Javier Milei elegeu-se há dois anos com a promessa de fechar o banco central da Argentina e adotar o dólar. Donald Trump já declarou apoio ao governo liberal de Milei. Agora o presidente americanio pode demonstrar isso endossando a dolarização para um aliado importante dos EUA.
Milei conquistou grandes avanços fiscais e regulatórios desde que herdou um caos econômico dos peronistas em dezembro de 2023. Ele equilibró o orçamento e liberou milhares de empreendedores de uma teia de burocracias. Nos 12 meses encerrados em junho, a economia cresceu mais de 6%.
Mas os investimentos não chegaram como o governo esperava, e o crescimento econômico desacelerou. O culpado, como sempre, é a desconfiança em relação ao banco central e à estabilidade do peso.
Os erros monetários de Milei estão cobrando seu preço. Durante mais de um ano ele manteve os controles de capital herdados do governo anterior, e o banco central usou uma desvalorização gradual abaixo da inflação para sustentar o peso. Muitos pesos perseguindo poucos bens a uma taxa de câmbio supervalorizada fizeram os argentinos se sentirem mais ricos do que realmente eram.
O governo sabia que precisava deixar o mercado encontrar o valor correto do peso. Em abril, o banco central anunciou que deixaria a moeda “flutuar” dentro de uma banda. Isso funcionou por um tempo. Mas, quando o Tesouro parou de emitir títulos de curto prazo com altos juros para os bancos, os depositantes começaram a trocar pesos por dólares.
No início foi um gotejamento. Mas, quando o partido A Liberdade Avança, de Milei, e seus aliados tiveram desempenho abaixo do esperado nas eleições de setembro na província de Buenos Aires, o medo da volta dos peronistas disparou. Investidores e poupadores iniciaram uma nova onda de vendas de pesos.
Na semana passada, o peso rompeu o teto da banda de 1.500 por dólar. As promessas do banco central de defendê-lo com reservas não surtiram efeito. A sangria só parou depois que o Tesouro dos EUA publicou no X (Twitter) a promessa de ajuda financeira e o governo Milei anunciou uma suspensão temporária de impostos sobre exportação.
Dinheiro do FMI
Por quanto tempo isso pode durar? Pergunte ao FMI, que em abril liberou US$ 20 bilhões em novos recursos para a Argentina, mas não resolveu o problema de confiança monetária. Os mercados se acalmaram na segunda-feira, mas investidores já sinalizaram que a intervenção prometida pelos EUA talvez também não seja suficiente. Duvidamos que Trump queira usar dinheiro do contribuinte americano para financiar a saída de investidores do peso durante um ataque especulativo.
Os argentinos têm bilhões de dólares guardados em colchões e latas de café, e um plano crível de Milei para tornar o dólar moeda legal permitiria colocar esses recursos para trabalhar na economia do país. Se Milei quer ajuda dos EUA para minimizar o risco de calote e manter acesso aos mercados de capitais, ele poderia começar colocando a dolarização na mesa.