Notícias Tesouro Direto – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Mon, 21 Oct 2024 16:11:51 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico Notícias Tesouro Direto – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Como o Drex pode se tornar o ‘carro autônomo’ das suas finanças https://investnews.com.br/economia/internet-financeira-como-o-drex-pode-transformar-boa-parte-da-sua-vida/ Thu, 17 Oct 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=622435 Drex real digital
Drex real digital

Você lembra do mundo na virada do século 20 para o 21? Não havia Netflix ou Spotify. A internet já existia, claro. Ainda engatinhava, mas a infraestrutura dela estava entre nós. E a partir desse chassi, dessa base, vários agentes criaram os serviços que deram ao mundo a cara que ele tem hoje.

O Drex, se tudo der certo, pode assumir um papel semelhante ao que a internet teve: servir de alicerce para toda uma nova gama de serviços financeiros – que hoje parecem tão distantes quanto era o streaming lá atrás, na época em que a gente comprava CDs e alugava DVDs.

O Drex começou com o nome de “real digital”. E isso causou confusão. Ficou a ideia de que o projeto, liderado pelo Banco Central, era o de uma nova moeda. Só que o Drex é mais complexo. Trata-se de uma nova infraestrutura para o sistema financeiro – que um dia pode se tornar tão essencial para certas operações quanto a internet é para quem deseja maratonar um seriado.

“Será como se, de repente, todos os carros virassem veículos autônomos, sem precisar de motoristas”, diz Ibiaçu Caetano, executivo-chefe de finanças do grupo Bitybank e integrante do conselho da Associação Brasileira de Cripto Economia (ABcripto). Agora, vamos ao principal:

O que é o Drex, afinal?

Existe um problema no mundo de hoje do qual basicamente ninguém se dá conta: o dinheiro “roda” num sistema próprio, o bancário. E coisas importantes que você compra com dinheiro habitam, cada uma, seu próprio sistema. O registro de carros, por exemplo, fica a cargo do Detran do seu Estado.

Para comprar um carro usado, então, você precisa operar em dois sistemas. Primeiro, no bancário, fazendo uma transferência para o dono antigo. Depois, no do Detran, transferindo o veículo para o seu nome. Ok. Não é o fim do mundo. Mas comprar CDs também não era.

A novidade que o Drex propõe para um caso assim é a seguinte: o dinheiro e os carros estariam registrados no mesmo sistema. Vamos dizer que vocês fecharam o negócio por R$ 100 mil. Grosso modo, o proprietário do carro faz o upload do registro na rede do Drex. Você sobe R$ 100 mil na mesma rede e, lá dentro, compra o registro do carro. Pronto.

O sistema vai saber que foi você quem fez a compra e passar o veículo para o seu nome. O antigo proprietário não precisa atestar isso no cartório nem nada. É tudo automático. Num piscar de olhos, o documento novo vai para o seu celular. E você já sai dirigindo com tudo em ordem.

Esse é um exemplo hipotético. Primeiro, o sistema do Drex precisa estar operante – e hoje ele está em fase de testes. Segundo, alguém terá de combinar com os Detrans. Mas trata-se de uma possibilidade concreta que o Drex abre. Vamos a outras.

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Tesouro Direto 24 horas

O termo “Drex” vem da junção das iniciais de digital, real, e eletrônico. Já o “x” remeteria à ideia de conexão ou experiência. Essa infraestrutura do real digital tem como base a tecnologia de blockchain – a mesma das criptomoedas.

Que diferença ela faz? A mais importante: permite o upload de dinheiro e de outras coisas lá dentro (como o registro de carros). As duas ficam na forma de “tokens”, objetos digitais. E passam a ser intercambiáveis. Esse registro virtual, o token, é um tipo de escrituração inviolável. Ele representa, autentica e assegura a propriedade do ativo. Os tokens podem, então, ser negociados com segurança e muita velocidade.

É por isso que o registro do carro ali em cima vai direto para o seu nome. O que aconteceu ali foi a troca de um token registrado na blockchain (um “objeto digital” representando R$ 100 mil) por outro (a posse de veículo). “Tokenize” a posse de um apartamento no Drex e você também terá uma transferência instantânea – quando, e se, isso for possível.

Vale o mesmo para ativos financeiros. Se o Tesouro Nacional tokenizar títulos públicos, você vai poder comprá-los sem o intermédio de um banco ou de uma corretora. O que você vai fazer é subir dinheiro para o sistema do Drex. O montante será convertido em “reais digitais” – o nome mais preciso seria “reais tokenizados”, mas paciência.

Lá dentro do sistema, haverá tokens de títulos públicos. Aí é só comprar. Sem banco, sem corretora. Só você e o Tesouro na jogada. Como a blockchain é automática e trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, você poderá comprar e vender títulos no sábado de madrugada, se não tiver algo melhor para fazer.

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Um adendo: falamos aqui em “upload de dinheiro”, mas essa é uma simplificação para facilitar o entendimento. A ideia é que o BC produza tokens de real e repasse para os bancos; só aí eles chegam ao público (veja no quadro abaixo). Ou seja: você não fará exatamente um upload no dia em que der para comprar carro com Drex. Você vai trocar “reais normais” que tem no banco por versões tokenizadas, que fluem pela blockchain.

Diagrama de fluxo do funcionamento do Drex, versão digital dos reais, com 4 etapas que vão desde a emissão pelo Banco Central até o uso por pessoas físicas, detalhado e ilustrado por ícones representativos.

Bolsa Família sem bets

O Drex embute outra característica que pode moldar as aplicações financeiras do futuro. Ele se baseia no conceito de smart contracts, ou “contratos inteligentes”, com registro validado por meio da rede blockchain. Isso permite algo novo: o “dinheiro programável”.

Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, responsável pela seguranca do PIX e que também participa do grupo de discussões para desenvolvimento do real digital, explica que essa possibilidade poderia resolver um problema grave: o uso de recursos do Bolsa Família em plataformas de apostas online.

O dinheiro poderia simplesmente ser programado para o usuário não conseguir gastar em apostas. “Pode usar no supermercado, na padaria, na farmácia, mas não nas bets”, acrescenta Zanini.

O projeto do Drex entrou na fase final de testes que vai até o fim do primeiro semestre de 2025. O Drex deve se tornar acessível comercialmente primeiro para transações entre pessoas jurídicas, como a compra de títulos públicos por parte de bancos. Gradualmente, viriam aplicações abertas para a população.

O CEO da Dinamo cita ainda um caso prático que tem sido testado em conjunto com o Banco da Amazônia. Uma dificuldade de se captar recursos internacionais direcionados ao desenvolvimento da região vem do fato de não ser possível garantir que o dinheiro não vai ser usado sem critério.

Em um projeto piloto, o grupo de trabalho criou uma moeda digital regional amazônica programada para ser utilizada apenas em consumo na região.

“Com isso, conseguimos garantir ao investidor que aquele recurso só vai ser utilizado para aquela finalidade específica.”

Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks

O especialista em tecnologia de finanças digitais e chefe de comunidade fintechs da ABFintechs, Rogério Melfi, explica que o uso do Drex vai permitir programar condições para a realização ou não de um pagamento. A simples reserva de um hotel, por exemplo, pode embutir condições como não ser efetivada se o hóspede desistir dentro do prazo limite ou ainda liberar apenas o valor de multa.

Token o seu coração e façam a revolução

Com o Drex, o setor de crédito também tende a ganhar eficiência, reduzir burocracia e custos. Isso pode baratear taxas cobradas de empréstimos. Também vai aumentar a concorrência. Melfi reforça que o Drex aumenta a competição para as instituições financeiras tradicionais, além de trazer mais eficiência para as operações. “O real digital, junto com o PIX e o open finance, vai levar a uma verdadeira digitalização da economia do país.”

Zanini, da Dinamo, cita uma situação comum nos dias atuais para exemplificar o potencial da tecnologia.

Hoje, num empréstimo em que a garantia é um veículo, se seu carro vale R$ 100 mil e você pega R$ 10 mil, o automóvel fica inteiramente alienado à instituição que concedeu o crédito até a dívida ser quitada.

Mas, e se você pudesse dividir o valor do veículo em 10 pedaços digitais (ou seja, 10 tokens na blockchain) representando R$ 10 mil cada? Seria possível usar cada um deles como garantia em várias operações. Se o carro acabar vendido antes da quitação total, o smart contract repassa o valor proporcional devido automaticamente aos credores. Além disso, seria possível surgir plataformas que conectem vários investidores interessados em fazer o financiamento.

Produtos como consórcios, financiamentos, seguros e remessas de dinheiro também podem migrar para a infraestrutura tokenizada. Serão versões turbinadas daquelas que temos atualmente, mais rápidas, eficientes e, em grande parte, instantâneas.

