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Cinemas veem na venda da Warner um novo obstáculo à recuperação

Exibidores temem menos lançamentos nas salas e janelas menores antes da chegada dos filmes ao streaming

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“Avatar: Fogo e Cinzas”, um espetáculo visual e o terceiro filme da franquia blockbuster, é o tipo de produção feita para a tela grande. Lançado nos Estados Unidos em 19 de dezembro, o filme chegou durante o fim de semana antes do Natal cercado de expectativa por parte dos exibidores, que ainda tentam atrair o público de volta após a pandemia.

A realidade, porém, foi menos animadora. Na noite de estreia, no subúrbio de Port Chester, em Nova York, a sessão IMAX 3D do filme em um cinema AMC de 14 salas estava apenas cerca de metade cheia.

E os donos de salas agora enxergam um novo motivo de preocupação no horizonte: um possível negócio envolvendo a Warner Bros. Discovery.

A Netflix encaminhou neste mês a aquisição do estúdio Warner Bros. por US$ 72 bilhões, enquanto a Paramount ainda disputa a companhia com uma oferta hostil. Analistas e exibidores avaliam que qualquer uma das transações pode resultar em menos lançamentos nos cinemas.

Se a Netflix sair vencedora, o temor é de que as janelas de exclusividade nas salas sejam encurtadas, acelerando a chegada dos filmes ao streaming — embora tanto a Netflix quanto a Paramount afirmem que manteriam o modelo tradicional.

“Quando estúdios tradicionais são absorvidos, há uma queda significativa na produção”, disse Michael O’Leary, diretor-executivo da Cinema United, entidade que representa os exibidores.

O público nos cinemas já vinha caindo nos últimos anos, pressionado pelo avanço das plataformas de streaming e pela redução no número de grandes lançamentos. Durante a pandemia, muitas salas fecharam definitivamente.

As que sobreviveram tiveram de investir pesado para se adaptar. Os custos imobiliários dos cinemas — incluindo aluguel, impostos, seguros e manutenção — cresceram mais de um terço como proporção da receita desde 2019, segundo a Datex Property Solutions.

Em 2025, o setor deu sinais de estabilização, com a desaceleração no ritmo de fechamentos. A bilheteria doméstica deve somar cerca de US$ 8,8 bilhões no ano, um aumento de 3% em relação a 2024, impulsionado principalmente pelo aumento dos preços dos ingressos, de acordo com a Nash Information Services.

Ainda assim, o nível está bem abaixo do pico superior a US$ 11 bilhões registrado nos cinco anos anteriores à pandemia. Para muitos investidores, o setor só voltará a ser tão lucrativo quanto antes quando a bilheteria anual se aproximar de US$ 10 bilhões, afirma Eric Wold, analista da Texas Capital Securities.

Para alcançar esse patamar, os exibidores dependem de mais filmes capazes de atrair grandes públicos, como “A Minecraft Movie”, lançado neste ano. “Avatar: Fogo e Cinzas” arrecadou cerca de US$ 88 milhões nos EUA e no Canadá no fim de semana de estreia — um resultado sólido, mas longe de espetacular, segundo a Disney.

“Quando os filmes certos chegam, as pessoas querem ir”, disse Greg Marcus, CEO da rede Marcus Corp.

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O problema é que o pipeline de lançamentos diminuiu de forma significativa nos últimos cinco anos, afetado pela pandemia e, depois, pelas greves em Hollywood. Sem controle sobre a produção de filmes, os exibidores passaram a apostar na experiência.

A Marcus Corp., por exemplo, investiu US$ 390 milhões na última década em poltronas de luxo, telas maiores, novos sistemas de som, além de coquetéis artesanais e pizzas de massa fina. Outros operadores acrescentaram boliches, playgrounds e bares independentes às salas.

A Flix Brewhouse, rede de cinemas com serviço de refeições fundada no Texas em 2011, conseguiu manter a rentabilidade com a venda de alimentos e bebidas, como sua cerveja artesanal Nebulas Hazy IPA e o Bacon Brewhouse Burger. A empresa tem hoje 11 unidades e planeja expandir, mas depende de um fluxo constante de lançamentos e de janelas longas de exclusividade.

“Precisamos de uma janela saudável, para que as pessoas não pensem simplesmente: ‘Vou esperar sair no streaming’”, disse o diretor de receitas, Chris Randleman.

Entre o público, o hábito também mudou. Angelica Cilio, de 20 anos, disse que costumava ir ao cinema com amigos antes da pandemia, mas hoje prefere o streaming, abrindo exceção para filmes específicos, como “Five Nights at Freddy’s 2”.

“É algo divertido, mas de vez em quando”, afirmou.

A Netflix, pioneira do streaming, historicamente evitou lançamentos longos nos cinemas, levando apenas parte de seus filmes para exibição limitada. Neste ano, porém, enviou pelo menos duas dezenas de produções às salas, e seus co-CEOs afirmaram que manteriam lançamentos tradicionais para os filmes da Warner.

Há alguns sinais positivos. Produções voltadas ao público jovem vêm se saindo melhor, e uma agenda robusta de lançamentos está prevista para os próximos anos, com sequências aguardadas de franquias como Star Wars e Toy Story.

A Geração Z também tem ido mais aos cinemas. Pessoas entre 20 e 24 anos aumentaram sua participação no público frequentador no segundo e terceiro trimestres do ano, segundo a Kalibrate, que analisou dados de localização de celulares.

“É mais caro do que ficar em casa, mas a experiência é completamente diferente”, disse Emanuel Lopez, de 21 anos, que gastou US$ 30 em ingresso e refrigerante na estreia de Avatar.

Programas de fidelidade, como o AMC Stubs A-List, também ajudam a sustentar o fluxo. Ainda assim, as salas seguem mais vazias.

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“Não é comum ver cinemas realmente lotados como antes”, resumiu Ed Restrepo, assinante do programa.

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