Como o protecionismo de Trump atrapalha essa fabricante americana de tratores

A Agco não tem vendas suficientes nos EUA para justificar a transferência de mais produção para fora da Europa

Há anos, a Agco tenta impulsionar seus negócios nos EUA, onde ocupa a terceira posição no mercado de equipamentos agrícolas, composto essencialmente por três empresas. Mas uma onda de novas tarifas significa que será mais difícil fortalecer sua posição no país.

A empresa de Duluth, Geórgia, não tem vendas suficientes nos EUA para justificar a transferência de mais produção para fora da Europa, onde concentra a maior parte de sua produção e vendas, informou o diretor financeiro Damon Audia.

E a provável necessidade de aumentar os preços para compensar os custos tarifários pode reduzir ainda mais a fraca demanda por equipamentos agrícolas nos EUA, onde a empresa continua investindo.

Enquanto isso, na Europa, onde grande parte de sua cadeia de suprimentos e vendas estão alinhadas, a empresa poderia ver um crescimento, ao evitar muitos custos tarifários que suas concorrentes Deere e CNH Industrial enfrentam.

A Agco, cujas marcas incluem Massey Ferguson, Fendt e Valtra, está avaliando se deve mudar seus fornecedores, nos casos em que possui mais de uma fonte distinta para um componente específico. Isso poderia significar a migração de fornecedores da Europa para os EUA, ou da Europa Ocidental para a Europa Oriental.

A empresa também busca pressionar seus fornecedores a serem mais eficientes em suas operações para limitar o custo tarifário que repassam à Agco, informou Audia.

Compensação para as tarifas

Essas medidas não eliminarão os custos tarifários, tornando os aumentos de preços necessários. “Todos nós estamos analisando esses custos e tentando descobrir como mantê-los baixos para os agricultores“, disse ele. “Mas, em última análise, essas são questões que teremos que tentar repassar de alguma forma ao longo do tempo.”

A empresa pode distribuir os aumentos de preços entre suas marcas, por exemplo, cobrando mais por plantadeiras e pulverizadores fabricados nos EUA para não precisar aumentar tanto os preços dos tratores da Alemanha, disse Audia, acrescentando que nenhuma decisão foi tomada.

A Agco fabrica tratores, colheitadeiras, kits de retrofit e peças de reposição.

A empresa sempre importou muitos de seus equipamentos e componentes de suas fábricas no exterior, a maioria localizada na Europa.

Cerca de 35% dos US$ 2,85 bilhões em vendas da Agco na América do Norte, em 2024, vieram de produtos importados, principalmente da Europa, afirmou Audia.

A Europa também representou cerca de 60% da receita de US$ 11,66 bilhões da empresa em 2024. A Agco está mais exposta às tarifas dos EUA sobre produtos da União Europeia, afirmou Audia.

“Este é um período de incerteza para a Agco e seus clientes”, disse Kristen Owen, diretora administrativa da Oppenheimer. “A Agco, sendo a menor empresa na região da América do Norte, provavelmente não será a primeira a repassar esse aumento de preços, mas poderá fazê-lo após as outras rapidamente.”

Fábrica de trator no Brasil

A Agco fabrica no Brasil produtos que também fabrica na China e na França, mas no Brasil enfrenta uma taxa de importação de 50% imposta pelos EUA. “Se eu sei que essas tarifas de 50% permanecerão em vigor pelos próximos três anos, vou reavaliar a origem desse produto”, disse Audia.

As ações da Agco subiram cerca de 26% nos últimos 12 meses na Bolsa de Valores de Nova York. A empresa registrou um lucro líquido de US$ 314,8 milhões no último trimestre encerrado em 30 de junho, em comparação com um prejuízo líquido de US$ 367,1 milhões no ano anterior, em parte impulsionado pelo crescente interesse em agricultura de precisão e tecnologias sustentáveis.

A Agco migraria mais de sua produção para os EUA se atingisse a “massa crítica” de sua participação de mercado no país, potencialmente devido ao aumento nas vendas da marca alemã de tratores Fendt, afirmou Audia.

“Com o tempo, à medida que nossa participação de mercado em colheitadeiras e alguns tratores maiores aumentar, isso será algo que analisaremos e, provavelmente, expandiremos [as fábricas existentes em estados como Kansas e Minnesota]”, disse Audia.

A Agco afirmou que a América do Norte continua sendo um mercado importante em termos de crescimento. A empresa expandiu a linha de produtos Fendt na América do Norte em 2018.

As vendas de Fendt na América do Norte mais que dobraram desde 2020, mas a participação de mercado permanece baixa. As vendas da Agco na América do Norte caíram 24%, para US$ 2,85 bilhões em 2024.

No entanto, o crescimento da receita da Agco nos EUA pode ser impactado pelos aumentos de preços em resposta às tarifas. Os custos das tarifas dificultam a expansão das vendas da Agco nos EUA, onde detém uma pequena participação de mercado, em comparação com sua participação na Europa e no Brasil, afirmou Stephen Volkmann, diretor administrativo da Jefferies.

“Se, como país, o que realmente queremos é aumentar a produção dentro dos EUA, dificultar isso parece ser contraproducente”, disse Volkmann.

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