LEIA MAIS: Banco do Brasil receberá tokens de commodities agrícolas como pagamento

O coordenador do projeto Drex no BC, Fabio Araújo, ressaltou em uma live sobre o projeto que a nova infraestrutura vai expandir a democratização dos serviços financeiros no Brasil. “As pessoas poderão fazer um empréstimo com mais facilidade ou ter uma opção de investimento mais acessível, um seguro mais fácil, a gente quer trazer esses produtos financeiros para a mão das pessoas.”

Daqui a alguns anos, talvez nem vamos nos lembrar que crédito imobiliário demorava meses para sair ou vender um carro exigia inúmeras checagens e idas e vindas entre órgãos públicos e cartórios. Com a desintermediação financeira, o instantâneo vai virar padrão e dinheiro vai funcionar como se tivesse um GPS, onde o melhor crédito nas melhores condições será a opção mais acessível.

Mas tudo dependerá de iniciativas da sociedade. O Detran se permitirá tamanha perda de poder? Os bancos toparão perder boa parte de seu papel no sistema financeiro? Não sabemos.

O Drex não é uma iniciativa única no mundo. Ele é mais um projeto de CBDC (“moeda digital de banco central”), que vários países tocam. E o fato é que todos eles ainda engatinham, em grande parte porque não faltam amarras, como as que citamos aqui.

Mas a estrada está sendo construída. E uma hora vão entrar carros nela. Como aconteceu com a internet.

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O preço do amanhã: quanto colocar no Tesouro Renda+ para receber R$ 5 mil por mês de aposentadoria extra https://investnews.com.br/financas/o-preco-do-amanha-quanto-colocar-no-tesouro-renda-para-receber-r-5-mil-por-mes-de-aposentadoria-extra/ Fri, 11 Oct 2024 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=621419
Ilustração: João Vieira

Antes de qualquer explicação, uma simulação: coloque R$ 368 mil no Renda+2035 agora, com o juro desse título ao redor dos 6,40%, e não faça mais nada.

Isso vai garantir R$ 5 mil de hoje por mês ao longo de 20 anos, entre 2035 e 2054 – tudo religiosamente corrigido pela inflação.

Se você puder esperar mais do que isso, melhor. Quem tem 35 anos hoje e quer começar a receber lá pelos 65, quando se aposentar, pode investir num título mais longo: o Renda+2055. Nesse caso, bastaria um depósito de R$ 105 mil agora para garantir os mesmíssimos R$ 5 mil por 240 meses; dos 66 até os 86 anos.     

Note que R$ 5 mil por 240 meses dá um total de R$ 1,2 milhão. E você só investiu R$ 105 mil. Estamos falando aí de um rendimento acumulado de 1.042% – rendimento real, acima da inflação (mais detalhes adiante). No outro caso, o da aposentadoria extra a partir de 2030, o retorno é menos estratosférico: 226%.

Lembra aquele filme com o Justin Timberlake, o O Preço do Amanhã, de 2011? A moeda corrente ali é o tempo de vida. Um cafezinho custa alguns segundos; um carro; uns bons anos. Os ricos têm um patrimônio de séculos, milênios; logo, vivem pelo tempo que quiserem (na mitologia do filme, a ciência descobriu como tornar as pessoas imortais; mas o governo determinou que o dinheiro é o tempo, então só o pessoal da ultra alta renda vive para sempre) – abaixo, o personagem de Justin “faz um Pix”, transferindo expectativa de vida:

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Esse filme envelheceu bem porque a vida real é parecida. Tempo é dinheiro, sim – e de uma forma bem mais literal do que a frase feita dá a entender. Cortesia dos juros compostos. Se você tem 25 anos, por exemplo, pode ir para o mais longo de todos os Renda+, o 2065 e aproveitar uma enxurrada deles.

De fato: um aporte de mirrados R$ 56 mil neste momento seria o bastante para conseguir os R$ 5 mil por mês ao longo de 20 anos – entre 2065 e 2084. Lucro total: 2.043%.

Feita a simulação, vamos à explicação.

A mecânica do IPCA+

Os títulos públicos do tipo Renda+ surgiram há pouco tempo, em 2023, e trazem um grau de previsibilidade realmente único para quem quer uma aposentadoria complementar. Porque só com ele dá para saber exatamente quanto você vai ganhar por mês lá na frente – em dinheiro de hoje, corrigido pela inflação.

O Renda+ é uma derivação dos títulos públicos do tipo IPCA+. Vale notar que “IPCA+” é o nome fantasia que o Tesouro deu para a coisa; o nome técnico desse tipo de título é outro: NTN-B.

Um título é uma dívida. Um título público, uma dívida que o governo tem com você. Uma NTN-B é um papel que o governo te vende pelo Tesouro Direto. Um papel virtual que, se fosse um papel de verdade, traria escrito: “Isto aqui vale R$ 4.330 no futuro, corrigidos pelo IPCA; data de pagamento: 15 de maio de 2035. Assinado: Tesouro Nacional”.

O “corrigidos pelo IPCA” significa que você vai receber em 2035 um montante que garanta o poder de compra que R$ 4.330 têm hoje. Se a inflação ficar numa média de 4% ao ano daqui até lá, o valor nominal disso vai ser de R$ 6,6 mil. Se ela ficar em 7%, de R$ 9,1 mil. Mas valor nominal não serve para nada. É só um número vazio. O valor real do montante será R$ 4.330 de hoje – não importando qual inflação role daqui até o vencimento. 

E quanto você pagaria por esse papel que o governo vende? Se fosse R$ 4.330, a coisa renderia só a inflação. Não vale a pena. Até a poupança paga mais do que a inflação.

No mundo real, dia 9 de outubro de 2024, a NTN-B com vencimento em 2035 valia R$ 2.259 (para quem quisesse comprar no site do Tesouro Direto). A diferença entre R$ 2.259 e os R$ 4.330 que mencionamos são os juros reais que a NTN-B paga. Nesse caso, o equivalente a 6,38% ao ano. 

Os R$ 4.330, vale notar, são aquilo que o Tesouro chama de “valor nominal atualizado”. O VNA. Ele sobe um pouquinho todo dia pra compensar a inflação. Isso garante a correção pelo IPCA. Por isso o nome fantasia das NTN-Bs é “IPCA+” – ele paga a inflação mais o juro. 

O Renda+, nosso assunto aqui, também é uma NTN-B. Mas uma NTN-B um tanto insólita. Cada título Renda+ é composto por 240 NTNBs – justamente porque foi pensado para ser um ferramenta de previdência privada. Uma aposentadoria extra. É o que vamos entender melhor agora. 

Como funciona o Renda+

Entre no site do Tesouro Direto e você vai ver vários títulos Renda+, cada um com uma data na frente (Renda+2030; Renda+2035…). Nos títulos IPCA+ essa data marca o vencimento do título. No Renda+, não. 

É a “data de conversão”. A data em que você começa a receber sua aposentadoria extra.

Essa aposentadoria extra vai durar 240 meses (20 anos) justamente por que cada título Renda+ é feito de 240 NTNBs separadas, cada uma com uma data de vencimento – o dia em que o governo paga, e o dinheiro cai na sua conta. Para visualizar melhor, vamos pegar um título Renda+ específico, o 2035. 

Para facilitar as contas ao extremo, vamos imaginar que você comprou 240 títulos, a R$ 1,3 mil cada. Nesse caso, fica como se cada um desses vencesse num mês específico. O primeiro, em janeiro de 2035, o segundo em fevereiro… até o último; que vai cair em dezembro de 2054.

Quanto vai cair por mês? O VNA; ou seja, aqueles R$ 4.330 em dinheiro de hoje que já tanto martelamos aqui.

Quer receber R$ 5 mil? Ok. Em vez de comprar 240 títulos, coloque 277,13 deles no carrinho – dá pra comprar frações de título também.

Para facilitar mais ainda a visualização, vamos imaginar uma realidade absurda: a de que a inflação zere daqui até janeiro de 2035. Nesse cenário maluco, com 277,13 títulos na mão, o valor nominal que você teria a receber seria de exatos R$ 5 mil. Mas aí, justamente em janeiro 2035 a inflação resolve voltar. O IPCA daquele mês fica em 1%.

Tranquilo. A parcela de fevereiro da sua aposentadoria sobe 1% também. Vai para R$ 5.050. É isso: as parcelas ficam protegidas da inflação.

A formação do preço

A matemática do Renda+ é extremamente engenhosa. Um dos criadores dela é o Nobel de Economia Robert Merton, e o Brasil foi o primeiro país a criar um título público com essa fórmula. 

Grosso modo, funciona assim: seja qual for a taxa de juro embutida, as NTN-Bs que vencem em 2054 acumulam MUITO mais juros compostos do que aquelas com vencimento em 2035. Isso significa que as NTN-Bs 2054 deveriam ser muito mais baratas para quem adquire hoje do que as NTNB-s 2035.

