Pouco antes da meia-noite, o executivo de tecnologia Morten Wierod enviou uma mensagem de WhatsApp para uma dúzia de líderes de sua empresa, informando-os de que as tão esperadas tarifas do presidente Trump estavam se tornando realidade.
“É uma tentativa”, escreveu ele.
Seguiu-se uma série de reações usando emojis.
“Não vi um coraçãozinho sequer”, brincou Wierod, que dirige a gigante suíça de tecnologia de automação ABB. Mas não se sabe quanto tempo as tarifas podem durar, disse Wierod, recusando-se a especular a esse respeito. “Não tenho a mínima ideia.”
Na noite de terça-feira, durante seu discurso ao Congresso, Trump anunciou as novas tarifas de 25% que os EUA adotaram no início do dia sobre produtos importados do México e do Canadá, além de uma tarifa extra de 10% sobre as importações chinesas. Na manhã de quarta-feira, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, deu a entender que um acordo sobre alguns produtos poderia ocorrer em poucas horas.
Enquanto a guerra comercial de Trump reverberava em escritórios e conferências nas últimas 24 horas, os executivos-chefes se encontravam na linha de frente, debatendo se deveriam repassar rapidamente os preços mais altos aos consumidores ou esperar algum tempo, caso seus setores obtenham dispensa especial da Casa Branca.
As empresas americanas estão se preparando para a possível mudança, mesmo que alguns líderes empresariais acreditassem que as ameaças eram basicamente bravatas e blefe. Nos últimos meses, muitos se apressaram para estocar mercadorias, na esperança de amortecer qualquer golpe ou superar as tarifas, caso elas acabassem sendo uma medida temporária de barganha. Outros usaram a incerteza para promover aumentos de preços ou pressionar autoridades do governo Trump a poupá-los, prometendo investir em fábricas nos EUA.
“A história ainda não se desenrolou totalmente”, disse Chris Cocks, executivo-chefe da fabricante de brinquedos Hasbro, que vende Nerf guns, G.I. Joes e jogos de tabuleiro tipo Monopoly. “Mas nossa primeira regra é não exagerar.”
Cerca de 40% das vendas da Hasbro nos EUA vêm de brinquedos fabricados na China, um número que a empresa planeja cortar pela metade nos próximos quatro anos. Enquanto isso, se as novas tarifas de 20% sobre produtos chineses permanecerem em vigor, a Hasbro terá que considerar aumentar alguns preços, afirmou Cocks.
Sem tempo a perder
Os varejistas que vendem itens mais perecíveis não podem se dar ao luxo de esperar. O chefe do Target, Brian Cornell, e sua equipe se reuniram para revisar os planos da empresa quando as notícias das tarifas foram divulgadas. O Target havia criado uma força-tarefa de liderança alguns meses antes — quando Trump venceu a eleição presidencial —, para se preparar para vários cenários comerciais. Agora eles sabem mais a respeito do que estavam enfrentando.
Novas tarifas aumentarão os custos de frutas, smartphones e muitos outros itens que enchem as prateleiras das lojas Target. A empresa já retirou a produção de muitos de seus produtos de marca não alimentar da China, mas Cornell disse que, daqui alguns dias, as lojas terão de aumentar os preços de alimentos frescos, como abacates e outros produtos cultivados no México e enviados rapidamente para os EUA.
“Esses aumentos de preços, se permanecerem em vigor”, disse ele, “atingirão o consumidor muito rapidamente”.
Os mercados de ações dos EUA caíram com o anúncio das novas tarifas na terça-feira, o preço da madeira subiu e a cotação do milho e do trigo dos EUA caiu quando a China decretou tarifas retaliatórias. As ações da Best Buy caíram 13% na terça-feira depois que a executiva-chefe Corie Barry disse aos investidores que a China e o México são dois dos maiores fornecedores de eletrônicos e componentes da rede, “tornando os aumentos de preços para os consumidores americanos altamente prováveis”. Até mesmo as ações da Boeing, a maior exportadora dos Estados Unidos, caíram com o anúncio, dado o receio de que a empresa acabe entrando na briga global.
Vários líderes empresariais disseram que estariam observando de perto o impacto das tarifas nas contratações. O mercado de trabalho dos EUA esfriou, mas continua a criar empregos, o que é vital para os gastos do consumidor e a expansão dos negócios.
“Isso é crítico e ainda não sabemos como essas coisas serão implementadas e como serão usadas”, disse o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, na terça-feira, em conversas durante um evento de desenvolvimento da força de trabalho organizado pelo banco em Nova York.

Os setores mais expostos
As montadoras estão entre as mais expostas porque possuem fábricas e fornecedores espalhados pela América do Norte. Veículos e autopeças podem ser atingidos várias vezes durante o processo de fabricação. As tarifas podem adicionar até US$ 10 mil ao custo de alguns modelos de picapes vendidos nos EUA, estimam analistas.
