Ascensão meteórica do botão de curtir: por que gostamos tanto dos “likes” nas redes sociais?

Ícone do polegar para cima se torna popular — e isso tem uma explicação científica

É bem provável que você já tenha clicado em botões de “curtir” várias vezes hoje nas redes sociais. Se você tem menos de 20 anos, mais ainda. Talvez tenha postado algo no Instagram ou Facebook recentemente e esteja ansiosamente conferindo o número de curtidas subir no celular — cada nova notificação trazendo um leve tremor no bolso e uma pequena euforia no peito.

Mas por que gostamos tanto do botão de “like” a ponto de ele ter se tornado, quase instantaneamente, o recurso mais usado das redes sociais — e estar ao alcance da maioria das pessoas?

Liberação de dopamina

Em 2018, a neurocientista Lauren Sherman e seus colegas decidiram investigar essa pergunta. Eles convidaram 58 jovens, entre 13 e 21 anos, para revisarem suas próprias contas no Instagram e escolherem algumas fotos que haviam postado recentemente.

Depois, cada participante teve a chance de visualizar as fotos selecionadas por todo o grupo, usando uma interface que imitava o Instagram, com direito a botão de “curtir” e tudo. A diferença é que isso foi feito enquanto os voluntários estavam deitados em uma máquina de ressonância magnética funcional (fMRI), permitindo aos pesquisadores observar se o cérebro realmente reage ao apertar o botão de “like” — e, em caso afirmativo, quais áreas são ativadas.

E a resposta foi sim: houve bastante atividade cerebral. Todos os nossos impulsos comportamentais, sensações e emoções são ativados por neurônios no sistema nervoso central. Os neurotransmissores — sinais químicos que indicam aos neurônios se devem ou não se ativar — são os responsáveis por isso, e um dos mais importantes é a dopamina, conhecida como o “sinal do prazer” do cérebro.

Como escreveu o neurocientista David Linden, a liberação de dopamina está associada a uma série de atividades prazerosas, como “compras, orgasmo, aprendizado, comidas altamente calóricas, jogos de azar, oração, dançar até cair e navegar na internet.”

As mais curtidas das redes sociais

A ressonância magnética mostrou atividade em uma ampla variedade de regiões do cérebro quando “os adolescentes viam suas próprias fotos com um grande número de curtidas”, relatou Sherman.

Mais impressionante ainda: ela descobriu que “ver fotos com muitas (em comparação com poucas) curtidas estava associado a uma atividade maior em regiões neurais ligadas ao processamento de recompensas, cognição social, imitação e atenção.”

Em outras palavras, não gostamos apenas de receber curtidas; também passamos a gostar mais de algo quando vemos que outras pessoas já curtiram antes.

Por que gostamos tanto das curtidas?

Segundo Nicholas Christakis, sociólogo e médico da Universidade de Yale, isso acontece porque “o botão de curtir é construído, de forma profunda e ancestral, sobre as bases da biologia evolutiva”.

Todos os animais aprendem e evoluem conforme interagem com o mundo ao seu redor, por meio da experiência e do método de tentativa e erro. Mas apenas certos primatas têm a capacidade de aprender com a experiência de outros indivíduos.

Esse “aprendizado social” trouxe enormes vantagens evolutivas: permitiu que os primeiros hominídeos aumentassem suas chances de sobrevivência ao evitar erros que viam os outros cometerem — e ao copiar o comportamento bem-sucedido.

Preferimos os semelhantes

Isso ajuda a explicar por que os seres humanos tendem à “homofilia” — uma preferência por pessoas que reconhecemos como semelhantes a nós. Assim como aves da mesma plumagem voam juntas, uma vasta quantidade de pesquisas mostra que os humanos têm inclinação para se aproximar e responder positivamente àquilo que é familiar ou parecido.

Essa tendência pode levar ao tribalismo e ao preconceito, mas também está ligada a uma das grandes vantagens da espécie humana: o aprendizado social. Quando observamos outras pessoas parecidas conosco, temos mais confiança de que a experiência delas é relevante para a nossa própria jornada.

Outra força típica dos humanos é a afinidade com o que se chama de “hierarquia branda”. Ter uma hierarquia é útil para qualquer grupo que deseja alcançar um objetivo comum — economiza tempo e energia ter alguém no papel de líder, dando as direções que os outros seguem.

No reino animal, os líderes conquistam posições de destaque pela força e as mantêm por meio de ameaças ou demonstrações de violência. A morsa que quer comandar o grupo precisa enfrentar os rivais — e, de preferência, intimidar qualquer desafiador com exibições memoráveis de poder.

Hierarquia branda

Por outro lado, a forma como os humanos organizam suas relações sociais (e redes sociais) é baseada em quem os outros percebem como a melhor fonte de aprendizado dentro do grupo.

Nessa espécie de “hierarquia branda”, as pessoas se aproximam naturalmente daqueles que enxergam como os mais habilidosos ou experientes — não apenas pelo que essas figuras fizeram, mas também pela capacidade de transmitir o que aprenderam.

É por isso, diz o sociólogo Nicholas Christakis, que políticos gostam de ser fotografados cercados por outras pessoas: o retrato em grupo transmite a ideia de que eles não são figuras impositivas, mas sim provedores de valor.

Esse impulso evolutivo pelo aprendizado social também explica hábitos como o de expressar gratidão e reconhecimento — em essência, um “obrigado por me permitir aprender com você”.

Como valorizamos dicas sobre ameaças e oportunidades, tendemos a receber esse conhecimento de forma positiva, incentivando novas trocas no futuro. Do outro lado, quem compartilha a informação costuma reagir bem a esse reconhecimento. É esse ciclo que nos estimula a continuar dividindo o que descobrimos.

A euforia das curtidas nas redes sociais

Tudo isso ajuda a explicar por que desenvolvemos uma verdadeira euforia ao curtir e ser curtido. Ao longo da evolução humana, o que foi selecionado não foram apenas características físicas — como o pescoço da girafa ou o formato do bico de um tentilhão —, mas também impulsos comportamentais, sensações percebidas e emoções.

É exatamente esse território psicológico profundo que o botão de “curtir” conseguiu explorar. Ver que uma publicação recebeu algumas curtidas provoca uma pequena onda de prazer.

Curtir o post de outra pessoa, sabendo que aquilo terá importância para ela, também gera uma leve descarga de bem-estar no nosso sistema nervoso.

Esse é o segredo por trás da ascensão meteórica do botão de curtir nas nossas vidas digitais: algo só se torna tão popular quando se conecta com algo fundamental da nossa biologia.

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