E é exatamente isso que acontece. As que vencem 2035, com juros ao redor dos 6,40%, deveriam custar R$ 2,2 mil. As 2054, bem menos de R$ 1 mil. A fórmula do Renda+, então, faz o seguinte: tira uma média. Desse jeito, o bolo de 240 NTN-Bs é vendido num pacotão só a um valor intermediário. Nesse caso, de R$ 1,3 mil. E a cada R$ 1,3 mil depositados neste momento, você leva R$ 4,3 mil lá na frente – os 226% que falamos lá no início. 

Esse rendimento surrealista nem é uma característica intrínseca do Renda+. Ele só acontece porque os juros, hoje, estão num patamar historicamente alto – ao longo da história, as NTN-Bs que estão circulando há mais tempo só pagaram juros acima de 6% em 26% dos dias de negociação

Pegar um juro mais alto significa comprar o papel por um preço relativamente baixo. Essa é a oportunidade que existe hoje. Ela existe porque a Selic está alta. Os 10,75% de agora equivalem a IPCA+6,33%. É por isso que as NTNBs estão remunerando nessa faixa. 

Mas se der tudo certo (leia-se “parte fiscal”) a Selic cai nos próximos anos. A chance que existe agora, então, é a de travar um juro fora da curva por décadas. Ou seja: usar uma tempestade na economia, que exige juros escorchantes, para garantir uma bonança maior na aposentadoria.   

Como tudo na vida, há um risco: o de a Selic seguir subindo e ficar num platô elevado século 21 adentro. Caso isso aconteça, você perde por conta do custo de oportunidade. Os juros das NTN-Bs do futuro podem ficar ainda maiores. O preço dos títulos, então, será ainda menor. E você vai descobrir que poderia ter pagado muito menos. Um cenário improvável, mas não impossível.

Porque o amanhã sempre tem um preço. Mas, no mundo das finanças, só dá para saber se o tal preço valeu a pena quando o amanhã efetivamente chega.


Para entender a tributação do Renda+, entre outros detalhes, veja aqui.

Para saber mais sobre o momento atual dos juros, veja aqui

Para checar a quantas anda o Valor Nominal Atualizado das NTN-Bs, veja aqui.

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Expectativa por dinheiro mais barato bomba o Ibovespa – e a renda fixa também https://investnews.com.br/financas/expectativa-por-dinheiro-mais-barato-bomba-o-ibovespa/ Wed, 17 Jul 2024 10:50:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=600673 Não rolou a 12ª alta seguida do Ibovespa ontem. Pudera. Se tivesse acontecido, seria surrealista. A última vez foi há 27 anos, em 1997. Mas ok. A sequência de 11, estabelecida na segunda-feira, já era algo que não se via há um bom tempo também: 14 anos. 

E nesta quarta (17) mais uma alta (0,26%). Com 12 altas nos 13 pregões do mês, o índice soma 4,47% no azul. Se decretassem feriado daqui até o dia 1º de agosto, este já seria o melhor mês da bolsa desde dezembro de 2023 – aquele pródigo final de ano em que o Ibovespa subiu 5,38% em dezembro, depois de ter cravado 12,54% em novembro. 

Vale citar aqui o otimismo com o já distante final do ano passado porque as razões para o bom humor lá do passado são basicamente as mesmas daqui do presente: um alívio quanto aos juros do futuro. 

Juros combatem a inflação deixando o dinheiro mais caro. Em outras palavras: sufocando a economia. Normal, porque não há outro remédio: a alternativa seria deixar a inflação correr solta e você, banco central, deixar o seu país virar uma Argentina, ou um Brasil dos anos 1980. 

Mas esse efeito colateral dos juros cria uma preocupação para qualquer banco central. Se o desemprego começa a crescer, passa a ser recomendável baixar as taxas. 

Caso isso aconteça num momento em que a inflação está desacelerando com força, um corte nos juros se torna iminente. E rola a festa – pois não há nada que faça o mercado abanar o rabo com mais satisfação do que dinheiro barato.  

LEIA MAIS: Petrobras e Mubadala chegam à reta final para recompra da refinaria de Mataripe

Foi o que se deu nos EUA no final do ano passado e, por consequência, no resto do mundo. Uma inflação em franca queda somada a sinais de fraqueza do mercado de trabalho, com o Payroll (principal relatório de emprego deles) mostrando a criação de poucas vagas, davam a entender que o BC americano começaria logo a cortar os juros – que desde julho do de 2023 estão em 5,50%, o maior patamar em 23 anos. 

Só que aí os meses passaram e as coisas mudaram. A inflação parou de cair, a criação de novas vagas subiu e aí, fuén… corte nos juros? Esquece. Em abril, quando esse clima instaurou-se de vez, parte do mercado passou a acreditar que 2024 terminaria sem corte algum – 12% dos investidores, de acordo com o Fed Watch. O Ibovespa respondeu com quedas: -1,70% naquele mês e outros -3,04% em maio.    

Ilustração em estilo colagem; gráfico; subida de números; dolar; selic; cambio; juros
Crédito: Tég

Junho veio com uma correção (alta de 1,48%), mas o clima seguia turbulento. Em julho, porém, o sol voltou a aparecer. No dia 5, o Payroll mostrou a criação de 209 mil vagas novas. Era mais do que o mercado esperava (190 mil), só que outros dados vieram para dar um alento. 

O número de maio, o mês anterior, foi revisado para baixo (de 272 mil para 218 mil), e o de abril também (de 165 mil para 108 mil). Para coroar, o desemprego tinha subido: 4,1%, contra 4,0% em maio e nas previsões. Eram sinais claros de que o mercado de trabalho não estava tão aquecido assim. Isso poderia forçar o Fed a começar logo os cortes. 

Mas o presidente do BC americano, Jerome Powell, deixou claro após o Payroll que não seria tão fácil. “Precisamos ver mais dados positivos sobre a inflação”, ele disse.

“Mais dados” porque a inflação até vinha em queda, mas discreta. Veja aqui (pelo CPI, o “IPCA” deles, em 12 meses):

  • Março: 3,5% (em alta, após 3,1% em janeiro e 3,2% em fevereiro)
  • Abril: 3,4%
  • Maio: 3,3%

E aí, no dia 11 de julho, veio o plot twist: a divulgação de um tombo no índice de preços. O mês de junho registrou a primeira deflação desde maio de 2020: -0,1%. E isso puxou o CPI de 12 meses para…

  • Junho: 3,0%

O próprio Powell reiterou na segunda (15) que os três últimos CPIs deram mais confiança de que a inflacão está caminhando para a meta, de 2%. E que, claro, não precisa esperar a inflação chegar à meta para reduzir os juros – já que as taxas demoram meses para fazer efeito sobre a inflação. 

A baixa de agora é consequência de juros altos lá de trás. E esses juros do passado ainda farão efeito sobre a inflação do futuro. Quem sabe, até fazer com que ela volte aos 2% – e num cenário em que a taxa básica já esteja em queda.

Powell, obviamente, não canta quando virá o primeiro corte. Seria de uma irresponsabilidade atroz. Mas o mercado canta. Agora, 100% dos investidores (de acordo com o Fed Watch) estão fechados na ideia de que o BC americano não passa da reunião de setembro sem cortar os juros. Há um mês, um terço deles achava que a redução da taxa ficaria para mais tarde. 

Ou seja: o barateamento do dinheiro parece mesmo questão de (pouco) tempo. E as bolsas comemoram. O S&P 500 renovou na terça seu recorde histórico (5.667 pontos). E mesmo após uma correção relativamente forte na quarta (-1,39%), a alta no mês segue firme: 2,03%.

Não foi só a renda variável que se deu bem neste mês que mal passou da metade. A expectativa de juros mais baixos por lá tira pressão dos juros daqui. E aí o efeito para quem tem certos títulos públicos é avassalador. Olha só.

Renda fixa com alta de renda variável

Um título público do tipo IPCA+ é como um vale que diz “o portador receberá R$ 4.299 em dinheiro de hoje na data do vencimento”. “Dinheiro de hoje” porque esse valor é atualizado todo dia pela inflação (vão fazendo projeções). 

Esse vale tem um preço. Digamos que seja de R$ 2.158. E que a data do vencimento seja maio de 2035. A diferença entre os R$ 2.158 que você paga e os R$ 4.299 corrigidos que você terá a receber equivalem a um juro composto de 6,46% anuais mais a inflação. 

Então. Quando o cenário é de baixa para os juros do futuro, como começou a se desenhar em julho, esse juro do título cai. Só que o valor final dele, os tais R$ 4.299, seguem iguais. O que muda, então? O preço.

O título fica mais caro. Se o juro cai a 6,12%, por exemplo, significa que o preço de cada título sobe a precisamente R$ 2.269. Uma alta de 5% no valor. 

Se você tem uma carteira com esses títulos dentro, então, seu saldo sobe na mesma proporção. É justamente o que está acontecendo desde o início de julho. Eis aqui as altas dos títulos IPCA+ com vencimento em 2035 e em 2045 nesse período. 

