado mínimo”? O “como” aqui é estratégico porque não tem muita opção. Vai ter que receber ou não vai haver reconstrução ágil e/ou viável, revelando mais um paradoxo dessa grande tragédia brasileira.

Outro ponto que precisamos destacar é que essa “boiada” passou no Sul, mas seus efeitos serão sentidos, economicamente, em todo o país. Recursos que seriam usados em outras regiões vão precisar ser realocados para mitigar os impactos no estado. O comércio exterior brasileiro sentirá os efeitos, pois o Rio Grande do Sul – só em 2023 – chegou a US$ 22,3 bilhões em exportações, um volume que impacta a economia nacional, assim como uma eventual perda de parte do montante.

Na perspectiva da agenda ESG, é o momento de redirecionar as atividades produtivas no estado a partir de bases sustentáveis, pois não são fenômenos episódicos, são recorrentes. Para que as populações e cadeias produtivas do Rio Grande do Sul não voltem a ser atingidas vai ser preciso renegar o negacionismo, tornando a gestão ambiental e de recursos hídricos basilares no planejamento. Ou seja: priorizar as políticas públicas considerando as mudanças climáticas para evitar prejuízos humanos e materiais descomunais.

Além disso, é preciso que a população se envolva na mudança, identificando representantes que tenham compromisso com as questões climáticas. Também é necessário que as empresas assimilem que as tragédias destroem negócios e atingem lucros. As mudanças climáticas não são algo do futuro e o presente do Rio Grande do Sul é a prova para quem desacreditava. Nessa linha, o atual Governo Federal empenha-se em mobilizar todos os segmentos da sociedade para garantir participação social e contribuir com a elaboração do Plano Clima Adaptação, uma política que vai elaborar a estratégia federal de adaptação à mudança do clima. 

Como disse a Nina Silva em suas redes sociais, para finalizar nossa reflexão, é preciso – a partir do compromisso com uma abordagem ESG – assumir que “estamos reconhecendo a interdependência entre as ações humanas e o meio ambiente, e assumindo a responsabilidade de proteger não apenas os lucros ou a reputação das empresas, mas também as vidas e os meios de subsistência das pessoas afetadas. Nesse sentido, a integração desses princípios é um imperativo moral que coloca as necessidades socioambientais no centro das decisões e ações empresariais e governamentais. Estamos falando sobre vidas.”

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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Cadeia produtiva é pilar para estabelecer círculo virtuoso da agenda ESG https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/cadeia-produtiva-e-pilar-para-estabelecer-circulo-virtuoso-da-agenda-esg/ Fri, 24 May 2024 18:18:25 +0000 https://investnews.com.br/?p=576107 A noção de que a cadeia produtiva é estratégica quando estamos tratando da Agenda ESG tem crescido e dado frutos. Ao consolidar relações com fornecedores bem avaliados, além de continuamente monitorados, uma corporação protege seus investimentos e sua imagem ao mesmo tempo. Portanto, para assegurar e avançar na mitigação de riscos em relação à Agenda ESG, esses são alguns fatores a considerar seriamente. 

Em vez da palavra desconfiança, que tem emergido nesse cenário, usar criteriosamente a prática da confiança – ou seja, criar e utilizar marcos de aferição para balizar decisões em relação à cadeia produtiva. Essa é uma diretriz estratégica a ser alcançada e mantida.

Significa produzir confiança, por meios objetivos, de que um fornecedor está alinhado à agenda ESG. 

Parece óbvio, mas sabemos que nem sempre esse alinhamento é o principal critério num mundo em que redução de custos e aumento dos lucros são as linhas hegemônicas de atuação. No entanto, também verificamos: à medida que as pautas ligadas à sustentabilidade ganham notoriedade e espaço, também circulam imagens e discursos que nem sempre correspondem à realidade.

Os excessos e distorções discursivas criam bolhas de desconfiança em torno da agenda ESG, como tratamos nesta coluna recentemente. Como combater esses excessos? Um caminho que podemos vislumbrar e pavimentar é o da construção da confiança e internalização das práticas, dando robustez quando se trata de governança.

