Economia do Japão encolhe pela primeira vez em um ano e a solução pode estar nas mãos dos EUA

Queda do PIB foi de 0,7% no primeiro trimestre

A economia do Japão sofreu retração pela primeira vez em um ano e enfrenta um período de turbulência devido ao impacto da política comercial dos EUA. O produto interno bruto real do Japão caiu 0,2% no período de janeiro a março em relação ao trimestre anterior, segundo dados preliminares do governo, sugerindo o risco de uma recessão técnica.

Em comparação, a previsão dos economistas era de uma redução de 0,1% e o crescimento de 0,6% registrado no trimestre de outubro a dezembro. A economia encolheu 0,7% em base anualizada no primeiro trimestre.

Os dados do PIB foram divulgados em meio à preocupação de que as tarifas dos EUA poderiam prejudicar a recuperação econômica duramente conquistada pelo Japão, impactando as exportações e fazendo com que as empresas reduzam seus investimentos.

“Com a retração da economia já às vésperas da guerra comercial, o Banco do Japão provavelmente esperará mais do que o previsto antes de retomar o ciclo de restrição”, disse Marcel Thieliant, chefe da Ásia-Pacífico na Capital Economics.

Thieliant disse que ficou cada vez mais difícil para o Banco do Japão aumentar os juros em julho, conforme previsto.

Redução de projeções

Refletindo a incerteza sobre as perspectivas do comércio global, o Banco do Japão recentemente reduziu pela metade sua projeção de crescimento para o atual ano fiscal que termina em março de 2026.

Embora o banco central ainda esteja buscando novos aumentos nas taxas de juros, alguns economistas dizem que ele pode não ser capaz de tomar nenhuma medida neste ano se os atritos comerciais se agravarem.

No primeiro trimestre, a demanda externa, ou exportações menos importações, cortou 0,8 ponto percentual do crescimento, com as exportações caindo 0,6% e as importações subindo 2,9%.

Consumo

Enquanto as tarifas dos EUA prejudicam as exportações, que constituem um dos principais motores de crescimento do Japão, a inflação persistente prejudicou outro: o consumo privado, que representa cerca de metade do PIB.

Os dados mostraram que os gastos privados permaneceram estáveis ​​no período de janeiro a março em relação ao trimestre anterior.

“Aumentos contínuos de preços representam um risco negativo para a economia japonesa, afetando o consumo privado por meio da deterioração da confiança do consumidor”, disse Ryosei Akazawa, ministro da economia, em uma entrevista coletiva na sexta-feira.

Akazawa disse que as preocupações com tarifas ainda não afetaram o consumo, mas o ministro, que é responsável pelas negociações comerciais com os EUA, prometeu estar muita atento ao humor dos consumidores depois que uma pesquisa recente do governo mostrou a possibilidade de piora do sentimento.

Investimentos das empresas

Lucros sólidos estimularam as empresas a aumentar os investimentos e oferecer aumentos salariais. As despesas de capital aumentaram 1,4% nos primeiros três meses do ano em relação ao trimestre anterior.

A expectativa é que salários mais altos ajudem na recuperação do consumo, embora a inflação dos alimentos tenha afetado negativamente o sentimento entre as famílias.

O economista do Crédit Agricole, Takuji Aida, disse que o Banco do Japão precisaria confirmar que a economia japonesa não se deteriorou no período de julho a setembro e atualizar suas previsões em janeiro antes de retomar os aumentos das taxas.

Alguns economistas, incluindo Aida, esperam que a economia japonesa recue novamente neste trimestre, levando o país a uma recessão técnica, definida como dois trimestres consecutivos de retração.

Há uma chance de que a segunda estimativa do PIB para o primeiro trimestre mostre uma revisão para cima, tirando a economia da zona de perigo de recessão. Dito isso, uma atualização provavelmente não mudará a perspectiva de forma muito positiva, disse Stefan Angrick, chefe de economia do Japão e mercados de fronteira na Moody’s.

“Os próximos dados não mudarão o cenário de uma economia em dificuldades”, disse ele em nota.

Negociação das tarifas

A maneira como as negociações entre Tóquio e Washington prosseguem é outro fator a ser considerado.

Autoridades japonesas vêm pedindo ao governo Trump que reconsidere os impostos, mas ainda não está claro se um acordo será alcançado.

Os dois lados concordaram em realizar outra rodada de discussões em meados de maio ou depois.

Até agora, “2025 segue para ser um ano difícil, pois as questões tarifárias e o fraco impulso doméstico ameaçam sufocar o crescimento”, disse Angrick.

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