  • IPCA+2035: 5,09%, com a taxa caindo de 6,46% para 6,12%
  • IPCA+2045: 5,79%, com a taxa caindo de 6,47% para 6,26% – como o prazo do vencimento aqui é mais longo, uma queda menor em pontos percentuais equivale a uma alta maior no preço; simples, ainda que complexo 😉

Pois é. Mais do que o Ibovespa. Claro que aqui também ajudou, e muito, o alívio com a parte fiscal. No dia 3 de julho, Lula topou um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas públicas em nome do cumprimento do arcabouço fiscal – quanto mais saudáveis as contas públicas, menos o governo paga em juros para se financiar. Como ele se financia, entre outras fontes, com títulos IPCA+, os juros deles caem. E o preço sobe. 

Também veio a calhar o IPCA amigável de junho: alta de 0,21% no mês, contra 0,32% das previsões. Em 12 meses, estamos em 4,23%. Longe do centro da meta, mas abaixo do teto, que é de 4,50%. Os juros estão fazendo seu trabalho por aqui também.

Só que a grande força motriz das bonanças segue sendo a macroeconomia dos EUA. Não basta ela ir bem para instaurar-se um mar de rosas por aqui, naturalmente. Mas se ela estiver mal, pode tirar o cavalinho da chuva. Felizmente, não é o que está acontecendo neste julho, o mês do mergulho (dos juros futuros). 

E que venha agosto, o mês do… Vejamos o que acontece.

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O Renda+ na era do IPCA+6%: ganhos de até 1.800% acima da inflação  https://investnews.com.br/financas/o-renda-na-era-do-ipca6-ganhos-de-ate-1-800-acima-da-inflacao/ Tue, 28 May 2024 10:50:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=582587 Você coloca R$ 100 mil hoje e lá na frente isso se transforma numa aposentadoria equivalente à do teto da previdência: R$ 7,9 mil ao mês, por 20 anos. 

20 anos são 240 meses. Multiplique os R$ 7,9 mil por 240. Dá R$ 1,89 milhão. Ou seja: temos aí um investimento que transforma R$ 100 mil em R$ 1,89 milhão; retorno de 1.790% – acima da inflação.

É isso que um título Renda+, do Tesouro Direto, pode fazer pelo seu bolso, ao menos em condições extremas.

Uma das condições extremas está acontecendo neste momento. A expectativa de cortes mais relevantes na Selic para os próximos anos tem minguado. Quando isso acontece, os juros de longo prazo crescem. E quando sobem os juros longos, aumenta o rendimento das NTNBs – os títulos públicos que pagam a inflação mais um juro fixo (tipo IPCA+4%, IPCA+5%…).

E enquanto este texto é escrito, os juros desse tipo de título está num patamar historicamente alto, ao norte de IPCA+6%, o que garante retornos pesados no longo prazo. 

As NTNBs mais conhecidas são justamente aquelas que ganharam o nome de “IPCA+”. Mas elas não são as únicas. Em janeiro do ano passado surgiu um novo título do tipo NTNB, o Renda+.

Ele tem uma fórmula mais complexa. O IPCA+ é direto ao ponto. Você coloca o dinheiro ali hoje e, se deixar paradinho até a data de vencimento, vai receber tudo corrigido pela inflação + uma taxa fixa de juros. 

LEIA MAIS: PGBL – como, e por que, ele aumenta a restituição do IR

No dia 27 de maio, por exemplo, o título IPCA+2045 oferecia 6,12% ao ano de juro real, acima da inflação. Coloque R$ 100 mil ali e você terá R$ 345 mil brutos em dinheiro de hoje na data de vencimento (maio de 2045). 

Com o Renda+ é diferente. A grana que você coloca num título desses fica automaticamente dividida em 240 NTNBs. Todas, neste momento, com juros de 6,14%, mas cada uma com uma data de vencimento diferente. No Renda+2045, por exemplo, a primeira das 240 NTNBs vai vencer em janeiro de 2045; a segunda, em fevereiro, a terceira, em março… A derradeira, só em dezembro de 2064.  

Quanto mais tempo demora para o vencimento, mais você ganha. Isso significa que as parcelas lá de 2064 são exponencialmente maiores que as de 2045. Bem maiores. A primeira, de 2045, seria de R$ 1,4 mil. A última, 240 meses mais tarde, de 9,6 mil. Só que o Tesouro criou o Renda+ para atrair quem está a fim uma aposentadoria complementar. Não faria sentido começar pagando uma relativa merreca e deixar o filé para o final, quando o investidor provavelmente terá passado dos 80 anos.   

Mas a fórmula do Renda+ acaba com esse problema. Ela tira uma média entre o pagamento número 1 e o pagamento número 240. Essa média, no caso de R$ 100 mil investidos hoje no Renda+2045, daria uma renda de R$ 2,4 mil por mês. Você recebe adiantado, nas primeiras mensalidades, uma parte da saraivada de juros sobre juros que viria nas últimas.

Somando todas as parcelas do Renda+2045, o bolo todo dá R$ 578 mil. Bem mais que os R$ 345 mil do IPCA+2045. Cortesia dos juros compostos extras, referentes ao intervalo entre 2045 e o vencimento final da coisa, em 2064. 

Veja também: Como funciona o Tesouro Direto

Ilustração em estilo colagem; gráfico; subida de números; dolar; selic; cambio; juros
Crédito: Tég

Daqui até a eternidade

Isso nos leva à outra “condição extrema” que favorece o Renda+. A primeira, a gente viu, são os juros longos no espaço sideral. Cortesia das incertezas sobre o futuro da Selic. A segunda, não depende do governo, do BC ou do Boletim Focus. É com você: uma capacidade brutal de planejamento. 

O mais curto dos Renda+ paga as primeiras parcelas em 2030, e elas vão até 2049 – daqui a um quarto de século. Ou seja, para aproveitar todo o fluxo das parcelas, você precisa garantir para si mesmo que não vai vender o título até 2049. E isso no Renda+ que vence mais cedo.

O que vence mais tarde só começa a pagar daqui a 41 anos, em 2065, quatro anos depois de o cometa Halley ter voltado. A última parcela? Pois é. Só vai cair lááá em 2084. 

Aí é óbvio: se você tem idade o suficiente para ter visto a última passagem do cometa Halley, em 1986, provavelmente esse Renda+ extra-longo não terá utilidade. E são desse título, o Renda+2065, aqueles rendimentos escalafobéticos do primeiro parágrafo, capazes de transformar um único depósito de R$ 100 mil em R$ 1,89 milhão – na forma de R$ 7,9 mil mensais. 

Nota: estamos sempre falando em dinheiro de hoje. Em “dinheiro de amanhã”, com a inflação acumulada na cota, a primeira parcela vai ter um valor nominal bem maior. E as outras serão corrigidas a cada mês. Mas não importa: sempre vai dar R$ 7,9 mil de hoje (ao menos pela régua do IPCA).     

Bom, no Renda+2030, o retorno será naturalmente mais humilde, já que o dinheiro passará menos tempo sob cultivo. O valor bruto das parcelas que vão cair entre 2030 e 2049 será de R$ 980, e os R$ 100 mil, aí, se transformam em apenas R$ 236 mil. Ainda assim, estamos falando em 136% de rendimento real. 

A tabelinha aqui embaixo dá um panorama mais amplo, mostrando o potencial de diferentes títulos Renda+ em tempos de IPCA+6%. E deixa claro: o quanto mais você puder esperar pela colheita, melhor. Exponencialmente melhor.

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CDB: o que é, como funciona e quanto rende? https://investnews.com.br/guias/cdb-o-que-e/ Mon, 20 May 2024 21:34:17 +0000 https://investnews.com.br/?post_type=guias&p=266108 Quando o assunto é renda fixa, os Certificados de Depósito Bancário, mais conhecidos como CDBs, despontam como uma das opções de investimento mais populares do mercado. Esse tipo de ativo oferece a possibilidade de ganhar dinheiro emprestando para os bancos.

Mas, apesar da sua popularidade, muitos investidores têm dúvidas sobre como esse produto funciona e quais são as suas características. Por isso, entender o que é CDB ajuda a compreender como esses ativos funcionam, quais os tipos de rentabilidade e a melhor forma de investir.

A imagem mostra pilhas de moedas ilustrando um gráfico de investimentos, representando o tema "CDB"

O que é CDB e como funciona?

O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um investimento de renda fixa emitido por bancos para captar recursos. É como um empréstimo: o investidor empresta dinheiro para a instituição financeira por um determinado prazo e, em troca, recebe o valor investido de volta com juros.

Os CDBs possuem características que variam de acordo com o emissor, o prazo e a forma de remuneração. Geralmente, quanto maior o prazo de investimento, maior tende a ser a rentabilidade oferecida pelo banco.

Além disso, a remuneração dos CDBs pode ser pré-fixada, com uma taxa de juros definida no momento da aplicação, ou pós-fixada, atrelada a algum índice – geralmente o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), taxa que espelha a Selic (se a Selic estiver em 9,75%, por exemplo, o CDI tende a estar no mesmo patamar).