Nessa mesma linha, é oportuno implementar os meios para monitorar de forma contínua, desde antes das contratações, cada etapa dos processos produtivos e elos da cadeia de suprimentos. Essa construção interna de confiança, capilarizada para cada ponto da cadeia, é a meta para a solidez que vai perpassar um discurso que se sustenta.

A blindagem da cadeia produtiva por meio de objetividade na prestação de contas; cultura organizacional baseada na equidade, mecanismos de transparência efetivos para tornar informações relevantes disponíveis e acessíveis. Tudo isso devidamente contemplado nas metas evita impactos negativos.

Temos exemplos de como a expansão e a capilarização de boas práticas é necessária. Uma reportagem publicada no Estadão (18/03), por exemplo, mostra como grandes empresas brasileiras se movimentam para garantir a expansão de boas práticas também para os seus fornecedores.

A reportagem traz dados e declarações de Vale, Klabin, Gerdau e Suzano, que demonstram como essas corporações estão apostando, por exemplo, na criação de treinamentos para aprimorar seus fornecedores nesse sentido.

É relevante observar que as motivações são pragmáticas, objetivas. Trata-se de ampliar a receptividade no mercado externo, em especial, a Europa, além de evitar multas e outros embargos em operações internacionais.

A reportagem também destaca que as boas práticas em toda a cadeia podem facilitar acesso a taxas de juros melhores, prazos mais extensos, assim como acesso a linhas de crédito específicas, por exemplo, para programas de sustentabilidade ambiental.

A Gerdau tem um conjunto de iniciativas, informadas na reportagem, que abrange muitos pontos da pauta ESG de forma objetiva para sua cadeia de fornecedores, por meio do Programa Inspire. Desde 2022, a companhia estabeleceu novas cláusulas ESG para contratações a serem feitas no Brasil.

Além disso, há incentivo para que a pauta seja parte da agenda desses fornecedores, para que seja criado programa ou política de diversidade, equidade salarial, para que haja atuação na contratação e retenção de pessoas negras, mulheres, pessoas com deficiência e LGBTI+.

Outro exemplo é a Vale, que lançou em 2020 o programa Partilhar, por meio do qual a companhia tem  incentivado a cadeia de fornecedores para que contribua com o desenvolvimento sustentável das regiões onde atua. Mais de 280 fornecedores da mineradora aderiram ao programa.

*As opiniões dos colunistas não representam necessariamente a posição do InvestNews

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Desastres climáticos: a função social das empresas e o novo papel do investidor https://investnews.com.br/colunistas/desastres-climaticos-a-nova-funcao-social-das-empresas-e-o-novo-papel-do-investidor/ Fri, 24 May 2024 16:21:20 +0000 https://investnews.com.br/?p=581455 Diante de toda tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, considerado um dos maiores desastres climáticos já ocorridos em terras sul americanas e – conforme noticiado aqui no InvestNews – gerando um impacto negativo econômico para o estado em mais de R$ 12 bilhões, os investidores também começam a revisar suas estratégias nas empresas atingidas.

Mas agora a revisão das carteiras possui também um novo propósito. Não é mais apenas avaliar as perdas financeiras e econômicas das empresas, mas também checar como elas estão planejando e executando sua participação no reerguimento do estado. 

O investidor hoje já tem conhecimento de que empresas de diversos setores estão paradas e que ele sofrerá com essas perdas. No entanto, ele sabe seu novo papel e tem a correta compreensão da necessidade de uso do capital investido para a recuperação das empresas e de toda a sociedade gaúcha.

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Esse novo movimento tem muito a ver com o título desta coluna, “Salve o mundo e lucre”, já que até há pouco tempo os investidores só gostariam de saber da segunda parte. De certa forma, muda-se a própria função social da empresa, que no pensamento econômico clássico tinha somente o papel de lucrar.

Sim, o mundo está realmente mudando diante do enfrentamento dessa guerra climática. O lucro é muitas vezes deixado de lado, como no caso das empresas gaúchas que neste momento têm como objetivo central a reconstrução do estado.

