Um novo tipo de ladrão está tirando a paz de turistas: os macacos, que escolhem até o que roubar

Macacos roubam celulares e outros objetos de valor de visitantes em um templo em Bali - e os trocam por frutas

Em um templo à beira de um penhasco na ilha tropical de Bali, um grupo inesperado de criminosos está executando uma das operações fraudulentas mais sofisticadas do mundo.

Toda semana, eles roubam dezenas de celulares, carteiras e outros objetos de valor de turistas em plena luz do dia e os trocam por recompensas generosas. Isso já acontece há décadas e ninguém conseguiu impedir.

Os culpados? Macacos de cauda longa.

“Os macacos tomaram conta do templo”, disse Jonathan Hammé, um turista de Londres cujos óculos de sol foram roubados por um macaco durante uma visita no ano passado. “Eles estão envolvidos em um esquema criminoso”.

No extremo sul do popular destino turístico da Indonésia, conhecido por suas praias, turistas lotam o Templo de Uluwatu para shows tradicionais de dança do fogo e vistas panorâmicas do pôr do sol com as ondas do Oceano Índico batendo lá embaixo. O local hindu balinês remonta pelo menos ao século XI e os cerca de 600 macacos que o habitam são considerados pelos moradores locais como guardiões sagrados do templo.

Macacos trocam celular por comida

Pesquisadores de primatas descobriram que os macacos roubam pertences para usar como moeda de troca com humanos por comida.

Alguns macacos conseguem distinguir entre objetos que valorizamos muito (smartphones, óculos de grau, carteiras) e aqueles que não valorizamos (chapéus, chinelos, grampos de cabelo) — e fazem as trocas de forma adequada, de acordo com uma equipe da Universidade de Lethbridge que passou anos filmando os macacos e analisando centenas de horas de filmagem.

Em outras palavras, os macacos têm “processos de tomada de decisão econômica sem precedentes“, escreveram os pesquisadores em um artigo acadêmico de 2021. Nada mais ardiloso.

Quando Hammé chegou ao templo com a esposa, seu guia turístico lhe entregou uma bengala, dizendo que ele precisaria dela para afastar os macacos.

“Eu disse: ‘Como assim?'”, lembrou Hammé, de 64 anos. “Achei que ele estava me dando uma bengala porque me achava velho demais.”

A bengala não adiantou. Enquanto Hammé admirava a vista, um macaco pulou em suas costas, arrancou seus óculos de sol favoritos do rosto e desapareceu.

Ele o encontrou em uma árvore, brincando com seus óculos de sol. Outro guia turístico lhe entregou alguns Oreos, e Hammé acenou com os biscoitos para o ladrão. Ele pulou, agarrou os Oreos e jogou os óculos de sol. Eles estavam tortos.

“Eu não esperava que os macacos estivessem agindo como uma gangue, levando tudo”, disse ele.

Em Bali, macacos roubam até os óculos de turistas – Foto: Nyimas Laula / Wall Street Journal

Muitos casos exigem a ajuda dos tratadores de macacos do templo, chamados “pawang“, que negociam com os sequestradores peludos. Eles oferecem frutas como bananas, mangas, rambutã e mangostão em troca dos itens roubados. Em casos raros, usam ovos de galinha crus, muito cobiçados pelos macacos.

Ketut Ariana, de 52 anos, que trabalha no templo como adestradora de macacos há duas décadas, disse que os animais roubam dezenas de itens por semana, incluindo de cinco a dez smartphones por dia.

Uma dessas vítimas foi Taylor Utley, de 36 anos, de Louisville, Kentucky, que visitou o Templo de Uluwatu no ano passado em um retiro de bem-estar para mulheres. Enquanto caminhava ao longo do penhasco, um macaco arrancou o telefone de sua mão e pulou na borda de uma barreira que separava a passarela da beira do penhasco. Ela procurou em sua bolsa por qualquer coisa que pudesse chamar a atenção do macaco. Ele não estava interessado em seu cachecol, então começou a correr mais para baixo na borda.

Foi então que um tratador jogou um saco de frutas para o macaco. O macaco segurou o telefone. O tratador lhe deu outro saco, depois outro, e mais outro. Finalmente, quando o macaco não conseguiu mais segurar todas as frutas, deixou cair o telefone.

Utley ficou aliviada, mas ela e as outras mulheres já estavam fartas. Elas foram embora sem ver o show de dança do fogo.

“Fiquei surpresa”, disse ela. “É como uma empresa criminosa de macacos.”

Roubos

Existem diferentes teorias sobre quando e como os roubos começaram. Ariana disse que os roubos aconteciam antes dos turistas. Eles costumavam roubar joias de pessoas que vinham para cerimônias religiosas. Agora, roubam óculos e smartphones.

“Ela realmente me dá muito trabalho”, disse ele.

Kadek Ari Astawa, que coordena os tratadores de macacos, disse ter ouvido falar que, quando o local foi aberto ao turismo, os visitantes às vezes alimentavam os macacos. Quando a administração do templo começou a alimentá-los com uma dieta regular e proibiu os turistas de lhes darem comida, os macacos começaram a roubar os pertences dos visitantes.

O templo tentou vários métodos para tentar conter os roubos: horários de alimentação diferentes (de três a seis vezes ao dia) e alimentos diferentes nas refeições regulares (milho, batata-doce, manga e outras opções). Mas o comportamento de roubo continua.

Os macacos também são conhecidos por roubar apenas por diversão.

Descobri isso em primeira mão durante uma visita ao templo no início deste ano, quando um macaco arrancou meu iPhone da minha mão e pulou para dentro da vegetação à beira do penhasco.

Imaginei o macaco jogando meu telefone no oceano e tentei não chorar. Um transeunte chamou um guarda, que pulou a cerca na beira do penhasco em busca do ladrão. Silenciosamente, fiz um apelo ao universo, prometendo fazer boas ações se recuperasse meu telefone.

O que se seguiu foi mais de uma hora de esconde-esconde. Repetidamente, o guarda avistava o macaco, apenas para vê-lo fugir correndo quando se aproximava demais.

O guarda pediu reforços.

O reforço pediu reforços.

O macaco escalou uma árvore, pulou em outra árvore, pulou de volta para a lateral do penhasco e desapareceu. Em certo momento, o vi roendo meu telefone.

Ao escurecer, meu ladrão reapareceu e os três seguranças o cercaram. Não consegui entender exatamente como, mas eles recuperaram meu celular e o devolveram sem um arranhão. Coloquei-o na bolsa e fechei o zíper.

Mais tarde, quando olhei no celular, vi que o macaco tinha tirado algumas fotos.

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