Enquanto alguns CDBs estabelecem um vencimento, no qual o banco devolverá ao investidor o dinheiro investido com os juros, outros possuem liquidez diária. O que isso significa? Que o investidor poderá fazer o resgate do dinheiro investido em qualquer data, como acontece num fundo de investimento qualquer. Explicaremos como funciona cada tipo de rentabilidade adiante.

Vale lembrar que os CDBs são considerados investimentos de baixo risco, já que contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em caso de quebra da instituição financeira. O FGC garante o ressarcimento do investidor em até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. 

Ou seja: se você tem R$ 250 mil num CDB do banco X e outros R$ 250 mil num CDB do banco Y, vai receber R$ 500 mil do FGC caso os dois quebrem. Mas e se você tiver 10 CDBs com R$ 250 mil de saldo e cada um, em 10 bancos diferentes? Vai receber de volta seus R$ 2,5 milhões em caso de quebradeira generalizada? Não. O limite aí é de R$ 1 milhão por CPF. Para grandes somas, então, vale escolher CDBs de bancos grandes – quanto maior a instituição, em tese, mais difícil que ela quebre.   

  • Confira: o que é taxa selic e como ela impacta a economia

Qual a diferença entre CDB e CDI

Quando falamos em renda fixa, o CDB e o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) são entidades financeiras relacionadas, mas com algumas diferenças importantes. Como dito anteriormente, o CDB é emitido por instituições financeiras a fim de captar recursos.

O CDI, por sua vez, representa a taxa média dos empréstimos interbancários e é utilizado como referência para diversas operações financeiras — incluindo o próprio CDB. A maioria dos CDBs pós-fixados tem sua rentabilidade atrelada ao CDI, ou seja, o investidor recebe uma taxa de juros que segue de perto a variação do índice (que, vale repetir, anda de mãos dadas com a Selic). 

Em resumo, enquanto o CDB é um investimento de renda fixa emitido por bancos para captar recursos, o CDI é um indicador que serve como referência para a remuneração de diversos produtos financeiros, incluindo o CDB.

Quanto rende um CDB?

O rendimento de um CDB depende do tipo de contrato preestabelecido entre o banco e o investidor.

Geralmente, o rendimento varia conforme o prazo do investimento. Como dito, quanto maior o prazo, maior tende a ser a rentabilidade oferecida pelo banco. Além disso, ele pode ser classificado de três formas que serão descritas a seguir.

Tipos de rentabilidade

  • CDB pós-fixado: neste caso, a rentabilidade do CDB está atrelada a um índice de referência – em geral, o CDI. O rendimento é calculado diariamente e vai variar ao longo do tempo; com a Selic em alta, o CDI sobe, e o investimento rende mais; com a Selic em baixa, rende menos. Os CDBs dessa linha são, de longe, os mais comuns. E eles pagam uma porcentagem do CDI: 90%, 100%, 110%… Na prática: se o CDI estiver em 10%, um CDB “90% do CDI” vai pagar 9% ao ano; um 100%, 10%, um 110%, 11%…   
  • CDB prefixado: nesse tipo de contrato, a taxa de juros é definida no momento da aplicação e permanece fixa até o vencimento. Ou seja, o investidor sabe exatamente quanto irá receber no final do prazo, independentemente das variações do mercado;
  • CDB híbrido: possui parte da rentabilidade vinculada à variação da inflação, medida pelo IPCA. Além disso, tem uma parte prefixada. Dessa forma, o investidor tem uma proteção contra a inflação, pois o rendimento acompanha o índice de preços. O rendimento sempre será a inflação mais um certo juro – daí o nome desse tipo de taxa no mercado financeiro: “IPCA+”. 

Em resumo, o rendimento do CDB pode variar conforme o tipo de contrato e a estratégia de remuneração escolhida. É importante analisar as condições oferecidas pelo banco emissor, considerando o prazo, a taxa de juros e a forma de remuneração, para tomar a melhor decisão de investimento.

Confira a rentabilidade do CDB com o simulador de investimentos do InvestNews

Homem com um celular em mãos, apresentando um gráfico de investimentos, com um notebook atrás, também apresentando um gráfico de investimentos. A imagem representa o tema CDB

Outras dúvidas

Além das características de rentabilidade, o CDB apresenta outras especificidades que podem gerar dúvidas aos investidores. A seguir, vamos abordar algumas dessas questões para ajudar você a entender melhor esse tipo de investimento.

Qual o prazo de vencimento de um CDB?

O prazo de vencimento de um CDB pode variar de acordo com o contrato estabelecido entre o investidor e o banco emissor. Geralmente, variam de 30 dias a 5 anos, mas é possível encontrar CDBs mais longos.

Qual o prazo de carência?

O prazo de carência é o período durante o qual o investidor não pode resgatar o CDB sem sofrer penalidades. Esse prazo também é estabelecido no contrato e pode variar de acordo com o banco emissor e com o tipo de CDB. Em geral, os prazos de carência dos CDBs costumam ser de 30 a 180 dias, mas também podem ser mais longos. Não deixe de conferir.

Qual a liquidez?

A liquidez de um CDB refere-se à facilidade de resgatar o investimento antes do prazo de vencimento. Os CDBs podem ter liquidez diária, ou seja, o investidor pode resgatar o dinheiro a qualquer momento, ou liquidez no vencimento, em que o resgate só pode ser feito após o prazo acordado. Quanto maior a liquidez, menor tende ser a rentabilidade.

Qual o investimento mínimo?

O investimento mínimo varia de acordo com o banco e com o tipo de CDB. Algumas instituições podem exigir um valor mínimo de investimento, enquanto outras não têm essa restrição. O investimento mínimo costuma estar relacionado à rentabilidade e ao prazo do CDB, sendo que, também nesse caso, quanto maior for a exigência de investimento mínimo, maior tende a ser a rentabilidade oferecida.

Investir em CDB é seguro?

O Certificado de Depósito Bancário é considerado um investimento seguro, uma vez que conta com a garantia do FGC em caso de quebra da instituição financeira emissora. No entanto, como qualquer investimento, esse tipo de título apresenta vantagens e riscos que devem ser considerados pelos investidores.

Vantagens do CDB

  • Segurança: é um investimento seguro, pois conta com a garantia do FGC, que protege o investidor em caso de falência da instituição financeira emissora, garantindo o ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira; nota: os juros também contam. Se você colocou R$ 240 mil num CDB e o banco quebrou quando seu saldo estava em R$ 245 mil, ok: o FGC ressarce R$ 245 mil. Mas o que passar de R$ 250 mil não volta. Por conta disso, bancos grandes pagam menos juros que bancos pequenos – já que o risco de falência deles é bem menor.   
  • rentabilidade: oferece rentabilidades atrativas, principalmente para prazos mais longos e para investimentos de valores mais elevados. Além disso, a possibilidade de escolher entre CDBs prefixados, pós-fixados ou híbridos permite ao investidor encontrar a melhor opção de acordo com seu perfil e objetivos;
  • diversificação: é uma forma de diversificar a carteira de investimentos, pois oferece uma alternativa eventualmente mais rentável que outros investimentos de renda fixa, como os títulos públicos do Tesouro Direto.

Riscos do CDB

  • Risco de crédito: apesar da garantia do FGC, existe o risco de crédito associado ao CDB, ou seja, o risco de a instituição financeira emissora não conseguir honrar seus compromissos. É importante verificar a classificação de risco da instituição antes de investir;
  • risco de liquidez: a maior parte dos CDBs tem liquidez restrita. Isso significa que o investidor pode não vai conseguir resgatar o dinheiro antes do prazo de vencimento sem sofrer penalidades;
  • risco de mercado: CDBs estão sujeitos a riscos de mercado. Se você investir num prefixado que paga 10% ao ano e a Selic for a 13%, seu dinheiro renderia mais em qualquer investimento que segue o CDI (fundos DI, títulos Tesouro Selic, outros CDBs…).

Pior: se você tiver de sacar um CDB prefixado antes do vencimento, poderá terminar com menos do que investiu.       

Num CDB híbrido (IPCA+), idem. Se ele pagar IPCA+4% e os títulos públicos dessa linha (as NTN-Bs) estiverem oferecendo IPCA+6%, seu dinheiro estará mal alocado. E se precisar do dinheiro antes do vencimento, corre o risco de ver sua renda fixa converter-se em perda fixa.  

A modalidade mais segura é a pós-fixada, que segue o CDI na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Se a Selic/CDI cair a 2%, você vai receber menos, claro. Mas numa realidade assim todos os ativos de renda fixa estarão pagando uma taxa famélica, já que a Selic baliza todo esse mercado.    

Como investir em CDB?