Porto Alegre – Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

E o papel do investidor também está mudando. Ele também quer saber como contribuir. Quer fazer parte desse contexto de recuperação e vai olhar bem atentamente para investimentos em empresas que hoje persegue esse propósito.

Em palestra recente que tive a oportunidade de participar feita pelo Presidente da CVM, João Pedro Nascimento, sobre as novas normas de sustentabilidade mundial que a entidade colocou em audiência pública, ouvi dele o seguinte comentário: “A função social das companhias abertas mudou com o ESG e a sustentabilidade. Agora o investidor precisa acreditar que a empresa está gerando valor adicionado ainda maior para a sociedade”.

Agora é ver para crer. Principalmente, para saber até que ponto os investidores de fato entrarão nessa briga para salvar o mundo.

Alexandre Furtado é Sócio da Grant Thornton, Membro do Conselho do Centro de Pesquisa Aplicada em Contabilidade e Análise de Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Presidente da Comissão de Créditos de Carbono da ABCarb e Colaborador do Comitê de ESG do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP).

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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A transparência precisa ser o elemento central quando se trata de agenda ESG https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/a-transparencia-precisa-ser-o-elemento-central-quando-se-trata-de-agenda-esg/ Fri, 03 May 2024 21:33:25 +0000 https://investnews.com.br/?p=576103 As  práticas requeridas pela sigla ESG, com todas as letras que a compõem, assim como o devido monitoramento de resultados qualitativos e quantitativos correspondentes, formam um conjunto que precisa estar centralizado e baseado em medidas de transparência.

Muitos sinais de alerta para a crise em torno da agenda ESG, principalmente fora do Brasil, vêm a partir de questionamentos relacionados com transparência. 

Embora a sigla tenha atravessado os últimos anos em alta, mesmo sem dispor coletivamente de parâmetros comuns para aferição de resultados, chegou o momento em que a falta de unidade de critérios de avaliação afeta o viés de crescimento da Agenda ESG, representando um cenário de inflexão – seja pela não-universalidade das métricas, a realidade mais comum, ou pela ausência de índices públicos para norteá-las.

Além disso, emergem debates sobre a politização de temas da pauta ESG. Esse processo constante de discussão a partir de um prisma político é um fator que já afasta segmentos do mercado e coloca em foco algumas fragilidades.

Vale ressaltar que, no primeiro semestre de 2022, o mercado de investimentos começou a ser impactado por um relatório de engajamento da BlackRock, a maior gestora de fundos do planeta, que anunciou a redução de apoio para propostas apresentadas por empresas em temas da pauta ESG, especialmente em relação ao pilar Ambiental. 

A repercussão prossegue. Até 2022, Larry Fink, CEO da BlackRock, sinalizava para critérios de alinhamento e adesão a tratativas ambientais, sociais e de governança como necessários para seus investimentos. Esse recálculo de rota, que está ainda mais consolidado um ano depois, vem na afirmação do mesmo CEO, já em meados de 2023, sobre abandonar o uso do termo ESG, sob a justificativa de que há “politização do tema”.

Sabemos bem que o problema não é o termo ou seu uso, mas a suspeição que se coloca sobre resultados, métricas utilizadas, a falta de transparência na escolha e aplicação de critérios de mensuração.

A própria Black Rock reforça que deixar de usar o termo não significa o abandono total dos critérios anteriores, pois afirma que a “gestora continuará conversando com as empresas nas quais têm participação sobre descarbonização, governança corporativa e questões sociais a serem abordadas”. 

Nos últimos meses, em termos de desempenho, se apresentam dados negativos. Efetivamente, os investimentos em fundos ESG estão recuando nos Estados Unidos, conforme constata numa reportagem da CNN americana, republicada no site da sucursal brasileira, em 23 de outubro de 2023.

“Nos EUA, os ativos sob gestão em fundos ESG diminuíram de US$ 339 bilhões (cerca de R$ 1,706 trilhão) no segundo trimestre para US$ 315 bilhões (R$ 1,585 trilhão) no final de setembro”, diz a publicação.

