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Para Amy Web, mundo vai entrar em um superciclo tecnológico

Em estudo de quase mil páginas sobre tendências tecnológicas, o Future Today Institute (FTI) capitaneado pela futurista analisou 16 temas.

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Na 17ª divulgação de seu relatório anual, Ammy Web aponta que o mundo vai entrar em um superciclo tecnológico. O que aponta para um longo período de expansão da demanda, com os preços das matérias-primas em alta e ativos a níveis sem precedentes. E isso pode se estender ao longo de anos impulsionado por mudanças estruturais e sustentadas na economia.  

Em um estudo de quase mil páginas sobre Tendências Tecnológicas, o Future Today Institute (FTI) capitaneado pela futurista analisou 16 temas, como, IA, notícias e entretenimento, medicina e saúde, serviços financeiros, esportes, metaverso, web3, espaço, biotecnologia, mobilidade, clima e energia, entretenimento, entre outros. Na conferência do SXSW 2024, a futurista fez uma análise detalhada do levantamento.

Amy Web durante SXSW 2024

Inteligência Artificial no centro

De certa forma, a inteligência artificial está ligada a todos os temas abordados em relatório. E para este ano é esperado que o panorama da IA passe por uma consolidação significativa, o que aponta para um superciclo tecnológico que vai mudar o rumo da humanidade. Segundo Web, a atual geração deveria ser chamada de “T” (de transição), e não “X”, “Z” ou millenials.

Web apontou para 695 tendências em relatório, com impactos distintos a curto, médio e longo prazo em diferentes industrias, negócios e serviços.

No entanto, investimentos estratégicos, inovações revolucionárias e manobras regulatórias tende a capacitar ainda mais um grupo seleto de poderosos, “intensificando a dinâmica competitiva e moldando a trajetória do domínio global da IA”, aponta.

Sobre este grupo de “poderosos”, Web cita a OpenAI, que busca investimentos na casa dos US$ 7 trilhões. Isso porque Sam Altman quer renovar o setor de semicondutores com trilhões em investimentos, visando a capacidade global de chips para impulsionar o crescimento da IA. Para isso, Altmann estaria em contato com investidores nos Emirados Árabes.

A Nvidia também foi destaque no estudo, dado a corrida para adquirir as poderosas GPUs da empresa para treinamento de modelos de IA à medida que todos, desde gigantes da tecnologia até startups, buscam a potência computacional que essas unidades oferecem para tarefas avançadas de aprendizado de máquina.

A questão é que o desenvolvimento da IA ​​requer recursos pesados, razão pela qual os gigantes de tecnologia tendem a se intensificar no setor. Os maiores nomes, como, OpenAI, DeepMind, Anthropic – terão cada vez mais escala e estarão atrelados aos maiores provedores de nuvem do mundo, como, Microsoft, Google e Amazon. Logo, o capital de risco e o capital privado tendem a continuar a inundar tanto as startups como as empresas maduras “e agora os fundos soberanos têm um lugar à mesa’, aponta o FTI.

Controle americano

No entanto, os EUA tendem a reforçar controle sobre IA, restringindo o acesso a tecnologias facilitadoras cruciais, como semicondutores. Segundo o relatório, em um movimento estratégico, os Estados Unidos pressionam os aliados a implementarem restrições semelhantes contra a China e a Rússia.

À medida que as tensões aumentam, especialmente na indústria de semicondutores, as empresas terão de diversificar as suas cadeias de abastecimento para mitigar os riscos, segundo o relatório.

“A bifurcação no mercado de chips de IA pode obrigar as empresas a inovar de forma independente ou a criar cadeias de abastecimento internamente, o que poderá levar ao aumento dos custos”.

Interação

Já pensando no público, pela primeira vez, as pessoas deverão interagir com modelos avançados de IA multimodais capazes de compreender e gerar diversos tipos de mídia, incluindo imagens e vídeos. “Esta inovação é semelhante aos processos de aprendizagem humana, permitindo que a IA aprenda a partir de informações visuais e auditivas, e não apenas de texto – tal como nós”, aponta o documento.