Ficou interessado em investir em CDBs? Então siga estes dois passos:

  1. cadastre-se em uma corretora (seja a do seu banco, seja qualquer outra): é a melhor maneira de ter acesso a um cardápio variado de CDBs. Você não precisa ter conta no banco X para investir em CDBs do banco X – basta estar disposto a emprestar dinheiro para ele em troca de condições que lhe pareçam satisfatórias;    
  2. escolha bem a instituição emissora: para correr riscos menores, dê preferência a CDBs de instituições confiáveis e sólidas – mais ainda quando pretende investir mais do que o limite de R$ 250 mil do FGC. Verifique a classificação de risco do banco emissor do CDB; seja como for: quanto maior a taxa que o banco oferece, pior tende ser a classificação dela. Não existe almoço grátis. 
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Demanda por título público atrelado à inflação cai e dificulta gestão da dívida pelo Tesouro https://investnews.com.br/financas/demanda-por-titulo-publico-atrelado-a-inflacao-cai-e-dificulta-gestao-da-divida-pelo-tesouro/ Tue, 14 May 2024 14:15:51 +0000 https://investnews.com.br/?p=578630 O Tesouro Nacional tem visto a demanda por seus títulos ligados à inflação secar, mesmo pagando taxas mais altas em meio ao ambiente de incertezas externas e domésticas, o que torna desafiador o plano do governo para alongar o prazo médio da dívida pública.

Retornos reais acima de 6% ao ano em papeis tão longos quanto os de 20 anos têm sido ofertados nas chamadas NTN-Bs, que pagam um prêmio acima do índice de preços ao consumidor IPCA, mas os volumes efetivamente vendidos nos leilões indicam pouco apetite por parte dos investidores.

Uma fonte do Ministério da Fazenda, falando sob condição de anonimato porque as discussões são privadas, demonstrou preocupação com o cenário, alertando que a estratégia de longo prazo do Tesouro de ampliar a participação de títulos ligados à inflação pode ser afetada.

No mercado, gestores confirmam o mau momento para os papéis.

“Se ano passado foi ruim, este ano está sendo tenebroso para as NTN-Bs”, reconheceu Daniel Leal, estrategista de renda fixa da corretora BCG e ex-coordenador de operações da Dívida Pública no Tesouro. “Está totalmente vazio e cada parte da curva está sofrendo por um motivo diferente.”

Segundo Leal, a média semanal de emissões de NTN-Bs está ficando um pouco abaixo da metade do patamar necessário para o Tesouro atingir o meio do intervalo de participação almejado, que é de 27% a 31% da dívida pública federal este ano. No longo prazo, mirando 2035, o Tesouro busca aumentar esse patamar ainda mais, para 35%, conforme seu Plano Anual de Financiamento.

Ao fim do primeiro trimestre, o percentual havia caído a 29,95%, de 32,00% em março de 2023.

“Esse mercado ruim está afetando bastante o Tesouro, e como consequência ele vai ter uma composição da dívida pior no final do ano do que ele tinha no início do ano”, disse Leal.

O Tesouro busca no longo prazo aumentar a participação de NTN-Bs e títulos prefixados na dívida porque o custo associado a esses papeis é mais previsível e envolve menos riscos do que o associado aos títulos que flutuam com a Selic ou com o câmbio, que podem variar bruscamente devido a choques macroeconômicos.

Profissionais do mercado ouvidos pela Reuters afirmaram que as dificuldades do Tesouro em negociar NTN-Bs nos leilões semanais estão ligadas principalmente à concorrência exercida pelos títulos ofertados no mercado secundário e pelas emissões de debêntures indexadas ao IPCA neste primeiro semestre do ano.

Nas últimas semanas, o avanço dos rendimentos das Treasuries norte-americanas, ponderaram os profissionais, levou à abertura da curva de juros também no Brasil, com consequente redução dos preços dos papeis. A reação de parte do mercado foi vender NTN-Bs para limitar os prejuízos. Em muitos casos, fundos foram obrigados a negociar títulos no mercado secundário por conta de mecanismos de “stop loss” (parada de perdas), que preveem parâmetros automáticos de venda ou compra para amenizar riscos.

“O que temos visto é que há um fluxo vendedor bem relevante. Fundos institucionais estão desmontando posições e vendendo NTN-Bs no secundário, o que acaba levando a uma concorrência com o leilão do Tesouro”, comentou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.

O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, pontuou que a abertura da curva de juros no Brasil de fato gerou perdas para alguns participantes, que foram obrigados a vender NTN-Bs no mercado secundário.

“Vemos tanto vendas no mercado secundário quanto menor apetite para aquisições de NTN-Bs no mercado primário”, afirmou Goldenstein.

“Um segundo fator é que houve uma emissão muito forte do setor privado de debêntures indexadas ao IPCA, ao longo deste ano. E essas emissões privadas também representam uma concorrência (para os leilões do Tesouro)”, acrescentou.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros (Anbima) mostram que no primeiro quadrimestre de 2024 as emissões de debêntures indexadas ao IPCA somaram 34,1 bilhões de reais — seis vezes os 5,7 bilhões de reais dos quatro primeiros meses do ano passado.

Ao apresentar seu plano de financiamento em janeiro, o Tesouro destacou a importância da ampliação da participação das NTN-Bs, elencando o título e os papeis prefixados entre os fatores dos quais o governo depende para que seja observado um aumento do prazo médio da dívida pública.

Na ocasião, porém, o órgão disse que previa mais emissões de títulos ligados à Selic no curto prazo até que fosse observada uma melhora estrutural na dívida pública, com classificação de risco mais positiva do país e retorno de investidores estrangeiros.

Diante de uma inflação anual que fechou abril em 3,69%, os títulos atrelados ao IPCA também acabam sendo menos procurados, com investidores privilegiando os papeis ligados à taxa básica de juros que, a despeito do ciclo de cortes iniciado em agosto passado, está ainda em 10,50% ao ano.

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Previdência x Educa+: O que escolher para bancar a faculdade dos filhos? https://investnews.com.br/financas/previdencia-educa-o-que-escolher-para-bancar-a-faculdade-dos-filhos/ Mon, 29 Apr 2024 17:19:05 +0000 https://investnews.com.br/?p=573948 A pequena Alice Silva completa três anos em maio e começou a frequentar a escolinha no início do ano. Faculdade, na melhor das hipóteses, só vai fazer parte da vida dela daqui a 14 ou 15 anos. Mas a avó resolveu garantir desde já que não faltem recursos para isso. Está investindo R$ 1 mil todo mês no Educa+, título lançado pelo Tesouro em agosto do ano passado. 

Educa+ e previdência privada são dois tipos de investimento que pais e avós têm buscado para garantir os estudos de filhos e netos lá na frente. Com a ajuda do planejador financeiro Marlon Glaciano, o InvestNews fez um levantamento das características de cada instrumento, suas diferenças e uma simulação sobre qual é o melhor investimento.

Antes de mais nada, é importante dizer que, nos dois casos, os especialistas indicam que o investimento deve estar no nome da criança – hoje, boa parte dos recém-nascidos saem da maternidade com CPF, documento obrigatório na abertura de uma conta investimento. 

Grupo de graduandos durante a formatura
Foto: Adobe Stock Photo

Educa+ 

Educa+ e previdência privada são dois investimentos com características (e custos) bem diferentes.

O Educa+ é um título público. Quando o investidor compra o papel, está emprestando dinheiro para o governo, que se compromete a devolvê-lo lá na frente de acordo com uma remuneração pré definida. No caso do Educa+, o título é corrigido pelo IPCA (ou seja, é indexado à inflação) mais uma taxa de juro combinada. Apenas para ilustrar, o Educa+ 2034 estava sendo oferecido na quinta (25) a IPCA + 6,09% ao ano, ou seja, um juro real anual de 6,09%.

Diferentemente de outros títulos do Tesouro Direto, o Educa+ não tem pagamento de juro antes do vencimento (conhecido como cupom) e também não devolve ao investidor todo o dinheiro de uma vez. O investidor (neste caso, a criança) vai receber os recursos em 60 parcelas mensais – os cinco anos que podem durar uma graduação. Nesse período, as parcelas continuam sendo reajustadas. 

“Com o Educa+ se tem uma previsibilidade de uma renda mensal”, explica João Ferreira, sócio da assessoria de investimento One.

Previdência privada

Previdência remete à aposentadoria e pode parecer estranho, à primeira vista, usar esse tipo de investimento para custear a faculdade de um filho. Mas os benefícios fiscais e a flexibilidade da aplicação tem atraído cada vez mais a atenção dos pais.

LEIA MAIS: Previdência privada: o que é e o que você precisa saber

Os planos de previdência investem em fundos que podem ser atrelados à inflação, como o Educa+, mas também podem investir em fundos multimercado (que aplicam em vários tipos de ativo, como renda fixa, ações, câmbio e commodities) ou em fundos de renda variável. 

“Quando se olha o longo prazo, como é o caso da educação dos filhos, os pais podem correr mais riscos, caso tenham esse perfil como investidor”, explica Bruna Furlanetto, assessora do escritório de investimentos Nippur Finance. O ponto de atenção aqui é que, diferentemente do Educa+ – aplicação em que o investidor sabe quanto vai receber lá na frente –, na previdência privada o valor depende da rentabilidade desses fundos. 