Nessa mesma matéria, Robert Jenkins, chefe global de pesquisa da Lipper (uma fornecedora de dados financeiros) também contesta o uso do termo, além de revelar o declínio de fluxos e ativos sob gestão, em relação ao investimento em ESG. Novamente é reforçada a visão de que o conceito não funciona, as medições não são relevantes para análise em relação aos investimentos e o que deve predominar é “pensar no investimento responsável em um sentido mais amplo.”

A inflexão traz os sinais de crise e justificativas de que a “politização” do termo ESG está no contexto identificado como ativismo. Desse modo, aparecem alertas de narrativas estarem se sobrepondo às realidades, tanto no que diz respeito ao bom desempenho e consequente valorização e lucratividade, quanto aos reais valores agregados nos processos, aos concretos impactos sociais, ambientais e de governança obtidos. 

A questão também passa pelas denúncias de “greenwashing” para aumentar classificações ESG em divulgações públicas e, novamente, fica explícito que é preciso implementar e /ou reorientar as ações a partir da transparência. Além dessa dimensão que deveria ser transversal, a transparência também traz credibilidade, revela eficiência e compromisso.

Além da transparência de resultados, cada vez mais cresce o debate sobre índices, métricas, meios de medição e aferição que sejam universalizáveis. Ao final, poder recorrer a ferramentas que já foram testadas, além de avaliar a aplicação para resolver questões semelhantes, pode ajudar a termos resultados que possam ser comparados.

Certamente, a partir de critérios similares deve ser possível (e torna-se imprescindível) compartilhar o que é realizado, o quanto a empresa é bem-sucedida ou não, para que caminhos similares possam ser seguidos. E para que se alcancem metas confiáveis, responsáveis em todas as três letras: E, S e G

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Meta de crescimento do PIB chinês está atrelada à economia verde https://investnews.com.br/colunistas/crescimento-do-pib-chines-esta-atrelado-a-economia-verde/ Thu, 02 May 2024 15:18:36 +0000 https://investnews.com.br/?p=575997 Os meses de março e abril foram marcados na economia mundial por uma dicotomia da atuação dos bancos centrais entre a escolha de manter taxas de juros altas para combater a inflação ou reduzi-las para estimular o crescimento. Na China, o cenário é diferente, com a inflação mais do que controlada o cerne é cumprir a ambiciosa meta de crescimento do PIB – 5% para 2024. E isso dependerá dos estímulos à economia verde para mais uma vez acontecer.

No anúncio da meta para este ano, feito no início de março pelo Primeiro-Ministro chinês, Li Qiang, as citações com referências a projetos verdes foram o dobro daquelas feitas pelo seu antecessor em 2023. Isso demonstra como os investimentos serão direcionados pelo governo. 

E a estratégia verde vem dando certo por lá: a China produz 90% das placas fotovoltaicas do mundo e 50% dos carros elétricos, por exemplo.

Isso se deve em grande parte ao resultado de uma estratégia que nasceu em 2008, em meio à crise financeira mundial. A China passou a distribuir bilhões de dólares em incentivos, em grande parte direcionados a tecnologias e inovações verdes, considerada uma nova força produtiva.

Nesse sentido, a China possui uma vantagem competitiva enorme, cuja estratégia eles chamam de “3 novas”. A primeira “nova” estimula o desenvolvimento de tecnologias solares e eólicas. A segunda incentiva a produção de baterias de lítio. A terceira, o desenvolvimento de veículos elétricos. As 3 novas foram responsáveis por 4,5% do total da exportação chinesa em 2023, segundo a empresa de pesquisa Bloomberg NEF. Três anos antes, em 2020, eram apenas 1,5%.

A maior crítica contra a China, no entanto, é a seguinte: apesar de todo o investimento em produtos e tecnologias verdes, ela vem pecando do ponto de vista ambiental. Ela é a maior emissora de gases poluentes do mundo, responsável por quase um terço das das emissões de gases-estufa. Muito disso deve-se ao fato de que ela continua muito dependente de energia à base de carvão – o país é o maior produtor e utilizador desse combustível fóssil.

