A cadeia da cocaína nunca esteve tão forte – e a Colômbia está no centro dessa nova onda. A produção disparou, os laboratórios estão mais eficientes e os traficantes estão usando até submarinos artesanais para levar grandes carregamentos a outros continentes, incluindo a Ásia e a Austrália. O cenário preocupa autoridades antidrogas que combatem o tráfico ao redor do mundo.
Tudo começa nas montanhas do Cauca, onde plantações de coca dominam a paisagem. Por lá, agricultores como Cesar Rosero colhem as folhas mais potentes e em maior quantidade, graças a avanços “tecnológicos” e técnicas melhoradas de cultivo. Em vez de três colheitas por ano, agora fazem cinco.
Hoje, 40% da cocaína colombiana vem do chamado “Cânion do Micay”, uma área montanhosa onde até hotéis e lojas de motos sobrevivem com dinheiro do tráfico.
Preço internacional
Apesar da oferta recorde, o preço internacional da droga subiu — especialmente em países distantes como Hong Kong, Arábia Saudita e Austrália, onde um quilo pode valer mais de US$ 200 mil.
Para atender a demanda global, traficantes estão investindo em “narco-submarinos” semissubmersíveis que cruzam oceanos com até 9 toneladas de cocaína a bordo. Em outubro do ano passado, um deles foi interceptado pela Guarda Costeira dos EUA a caminho da Austrália — uma viagem de 14 mil quilômetros.
O problema é tão grave que só nos primeiros seis meses do ano fiscal, os EUA apreenderam 10 toneladas de cocaína na fronteira. E a expectativa é que a situação piore.
Eficiência na produção
No campo, a transformação das folhas em pasta base acontece em laboratórios improvisados com gasolina, cal e ácido sulfúrico.
Depois, a pasta é refinada em pó branco por químicos treinados em centros mais sofisticados. Hoje, a eficiência é tamanha que 1 kg de pasta já gera 1 kg de cocaína — algo impensável anos atrás.
Autoridades alertam que essa tecnologia de produção está se espalhando. Há relatos de plantações e laboratórios em países como México, Guatemala, Honduras, Senegal, Bélgica e Espanha. A coca base também está sendo escondida em roupas, couro, cera de abelha, borracha e até tintas.
Aumento do consumo
Enquanto isso, o uso global cresce. Em 2022, cerca de 23 milhões de pessoas usaram cocaína — cinco milhões a mais que em 2016, segundo a ONU. E embora os EUA ainda sejam o maior mercado, o consumo se diversificou para África, Ásia e Oceania.
A Colômbia já chegou a reduzir drasticamente a produção com apoio bilionário dos EUA nos anos 2000, mas abandonou a pulverização aérea de lavouras em 2015. Desde então, o tráfico ressurgiu com força.
Hoje, o governo colombiano tenta convencer agricultores a plantar produtos legais como cacau e café, mas a substituição é lenta. Para muitos, a coca ainda compensa mais: cresce rápido e tem comprador garantido.
“Narco-submarinos”
Enquanto a droga se espalha, os narco-submarinos ficam mais ousados. Feitos em estaleiros clandestinos, eles cruzam o Atlântico até a África e a Europa, e depois seguem em barcos menores até o destino final. Para quem combate o tráfico, a sofisticação das operações é assustadora.
“As rotas estão mais globalizadas, com traficantes experientes, incluindo pescadores ilegais convertidos em capitães do tráfico”, disse um oficial da Marinha colombiana. “Enquanto houver lucro alto, eles vão continuar inovando.”