Tarifas de Trump traçam uma nova rota para o comércio global

Sultão Ahmed bin Sulayem, CEO da DP Wold, diz que tudo o que tem dificuldade para chegar aos EUA está indo para outras partes do mundo

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O sultão Ahmed bin Sulayem tem um lugar privilegiado nas cadeias de suprimentos. O CEO da empresa de logística e terminais portuários DP World supervisiona a Zona Franca de Jebel Ali, em Dubai, um centro comercial que conecta os mercados da Ásia com a África, a Europa e os EUA.

Ele também lidera uma das maiores operadoras portuárias do mundo, com mais de 60 portos e terminais no Oriente Médio, África, Europa, Ásia e Américas.

Mesmo com as tensões geopolíticas e as tarifas de importação de Trump interrompendo os fluxos comerciais, bin Sulayem está otimista. “Estamos no mercado há muito tempo”, disse ele. “Já passamos por problemas geopolíticos, práticas monopolistas, políticas protecionistas governamentais, mas sabemos de uma coisa: quando se trata de comércio, ele é muito resiliente.”

Bin Sulayem afirma que as interrupções estão redirecionando o comércio, mas não está desacelerando-o.

E a DP World quer crescer onde quer que haja oportunidades.

Comércio mundial impulsiona receita

A receita da DP World no primeiro semestre deste ano cresceu 20% em relação ao mesmo período do ano passado, indo para US$ 11,2 bilhões.

Bin Sulayem afirmou que, ainda em 2025, a empresa fará “o maior investimento em anos”. Serão US$ 2,5 bilhões na expansão de portos em Dubai, República Democrática do Congo, Senegal, Índia e Reino Unido.

Recentemente, a companhia também assinou acordos para modernizar o Porto de Tartus, na Síria, expandir o porto e a zona de livre comércio de Caucedo, na República Dominicana, e expandir o Porto de Montreal, no Canadá.

Bin Sulayem conversou com o The Wall Street Journal sobre as mudanças comerciais que está observando em todo o mundo, que você acompanha logo abaixo:

Como as tarifas americanas estão afetando o comércio global?

Tudo o que não pode ser absorvido ou tem dificuldade para chegar aos EUA vai para outras partes do mundo. Estamos vendo um grande aumento no comércio com a África. Mas não é só a África. Jebel Ali também atende o subcontinente indiano, o alto e o baixo Golfo, do Iraque à Eurásia, bem como países asiáticos. Os países da Comunidade dos Estados Independentes são enormes — acredito que haja uma possibilidade de US$ 1,5 trilhão em comércio nas regiões sem litoral.

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Quais desses países mais lhe interessam?

Por muito tempo, o Uzbequistão não estava tão aberto aos negócios. Hoje, está se tornando enorme e estamos abrindo uma nova unidade por lá, apenas para atender à demanda. O Cazaquistão também está se organizando e tem um papel muito interessante no chamado ‘Corredor do Meio’, que movimenta mercadorias do Extremo Oriente e chega até Varsóvia. Estamos vendo novas rotas entre a Ásia e a Europa que passam pelo Afeganistão, Quirguistão e Turcomenistão. Essas novas rotas estão muito dinâmicas.

E os esforços para construir um corredor ferroviário e marítimo para ligar a Índia à Europa e aos EUA, via Emirados Árabes Unidos e Israel?

Levará muito tempo para desenvolver esse conceito ferroviário complexo, que será incrível quando estiver pronto. Mas, até que o construam, vamos mover os negócios agora por outras rotas rodoviárias e ferroviárias. Existem alternativas. Você pode usar o Iraque para chegar à Turquia ou à Síria, que está muito mais tranquilo do que costumava ser. Acabamos de assumir a gestão do Porto de Tartus, na Síria, e nossa equipe fará com que esse porto funcione muito melhor em breve. Quanto mais rotas você tiver para levar cargas para a Europa e a região, melhor para o comércio, porque você não quer ficar preso em uma só direção.

Você está preocupado com os investimentos na Índia? As tarifas americanas estão desacelerando o comércio entre os países?

A Índia ainda tem um mercado enorme que pode atender melhor do que qualquer outro — e esse mercado é a África. O Primeiro Ministro Narendra Modi visitou muitos países africanos para estabelecer relações, e por isso vemos que muitas cargas da Índia agora vão para essa região. Na minha opinião, a Índia está em melhor posição do que a China, porque transitar do Oceano Índico à África é muito fácil para eles. Estamos construindo um grande porto em Gujarat, chamado Tuna-Tekra. Não será apenas um porto, mas também um parque industrial com instalações de fábricas. Também somos a maior operadora ferroviária privada da Índia, que tem um crescimento considerável.

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