Existem alguns motivos para essa dependência. O mais forte é que a China não possui gás natural (também poluente, só que menos) – depende completamente de importações. Também há fatores político-econômicos. Desativar as minas de carvão custaria 2,5 milhões de empregos.

Mas a China vem tentando mudar isso. Só no ano passado foram acrescidos 293 GW de energia limpa solar e eólica – só para efeito de comparação: a Inglaterra possui menos de 100 GW de energia limpa no país inteiro. Porém, mesmo com esse enorme acréscimo, os órgãos internacionais não acreditam que a China alcance sua meta de se tornar neutra em carbono até 2040.

Os desafios para reduzir as emissões são enormes, mas a China está demonstrando para o resto do mundo que estimular a economia verde traz resultados robustos de crescimento. Não é à toa que 38% dos investimentos para o desenvolvimento de tecnologias verdes foram para lá em 2023, cerca de US$ 676 bilhões. 

Vamos aguardar para ver se ela consegue atingir a meta de 5% de crescimento do PIB em 2024 com essa estratégia verde. No primeiro trimestre deu certo: ela cresceu 5,3% na base anual.

Alexandre Furtado é Sócio da Grant Thornton e Membro do Conselho do Centro de Pesquisa Aplicada em Contabilidade e Análise de Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews ou das instituições com as quais o colunista tem ligação. 

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Metas de diversidade: por que empresas estão cortando estes indicadores de seus relatórios? https://investnews.com.br/financas/metas-de-diversidade-por-que-empresas-estao-cortando-estes-indicadores-de-seus-relatorios/ Mon, 29 Apr 2024 11:50:33 +0000 https://investnews.com.br/?p=574197 Gastar US$ 1,2 bilhão com negócios de diversidade. Dobrar a liderança negra e latina. Aumentar o recrutamento de faculdades e universidades historicamente negras.

Essas metas de diversidade foram destacadas nos relatórios anuais das empresas em 2022. Um ano depois, desapareceram. 

Dezenas de empresas alteraram as descrições de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em seus relatórios anuais aos investidores à medida que esses programas são ameaçados legal e politicamente. As mudanças destacam a dificuldade enfrentada pela busca de equilíbrio pelas empresas, que lidam com a pressão de críticos e defensores de medidas de diversidade.

Leia aqui a matéria na íntegra.

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Quem perde quando mulheres negras chegam aos espaços de poder? https://investnews.com.br/opiniao/colunistas-opiniao/quem-perde-quando-mulheres-negras-chegam-aos-espacos-de-poder/ Sun, 24 Mar 2024 21:19:43 +0000 https://investnews.com.br/?p=565385 A presença feminina em cargos de diretoria estatutária e em conselhos de administração ainda está abaixo do desejável na maioria das empresas brasileiras. Ilustrando esse fato, temos o estudo “Mulheres em Ações”, publicado em dezembro de 2022 pela B3, que se baseou em informações públicas prestadas pelas companhias em documentos regulatórios.

Esse mapeamento da evolução da diversidade de gênero no mercado brasileiro retrata uma realidade que já passou da hora de ser transformada.

Segundo o “Mulheres em Ação”, “de cada 100 empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil, 61 não têm mulheres em cargos de diretoria estatutária, e 37 não têm participação feminina no conselho de administração, embora seja possível observar um aumento da presença de mulheres nos CAs no último ano.”

A pesquisa Women in Business, da auditoria Grant Thornton, ouviu cerca de 5 mil executivos e executivas em 28 países e os dados não são positivos. As mulheres em cargos no alto escalão em empresas brasileiras médias eram 38% em 2022, no ano seguinte esse índice passou para 39%, só um ponto percentual a mais de um ano para o outro. O estudo registrou a queda da participação de mulheres em cargos importantes no Brasil, era 35% em 2022, e em 2023 eram apenas 31% em postos de CEO.