Bob Roth, presidente executivo de um fornecedor de autopeças de Michigan, foi para a cama na noite de segunda-feira preocupado que as tarifas de 25% definidas para entrar em vigor enquanto ele dormia pudessem levar o Canadá a retaliar. Quando acordou, isso já havia acontecido.
A empresa de Roth em Grand Rapids, a RoMan Manufacturing, fabrica componentes para os robôs gigantes que soldam painéis de carros em fábricas de veículos. Alguns de seus maiores clientes estão no Canadá, e Roth teme que possam mudar para fornecedores da Europa ou do Japão para evitar o pagamento da tarifa.
“Esses são grandes clientes que estão conosco há quase 50 anos, mas seriam tolos se não olhassem para os europeus”, disse ele. “Porque eu garanto que não haverá tarifas entre a UE e o Canadá.”
Roth disse que sua equipe de gerenciamento não tomará nenhuma atitude importante esta semana, mas avaliará as consequências. A empresa tem um balanço forte, o que a ajudou a enfrentar tempos difíceis no negócio cíclico de automóveis, disse ele.
“Isso permite que aguentemos um golpe”, diz ele. “E estamos preparados para um.”
Michael Goldblatt, que dirige a TireChain.com, aumentou seus preços em 10% em fevereiro, mas está tentando não os aumentar mais. Existe agora uma tarifa de 45% sobre suas importações da China — 25% imposta durante o primeiro governo Trump e duas tarifas de 10% anunciadas nas últimas semanas. Um adicional de 25% sobre as importações de aço programado para entrar em vigor em 12 de março elevaria a tarifa total para 70% sobre seu produto, disse ele.
“O que me irrita é gente que diz que a China está pagando por isso. Não. Está saindo do meu bolso”, disse Goldblatt.
[Após a publicação desta reportagem, Trump concordou em adiar as tarifas para certos veículos]
Acordos paralelos para determinados setores
Em uma conferência de produtores em Denver, a conversa centrou-se nas tarifas retaliatórias rápidas que China, Canadá e México disseram que aplicariam às exportações dos EUA, incluindo soja, frango e carne suína americanas.
Eles debatiam o impacto ao mesmo tempo em que procuravam novas colheitadeiras e semeadeiras no salão da feira. Alguns especularam que as tarifas seriam suspensas rapidamente. Outros, incluindo Barry Evans, que cultiva sorgo em 2.500 hectares no Texas, afirmaram esperar que Trump distribua bilhões de dólares em ajuda, como fez durante seu último mandato, “para ajudar os agricultores que ficaram do lado dele durante os tempos difíceis”.
“Vai ser difícil para os agricultores e definitivamente estamos vendo isso agora”, disse ele.
Nos EUA, os custos de construção de casas devem aumentar US$ 1,7 bilhão anualmente, de acordo com a Associação Nacional de Construtores de Casas, em parte porque o setor depende muito das importações norte-americanas. Mais de 70% dos produtos de madeira e gesso dos construtores dos EUA, como o drywall, vêm do Canadá e do México, respectivamente.
Se as tarifas forem uma tática de barganha que vai vigorar por apenas algumas semanas, as maiores construtoras de casas podem conseguir absorver os custos, mas as menores quase certamente sentirão o aperto mais rápido.
Em questão de meses, até mesmo as grandes construtoras precisarão aumentar os aluguéis de apartamentos recém-construídos ou elevar os preços de venda de novas casas. Em alguns casos, os construtores pausam os projetos ou os abandonam completamente.
“Existem apenas duas maneiras de gerenciar custos mais altos, e ambas são ruins para o consumidor”, disse Adam Wolfson, executivo-chefe da Wolfson BTR, incorporadora de casas para aluguel com sede na Flórida.
No Inspired Home Show (feira do setor de construção) em Chicago, alguns fornecedores exibiram placas chamativas anunciando que seus produtos não foram afetados pelas novas tarifas.
Brian Horowitz, executivo-chefe da Creative Wagons, empresa de artigos para atividades ao ar livre, colocou uma placa “Sem tarifa” na frente de seu estande. Noventa por cento dos produtos de sua empresa são fabricados no Vietnã, pois ele retirou a produção da China há quatro anos.
“O Vietnã foi a melhor coisa que já fiz”, disse Horowitz, citando proteções mais fortes à propriedade intelectual e menos tempo para a comercialização. A placa, acrescentou, estava ajudando a conquistar novos clientes.
Rob Kay, executivo-chefe da Lifetime Brands, disse que a empresa de artigos para cozinha e casa começou a ampliar seu estoque de produtos como garrafas de água S'well, panelas e frigideiras Farberware e facas KitchenAid em outubro, gastando dezenas de milhões de dólares para fazê-lo.
“Começamos a reunir esse arsenal de guerra”, disse Kay, acrescentando que a empresa tem produtos anteriores às tarifas o suficiente para durar até o segundo semestre do ano.
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