Outra diferença entre a previdência privada e o Educa+ é a forma de receber os recursos. Na previdência, há três maneiras de ter o dinheiro de volta depois que termina o chamado prazo de acumulação: o resgate total, a renda mensal por período determinado ou a renda mensal vitalícia. Como a ideia é pagar a faculdade, não faz muito sentido optar por uma renda mensal vitalícia (a expectativa de vida será muito alta e o valor mensal vai levar em conta o que foi acumulado).

Alguns especialistas chamam a atenção para uma quarta maneira de receber os recursos: deixar o prazo do plano lá para a frente e fazer resgates. Dessa maneira, se o filho quiser continuar investindo, pensando na aposentadoria, ele poderá usar o mesmo plano. O ponto de atenção aqui é que os resgates durante a fase de acumulação só podem ser feitos a cada 60 dias. 

Custos

O Tesouro cobra uma taxa de custódia (como se fosse uma taxa para guardar o papel) de seus títulos, que varia de 0,1% a 0,5% do total investido. Mas, no caso do Educa+, o governo decidiu não cobrar essa taxa desde que o investidor não venda o título antes de seu vencimento e desde que não tenha uma renda mensal superior a quatro salários mínimos (R$ 5.648 em valores atuais). Mas vamos combinar que ninguém está esperando que o filho já esteja ganhando isso enquanto cursa a faculdade. Se estiver, melhor. 

LEIA MAIS: 7 taxas que o investidor precisa conhecer antes de investir

Do lado da previdência privada, há o custo da taxa de administração do fundo: em média, de 1% ao ano. 

A tributação é bem diferente para os dois produtos. No caso do Educa+, o que vale é a tabela regressiva do Imposto de Renda, ou seja, a alíquota vai diminuindo quanto mais tempo o dinheiro fica aplicado. Depois de dois anos de aplicação, a alíquota fica estacionada em 15% sobre o valor do rendimento.

Na previdência há dois tipos de plano. O PGBL permite que os valores aplicados sejam deduzidos do Imposto de Renda (até o limite de 12% da renda bruta anual de quem tem a criança como dependente), mas depois, no resgate, o imposto é cobrado sobre todo o dinheiro acumulado e não somente sobre os ganhos, como é o caso de outro tipo de previdência privada, o VGBL, e de títulos do Tesouro. 

Na previdência, o investidor também pode optar pela tabela regressiva (veja abaixo). As alíquotas são bem mais salgadas para um prazo curto, mas quem deixa o dinheiro guardado por dez anos paga uma alíquota de 10% – se for um VGBL, isso é cobrado sobre o rendimento e se for um PGBL, sobre todo o valor aplicado. 

Simulação

Os impostos fazem uma diferença importante no resultado da simulação de uma aplicação no Educa+ e em um VGBL.

Quem tem um um filho de oito anos e investe R$ 1.000 por mês durante dez anos em um papel do Educa+ terá em 2035 um total de R$ R$ 191.819.39, levando em conta a remuneração de IPCA + 6,04% ao ano. Neste exemplo, a renda mensal começará em R$ 3 mil e seguirá sendo corrigida ao longo de 5 anos (60 meses).

Para efeito de comparação, o planejador financeiro Marlon Glaciano selecionou um plano de previdência do tipo VGBL que paga 0,83% ao mês (equivalente, atualmente, a IPCA + 6,04% ao ano) e que tem uma taxa de administração de 0,44% ao ano. Com essas condições, a quantia acumulada no plano de previdência acaba sendo um pouco maior: R$ 195.938.74, ou seja, uma diferença de R$ 4.119.

Ambas as análises levam em conta o valor líquido de imposto.

Em condições comparáveis, é a tributação que faz diferença em favor da previdência privada. Mas vale lembrar que no Educa+ é possível saber antecipadamente quanto o investidor vai receber lá na frente e, no caso da previdência, o valor vai depender da rentabilidade do fundo. Pais e avós devem ter isso em mente ao escolher uma das duas aplicações. 

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Renda fixa em 2024: pré-fixados e emissores de mais risco devem ficar atrativos https://investnews.com.br/financas/renda-fixa-em-2024-pre-fixados-e-emissores-de-mais-risco-devem-ficar-atrativos/ Tue, 26 Dec 2023 08:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=543644 Que o ciclo de queda da Selic iniciado em 2023 deve continuar ao longo do próximo ano já é consenso de mercado. E, via de regra, juros mais baixos costumam tornar a renda fixa menos atrativa para o investidor. Porém, especialistas apontam que, apesar de estar diminuindo, a taxa brasileira ainda deve continuar alta – embora não descartem a necessidade de avaliar quais investimentos nessa modalidade fazem mais sentido para o momento. 

Dinheiro, Real Moeda brasileira. Crédito: © José Cruz/Agência Brasil,

Nos últimos meses, o Banco Central reduziu a Selic em 2 pontos percentuais, a 11,75% ao ano, em um cenário de inflação mais controlada. Ainda assim, o Brasil segue na lista das maiores taxas de juros reais do mundo. “Ainda temos uma boa janela no próximo ano em que a renda fixa, em termos reais, continua bem interessante”, comenta Guilherme Sharovsky, Investment Banker da Bloxs Capital Partners. 

Para 2024, a previsão é que a Selic caia até 9,25% ao ano, segundo o Boletim Focus de 15 de dezembro. Com isso, “a transição para renda variável será paulatina”, prevê Caio Schettino, head de alocações da Criteria, sobre renda fixa e renda variável.

“Até porque ainda temos dívidas de alta qualidade de crédito com remuneração média de CDI+ 2% a.a., o que garantirá o desejado 1% ao mês com liquidez e segurança ao longo de 2024”, complementa. 

  • Confira: o que é CDB, quanto rende e mais

O que muda na estratégia

Apesar de os especialistas concordarem que a renda fixa deve seguir atrativa em 2024 mesmo com juros em queda, isso não significa que a estratégia do investidor deva permanecer a mesma diante do novo cenário. 

Títulos pós-fixados, por exemplo, tendem a render menos quando os juros estão em queda. Um exemplo é o Tesouro Selic, que remunera o investidor pela taxa básica de juros ao final do prazo. A rentabilidade, então, fica sujeita às mudanças na política monetária, diferente do que acontece com papéis pré-fixados, em que a remuneração já é conhecida no momento da compra. 

“Quando a taxa Selic cai, os títulos pré-fixados sobem, mas tem que ter um cuidado porque tem que saber o que está fazendo. Quem entrar nesses títulos pensando nisso, se resgatar antes do vencimento, pode ter prejuízo”

Cleide Rodrigues, analista chefe da Money Rise Research

Sobre esse ponto, Marina Renosto, head de alocações da Blackbird Investimentos, acrescenta que “também existe a possibilidade de ganhar na marcação a mercado (venda antes do vencimento), caso a trajetória de queda dos juros seja maior que a já precificada no momento da compra”.

Rende menos, mas ainda vale a pena?

Ainda que títulos pós-fixados e outros produtos de renda fixa possam render menos com a Selic em queda, especialistas apontam que eles ainda podem fazer sentido na composição da carteira do investidor. “Renda fixa continua excelente para objetivos de curto e médio prazo”, diz Ivan Eugênio, analista da Money Wise Research. 

“Estamos presenciando títulos pagando cada vez menos, tanto CDBs quanto LCI, LCA, especialmente pré-fixados e títulos híbridos – em que parte do prêmio está pós-fixada e outra, pré-fixada, como o IPCA+. Ainda que pague menos, o investidor tem que considerar uma posição em renda fixa para ter um portfólio mais equilibrado, pensando no risco-retorno de toda a sua carteira de investimento.”

Ivan Eugênio, analista da Money Wise Research.

Rodrigues concorda, e diz que “o fato é que, para esses objetivos de curto prazo, não se deve buscar uma rentabilidade absurda”. 

Mas renda fixa não é só títulos públicos

Não é somente a estratégia para investimentos em títulos públicos que sofre mudanças pelo cenário dos juros. Os especialistas mencionam também os títulos de empresas privadas, como debêntures, entre outros exemplos em que há uma variação maior de risco (afinal, a classificação depende da consolidação do emissor – ou seja, da empresa na qual se está investindo). 

Diante disso, Sharovsky afirma que a grande mudança com a diminuição da taxa Selic não é se a renda fixa ainda faz sentido ou não, mas “qual seu papel exato”.

“Quando a taxa de juros está muito alta, em tese faz mais sentido alocar em ativos de empresas mais consolidadas, porque é um aumento de estresse do mercado. Quando a taxa de juros começa a cair, o prêmio para essas emissões de pagadores já consolidados fica um pouco mais apertado. Isso abre mais espaço para alocar em operações com taxa maior. Você muda de papéis com teses de segurança melhores para papéis um pouquinho mais arriscados.”