Neste cenário do mundo corporativo, que já é desalentador, quando fazemos o recorte de gênero e raça a desigualdade é gritante. Identificar a sub-presença histórica em espaços de poder e decisão, é revelar um gargalo injusto na prática, apesar das mudanças de discurso e da própria agenda ESG ter avançado como tema urgente nas últimas décadas.

Esse alerta está dado e a situação precisa ser encarada de frente por setores do mercado e da sociedade que têm compromisso com o combate à desigualdade de gênero e raça, além da promoção da diversidade. 

Em março de 2023, o Women On Board (WOB) – que certifica empresas que possuem pelo menos duas mulheres em conselhos; e o Conselheira 101 – programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração – manifestaram-se sobre resultado de estudo realizado pelo ACI Institute, núcleo de pesquisas em governança corporativa da KPMG. 

Nessa pesquisa, a presença de mulheres negras correspondia a um traço percentual em conselhos de administração de empresas abertas brasileiras. A contundência desse resultado é reafirmada publicamente pelo WOB e Conselheira 101: “Traço. Não é 1%. Não é 2%. Não é 3%. É traço. Em um país em que 25% da força de trabalho é formada por mulheres negras.”

Gargalo

O absurdo concreto desse gargalo é ressaltado pela fundadora do Conselheira 101, Jandaraci Araújo. “Correspondemos a 28% da população brasileira, somos a maioria da maioria, visto que mulheres são 52% da população. No entanto, não estamos representadas nos espaços de liderança de forma equânime, seja nas organizações privadas ou públicas”, destacou ela em março de 2023, em declaração veiculada no jornal O Globo.

É fundamental ressaltar que existem mulheres negras prontas e capacitadas para ocuparem esses espaços, sem desculpas para a argumentações que se refiram a não haver o perfil no mercado. E essa busca por qualificação faz parte de ações individuais e coletivas, como o próprio Conselheira 101, responsável pela formação de dezenas de mulheres negras para atuarem em conselhos, desde 2020, ao ser criado por um coletivo de mulheres. Apoiado pela KPMG e Women Corporate Directors Foundation, o programa já formou 67 executivas, e destas quase a metade já está atuando em conselhos de administração, consultivos e comitês. 

Quem perde quando as mulheres negras chegam aos espaços de poder?

O status quo que valida a supremacia do homem branco e sua forma de estar e agir. Dito isso, precisamos também reafirmar que a diversidade não é uma concessão e, sim, um grande fator de contribuições, além de promoção da igualdade. Um conselho de administração que tenha representações de diversos segmentos da sociedade é um espaço potente para geração de riquezas econômicas, financeiras e sociais, exatamente por colocar na mesma mesa – em contraposição, confronto ou convergência – diferentes visões de mundo, do mercado e da sociedade. 

Esse diferencial é confirmado por uma mulher experiente nesses espaços, a Liliane Rocha, CEO e Fundadora da Gestão Kairós. Atualmente, ela é uma das poucas mulheres negras que contrariam as estatísticas que apresentamos, pois atua como conselheira deliberativa do Instituto Tomie Ohtake, conselheira consultiva de diversidade da Ambev e do Pacto de Promoção da Equidade Racial.

Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós e Autora do Livro Como ser Uma liderança Inclusiva Foto: Myla Dutra

Liliane Rocha afirma, em artigo publicado no Universa Uol (novembro de 2023), que “cada mulher negra em conselho revoluciona o topo da tomada de decisão. Além de serem profissionais, intelectuais e especialistas gabaritadas para ali estarem, levam consigo percepção e vivência social que por muitos anos não existiam nas reuniões e conversas dos conselhos, uma vez que a perspectiva de diversidade e inclusão, ESG, igualdade e equidade são inerentes às suas vivências em sociedade”. 

Quem ganha com as mulheres negras nesse espaço é toda a sociedade. Ao estar nesses lugares, sua presença é um fator poderoso para minar o pacto da branquitude, como nos alerta Cida Bento: “A branquitude se expressa em uma repetição ao longo da história, de lugares de privilégio assegurados para as pessoas brancas, mantidos e transmitidos para as novas gerações”.

