A Nvidia tem um problema: muito dinheiro

A crescente pilha de dinheiro da Nvidia precisa ser colocada em prática de alguma forma

A Nvidia tem um problema que a maioria de seus concorrentes adoraria ter: muito dinheiro.

A Nvidia ganhou as manchetes do noticiário nos últimos dias, não por todos os chips que vende, mas pelos cheques vultosos que está assinando.

A empresa anunciou no final da semana passada que está investindo US$ 5 bilhões na fabricante de chips Intel.

Na segunda-feira (22), surgiram notícias de um plano da Nvidia para investir até US$ 100 bilhões na OpenAI em um período não especificado, que provavelmente se estenderá por alguns anos.

Este último é um número particularmente impressionante, considerando que a Nvidia gerava pouco mais de US$ 6 bilhões em fluxo de caixa livre anual há apenas três anos.

Mas a febre da inteligência artificial e a guerra de gastos que ela desencadeou tornaram a Nvidia não apenas a empresa mais valiosa do mundo, mas também uma das mais ricas.

A Nvidia gerou US$ 72 bilhões em fluxo de caixa livre nos últimos quatro trimestres e está a caminho de encerrar seu atual ano fiscal pouco abaixo da marca de US$ 100 bilhões, de acordo com estimativas da FactSet.

Esse total excede o fluxo de caixa livre projetado para este ano de todas as empresas de tecnologia de grande capitalização, exceto a Apple.

P&D da Nvidia

Colocar todo esse dinheiro para rodar não é tarefa fácil. A Nvidia recomprou quase US$ 50 bilhões de suas próprias ações nos últimos quatro trimestres e recentemente adicionou outros US$ 60 bilhões ao seu plano de recompra.

A empresa também dobrou seus gastos com pesquisa e desenvolvimento nos últimos dois anos, embora isso não tenha acompanhado o crescimento explosivo das vendas da empresa. A despesa da empresa com pesquisa e desenvolvimento (P&D) foi de pouco mais de 9% da receita nos últimos quatro trimestres. Aliás, P&D representou em média 22% da receita anual nos cinco anos fiscais anteriores.

Usar todo esse dinheiro em uma grande aquisição também é altamente improvável. A compra da empresa de tecnologia de rede Mellanox pela Nvidia por US$ 6,9 bilhões em 2020 enfrentou resistência dos reguladores em Pequim — e isso foi bem antes do hype da IA ​​tornar os chips da Nvidia um ponto crítico na rivalidade entre EUA e China.

Qualquer mega acordo sobre chips provavelmente exigiria aprovação chinesa, o que estaria longe de ser garantido no cenário atual.

O CEO da Nvidia, Jensen Huang, também prefere uma organização horizontal com muitos subordinados diretos, o que torna acordos menores de aquisição mais desejáveis ​​do que grandes aquisições.

A Mellanox é até agora o único acordo de fusão e aquisição da Nvidia avaliado em mais de US$ 1 bilhão, de acordo com dados da FactSet.

Ainda assim, concordar em abrir mão de US$ 100 bilhões não é uma questão pequena. A enorme quantia comprometida com a OpenAI ajudará a construir até 10 gigawatts de capacidade computacional para a proprietária do ChatGPT.

O popular chatbot deu início à febre da IA ​​e, desde então, acumulou uma base de usuários de mais de 700 milhões, mas a OpenAI ainda perde dinheiro enquanto busca uma expansão global agressiva — que envolve a compra de muitos chips da Nvidia.

Isso faz com que o acordo pareça um pouco circular por natureza, embora Stacy Rasgon, da Bernstein, tenha escrito recentemente que o aumento na receita provavelmente será maior do que o investimento inicial, visto que “um datacenter de 1 GW provavelmente envolveria várias dezenas de bilhões de dólares em produtos da Nvidia”.

Nvidia na Intel

Quanto aos US$ 5 bilhões para a Intel, a Nvidia obtém o benefício de agradar o governo Trump, ao mesmo tempo em que ajuda a fortalecer uma fabricante nacional de chips. E isso pode eventualmente ajudar a empresa a diversificar sua dependência da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC).

Os novos produtos que as empresas planejam fabricar juntas também podem se tornar um sucesso, já que muitos clientes corporativos que buscam adicionar recursos de IA ainda usam servidores com os processadores centrais da Intel.

Uma parceria Intel-Nvidia teria parecido estranha há alguns anos, dada a rivalidade de longa data entre as duas pioneiras em chips do Vale do Silício. Mas a Nvidia hoje em dia pode facilmente se dar ao luxo de ser magnânima.

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