Do lado dos dispositivos como Apple Vision Pro e o Quest, da Meta, estes tendem a ser cada vez mais populares. O x da questão é que a computação espacial pode criar cenários complexos de conexão entre vida real e virtual.

“Estes computadores [Vision Pro] estão sendo desenhados com outros propósitos. Eles acompanham a sua intenção através das movimentação de suas pupilas, fazendo com que a tecnologia saiba o que você vai fazer antes mesmo de você saber o que vai fazer”. A futurista comenta que este é o próximo passo do capitalismo, com empresas fazendo novos e melhores dispositivos, impulsionando os consumidores pagarem qualquer preço por isso.

Mas a questão central é que Inteligência Artificial é um termo abrangente que abarca muitas técnicas, modelos e estruturas diferentes que compõem o setor, explica Web. “O objetivo da IA ​​é criar máquinas inteligentes que possam sentir, raciocinar, agir e adaptar-se como os humanos, ou de formas que vão além das nossas capacidades”.

“Hoje, os carros podem estacionar sozinhos, enquanto as plataformas emergentes são capazes de manter conversas aparentemente naturais. Agora, a IA está evoluindo para ter capacidades além das humanas”.

Isso aponta que a IA tende a estar incorporada em tudo, transformando a interação com computadores, enquanto a tecnologia fica cada vez mais eficiente. Mas esta corrida rumo ao progresso tende a se desenvolver no meio de tensões geopolíticas, à medida que o domínio destas tecnologias estratégicas remodela a dinâmica do poder global.

IA na biotecnologia

É aguardado que a IA revolucione os cuidados com a saúde, o que tende a gerar um número inimaginável de novas terapias. 

Segundo o estudo, há um novo tipo de IA, a Organoid Intelligence (inteligência artificial de organoides). Essa tecnologia utiliza células vivas como meio computacional. A GNoME, da Deepmind, já está criando proteínas novas a partir de testes com IA.

Segundo Amy, foi anunciado recentemente um sistema de biocomputação feito de células cerebrais humanas vivas que aprendeu a reconhecer uma voz humana usando clipes de áudio.

No entanto, também é esperado que no próximo ano, o alcance da IA ​​deve se estender não apenas às pessoas, mas para animais de estimação e objetos, abrindo caminho para um futuro muito próximo em que assistentes digitais, sistemas automatizados e consciência espacial serão contínuos, omnipresentes e invisíveis. 

Já sobre finanças, a futurista faz uma provocação: imagine que seu banco utilize dados da sua saúde para definir as taxas de um financiamento imobiliário de 30 anos?

Há pesquisadores que já predizem a data da morte das pessoas utilizando algoritmos de IA. O estudo foi publicado em dezembro do ano passado na renomada revista “Nature”.

Lacunas e desigualdades

Apesar de todo o desenvolvimento, ainda deve persistir uma lacuna de talentos no setor, especialmente na ciência de dados, o que aponta para o limite da sua aplicação em setores críticos como a agricultura e os cuidados com saúde.

Mas a distribuição desigual dos avanços da IA ​​tende a aprofundar as desigualdades globais, com o sul global a enfrentar desvantagens significativas, aponta Web. No meio de todos estes desenvolvimentos estão as persistentes tensões geopolíticas entre a China e o Ocidente.

“A IA é mágica, mas não é mágica. Desde que as expectativas sejam moderadas, esta deverá ser uma era de inovação, experimentação e crescimento significativos, especialmente à medida que a IA impulsiona o crescimento em outras áreas da ciência e da tecnologia. Estamos cautelosamente otimistas sobre o que está no horizonte”.

Do lado das ameaças, não foi descartada a possibilidade que através da IA sejam aprendidas as habilidades certas, mas com os objetivos errados. “Um sistema de IA pode ser solicitado a aprender algo que poderia ser usado para fins prejudiciais. Os produtos comerciais de IA podem inadvertidamente incentivar o mau comportamento”.

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