As mulheres negras são as propulsoras da mudança, ao avançar, elas são capazes de mudar as estruturas, em março e o ano inteiro. Estamos com elas!

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Crédito de carbono não é investimento https://investnews.com.br/colunistas/credito-de-carbono-nao-e-investimento/ Thu, 21 Mar 2024 16:49:04 +0000 https://investnews.com.br/?p=564406 “As alterações climáticas induzidas pelo homem estão afetando o planeta. Globalmente, 2023 foi o ano mais quente já registrado”. Esse é o trecho do primeiro parágrafo de um estudo publicado pela Agência Europeia do Ambiente, e ele dá o subsídio necessário para afirmar que não, o crédito de carbono não é um investimento.

O estudo continua: “A temperatura média global no período entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024 excedeu os níveis pré-industriais em 1,5°C”. E eu afirmo: o crédito de carbono foi criado para financiar o combate ao aumento da temperatura, que pode extinguir toda a vida humana do planeta. A meta combinada pelos países no Acordo de Paris é limitar o aquecimento a 1,5°C até 2050.

Para atingirmos essa meta foi criado o crédito de carbono. Diferentemente de outros tipos de créditos, ele foi feito para ser aposentado. “Aposentar” um crédito de carbono quer dizer que uma empresa investiu em um projeto, por exemplo, de preservação ambiental de uma floresta tendo como retorno a neutralização dos gases que emitiu para para fabricar seus produtos. Após esse saldo ser cientificamente comprovado, a empresa dá baixa de tais créditos na sua demonstração financeira.

Na prática, uma indústria que emitiu 1 milhão de toneladas-equivalentes de CO2 no ano de 2023 vai ser incentivada pelo crédito de carbono a preservar uma floresta ou evitar o aumento das suas emissões – primeiro para neutralizá-las, obtendo saldo zero. Quando a companhia captura mais carbono da atmosfera do que emite, ela gera um saldo negativo de suas emissões, possibilitando a certificação dos créditos de carbono. Esse excedente pode ser vendido pela empresa, que obtém um lucro. 

crédito de carbono
Adobe Stock

Porém, a meta principal da empresa não é lucrar com os créditos de carbono. É neutralizar suas emissões de gases nocivos. Mesmo com essa possibilidade de retorno financeiro com os créditos, eles não foram criados para esse fim. 

O crédito de carbono é um instrumento para incentivar a neutralização das emissões de gases da empresa e de sua cadeia de valor. E isso já é muito. Não se esqueçam de que não estamos cobrando os muitos anos de emissão desenfreada por essa empresa, só os anos atuais e futuros.

Crédito de carbono também não é um empréstimo para financiar uma empresa. Não é um LCI ou LCA, as chamadas letras de crédito imobiliário ou agrícola cujos investimentos financiam os devidos setores da economia. O crédito de carbono não foi criado para que o investidor tenha retorno financeiro. 

Ele veio para ser um instrumento tangível de financiamento das questões climáticas; um incentivador para que governos, empresas e sociedade enxerguem de forma tangível que há uma forma de lutarmos essa guerra climática. 

Nesse sentido, o novo marco legal dos créditos de carbono que está para ser votado no Senado não deve ter foco financeiro ou econômico. Deve apenas promover esse instrumento como um incentivo à redução das emissões de gases nocivos à atmosfera.

No entanto, um dado alarmante segundo o Relatório da Organização das Nações Unidas publicado em 2023: o mundo está caminhando até 2050 para um aumento de temperatura de 2,5°C a 2,9°C, acima dos níveis pré-industriais. 

Ou seja, se continuarmos tratando o crédito de carbono como um instrumento financeiro, continuaremos a seguir essa trilha de destruição, temos que mudar a rota. E isso começa pela compreensão da natureza do crédito de carbono – do por quê de ele ter sido criado.

Alexandre Furtado é economista, Presidente da Comissão de Crédito de Carbono da Associação Brasileira de Carbono (ABCarb) e Sócio da Grant Thornton

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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