Guilherme Sharovsky, Investment Banker da Bloxs Capital Partners.

Na mesma linha, Schettino comenta que será necessário analisar teses high yield, em que é possível “encontrar boas empresas a taxas ainda atrativas”, e lembra que houve emissões com volumes expressivos de empresas mais alavancadas, especialmente no setor de saneamento.

Mas Eugênio alerta para a necessidade de avaliar o perfil de risco do investidor antes de optar por papéis com rentabilidade maior. “Ainda que haja proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), o investidor precisa ter muito cuidado em se expor a emissores de baixa qualidade.”

Renda fixa em 2024: onde investir?

O InvestNews perguntou aos especialistas quais são as recomendações em renda fixa para os investimentos no próximo ano e, com a ênfase na necessidade de se atentar ao perfil de risco, eles apontaram que, com o cenário de juros mudando, a diversificação ganha ainda mais importância. 

Renosto enxerga para 2024 “os investidores reduzindo um pouco a exposição aos ativos atrelados ao CDI, como decorrência do movimento de corte de juros e alternando este montante parcial para alguns ativos prefixados ou até mesmo outras classes que podem se beneficiar com este movimento, como ações e fundos imobiliários”. 

“Não acho que é o momento de zerar CDI, até porque a queda deve ser gradual. Entendo que cada vez mais existe um pouco mais de conforto em migrar para prefixados de diferentes vencimentos”

Marina Renosto, head de alocações da Blackbird Investimentos.

Já Schettino, por sua vez, comenta suas recomendações de investimentos em renda fixa de emissores privados, e diz que a Criteria prioriza “setores com teses seculares em 2023, como infraestrutura, agronegócio, saúde e óleo e gás, como Equatorial, Eletrobras, Taesa, JBS, Raízen, Rede D’Or e Raia Drogasil”. 

“Nos mesmos setores, encontramos no segundo escalão teses com perfis mais arrojados, embora com boa estrutura de governança e balanços robustos. Empresas como FS Bio, Lavoro, Enauta, Aegea, Hapvida devem compor a carteira de Renda Fixa dos nossos clientes em 2024”, complementa ele. 

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InvestNews lança simulador de investimentos em renda fixa https://investnews.com.br/financas/investnews-lanca-simulador-de-investimentos-em-renda-fixa/ Mon, 06 Nov 2023 22:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=539134 O InvestNews acaba de lançar nesta segunda-feira (6) mais uma ferramenta para auxiliar o investidor: o simulador de investimentos em renda fixa, que compara o retorno de aplicações como Tesouro Direto, Selic, poupança, CDB, CDI, IPCA, LCI, LCA e mostra qual deles oferece o melhor rendimento.

Com a ferramenta, é possível fazer simulações de rendimentos ao indicar um valor que o usuário projeta para depósito inicial e mensal, além de sinalizar por quantos meses deseja fazer os aportes. 

A partir daí, o simulador mostrará o total investido, o rendimento no período e o rendimento mais o valor investido, conforme as taxas de rendimento de cada investimento.

Simulação feita pela ferramenta do InvestNews.

Ele compara os retornos de produtos como Tesouro Selic, CDB (Certificado de Depósito Bancário), Letras de Crédito (LC), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), além do ganho adicional de cada um. 

É importante ressaltar que os rendimentos são meramente hipotéticos, conforme as taxas vigentes no momento da compra ou resgate do investimento. Ou seja, a rentabilidade efetiva pode ser diferente da indicada pelo simulador, conforme as variações de mercado. A ferramenta serve como um guia para o investidor se orientar.

O simulador se soma a outras lançadas recentemente pelo InvestNews, como a calculadora de contribuição da Previdência Social e calculadora da tabela Price para financiamentos.

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Tesouro x CDB: quais as diferenças na hora de formar a reserva de emergência? https://investnews.com.br/financas/tesouro-x-cdb-quais-as-diferencas-na-hora-de-formar-a-reserva-de-emergencia/ Sun, 29 Oct 2023 10:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=537904 Quando o assunto é a escolha do investimento para guardar a reserva de emergência, os papéis de dívida de bancos, os chamados Certificados de Depósito Bancário (CDBs), com possibilidade de resgate a qualquer hora, e os títulos de dívida do governo, em especial o Tesouro Selic, costumam estar entre as opções mais recomendadas pelos especialistas.

Cédulas de real
Cédulas de real Crédito: Agência Brasil

“O valor principal desses títulos não é mexido. Ou seja, o investidor não corre o risco de perder o valor investido na hora do resgate. Às vezes, ele pode resgatar com uma rentabilidade baixinha, mas a intenção da reserva de emergência não é rentabilizar e sim proteger da inflação”, alerta Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais.

Em contrapartida, as aplicações têm características diferentes, como a capacidade dos emissores em honrar com o pagamento.

“Se tudo der errado na economia, quem vai quebrar primeiro é o banco, não o governo. E o governo ainda tem a opção de se auto financiar emitindo moeda, o que diminui ainda mais o que a gente chama de risco soberano”

Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais

Vale destacar que, embora o risco de falência de uma instituição financeira seja muito superior ao de um país, quem investe em CDB conta com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que devolve até R$ 250 mil por CPF em caso de quebra. O ideal, portanto, é não ultrapassar essa quantia em cada instituição na hora de investir. 

Outro ponto distinto entre as aplicações é o indexador usado para remunerar os investidores. Enquanto o Tesouro leva em conta a taxa básica de juros, a Selic, os CDBs acompanham a taxa DI (Depósito Interbancário) que é, em media, 0,10% menor do que a Selic. 

A taxa DI é a mesma usada pelos bancos quando emprestam dinheiro entre si. “Essas operações de curto prazo acontecem sempre ao final do dia e os bancos que fecharam com sobra de caixa emprestam para os que tiveram excedente, e essa é a taxa que remunera essas operações”, diz Luciana Ikedo, assessora de investimentos e especialista em finanças. 

Mas se no mundo dos investimentos quanto maior o risco, maior o retorno exigido, por que as instituições financeiras – que são menos seguras – pagam um prêmio menor do que o governo? 

“Se a taxa DI fosse maior, os bancos escolheriam vender seus títulos públicos (descapitalizando o governo) para gerar caixa, em vez de pegar empréstimos por meio dos CDIs”

Adriana Matheus, economista com certificação CFP e especialista em investimentos

O processo é parecido com a contratação de crédito por uma pessoa física que tem dinheiro investido. Se no momento de comprar um bem, por exemplo, o custo do empréstimo for menor do que os juros obtidos com a aplicação financeira, valerá mais a pena recorrer ao crédito bancário do que resgatar o valor aplicado.

Paulo Azevedo, consultor e professor nas áreas de finanças e contabilidade do Insper, explica ainda que ao negociarem a taxa DI a um custo menor, os bancos também podem pagar menos na hora de remunerar os investidores. 

“O banco topa emprestar dinheiro para outro banco por uma taxa mais baixa para poder manipular o CDI para baixo e pagar menos em todas as captações”, reitera. 

Veja também: Como funciona o Tesouro Direto

O que vale mais? 

Como saber então o que é mais vantajoso na formação da reserva de emergência? Ariane explica que, para um CDB valer mais a pena do que o Tesouro, o rendimento deve superar a Selic, o que significa pagar mais do que 100% do CDI. 

Em simulação feita pelo próprio site Tesouro é possível notar a diferença de ganhos. Ao investir R$ 10 mil em um Tesouro Selic, com vencimento em 2026, e um CDB que remunere 105% do CDI, o investidor da segunda opção terá ao final do período um valor líquido maior do que o título público: R$ 12.439,91 contra R$ 12.320,31. 

O cálculo leva em conta o pagamento de Imposto de Renda e a taxa de custódia da B3, cobrada do investidor que tem mais de R$ 10 mil investidos e que corresponde a 0,20% do saldo total de suas aplicações. 

Ao mesmo tempo, se a aplicação for em um CDB que renda 100% do CDI, o valor recebido pelo Tesouro ultrapassará a do título bancário. 

Investimentos (foto: Pixabay)
Investimentos (foto: Pixabay)

Entretanto nem sempre será fácil encontrar disponível no mercado um título que pague mais do que a taxa DI, quando se trata de investimentos com facilidade de resgate. 

“Sabendo que o investidor pode tirar os recursos a qualquer momento, o banco não vai alavancar esse dinheiro, ele vai fazer uma utilização mais conservadora, logo ele vai pagar menos para o investidor também”, explica Ariane.

Por fim, os especialistas explicam que nem sempre será fácil contabilizar se vale mais a pena comprar um CDB ou o título do Tesouro, o ideal é que o investidor simule as opções e busque proteger parte de sua reserva de emergência com investimentos em títulos do governo. 

Se decidir emprestar dinheiro para o banco, é sempre indicado buscar taxas de retorno mais atrativas para compensar o risco, além da facilidade no resgate e se atentar ao limite do FGC.

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