Executivos sob vigilância: o ‘grampo’ no CEO do JPMorgan e o lado sombrio do home office

Alguém gravou secretamente Jamie Dimon defendendo o retorno ao escritório

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase. Foto: Marco Bello/Bloomberg

Jamie Dimon tem o suficiente com que se preocupar. O CEO do JPMorgan Chase comanda o maior banco dos Estados Unidos. Ele navega em um mar agitado de reguladores e definições de taxas, clientes e competidores, ciclos de negócios e política do conselho de administração — e agora tem de se preocupar com Donald Trump. Uma caçada a informantes é a última coisa de que ele precisa.

A Barron's publicou nesse mês uma gravação vazada de comentários feitos por Dimon, de 68 anos, em uma reunião supostamente privada. A partir de março, o JPMorgan exigirá que os funcionários trabalhem no escritório cinco dias por semana. Quem não gostar pode sair. "Você não precisa trabalhar no JPMorgan", diz ele com ênfase. "É um país livre. Você pode ir embora com seus próprios pés."

Uma petição contra a política de trabalho presencial circulou no banco, e alguns funcionários consultaram a Communications Workers of America sobre a criação de um sindicato local. "Não percam tempo com isso", adverte Dimon. "Eu não me importo com quantas pessoas assinarem essa m— de petição."

Dimon fala com a linguagem levemente áspera de um nova-iorquino nativo que subiu ao topo do mundo bancário e conseguiu permanecer lá por quase 20 anos. A gravação deixa claro que ele é duro, experiente e desinteressado em ser questionado sobre uma política que decidiu ser boa para a empresa.

"Eu tenho trabalhado sete dias por semana desde a Covid", diz ele. "Eu venho e onde estão todos os outros? Eles estão aqui, estão lá." Muitos funcionários ausentes estão "na maldita reunião por Zoom… Enviando mensagens de texto uns aos outros sobre quão idiota a outra pessoa é." Ter todos trabalhando juntos no escritório avança o interesse da organização, garantindo uma continuidade de cultura. Do ponto de vista de Dimon, esta é provavelmente a preocupação mais urgente.

Os grandes perdedores do trabalho remoto são os funcionários no início de suas carreiras. "A geração jovem está sendo prejudicada por isso", diz ele. "Eles estão sendo deixados para trás socialmente —ideias, conhecendo pessoas."

Ele está certo, como sabe qualquer pessoa que trabalha em um escritório com jovens. FaceTime não substitui tempo de face a face. As pequenas coisas que você aprende com a exposição diária a colegas seniores são inestimáveis e muitas vezes inquantificáveis: como se comportar no trabalho, como gerenciar uma crise, como receber críticas, como celebrar o sucesso. Essas coisas são efêmeras, mas importantes. Você não pode aprendê-las em uma sessão de treinamento online.

Tudo isso é importante para o JPMorgan Chase, mas o vazamento dos comentários de Dimon aponta para um problema maior do que preservar a cultura de uma única empresa: Esta é a era do cidadão espião. Nunca foi tão fácil gravar alguém sem consentimento. Em 2025, aspirantes a whistleblower e informante, além de funcionários descontentes, têm um poder antes inimaginável para acertar contas profissionais. Tudo o que eles precisam fazer é gravar uma reunião e vazar para um concorrente ou para a imprensa. Para estar do lado seguro, os CEOs provavelmente deveriam presumir que estão sendo gravados o tempo todo.

Essa é outra razão para exigir que os trabalhadores venham ao escritório. Gravar uma chamada no Zoom ou uma reunião no Google é fácil demais. Até um baby boomer consegue fazer isso. Se um funcionário estiver motivado a tentar afundar sua empresa gravando conversas privadas com colegas, pelo menos force-o a reunir a coragem para fazer isso pessoalmente. Ele pode desistir.

A gravação sorrateira é um dos grandes prazeres secretos da vida digital. Eu revejo o vídeo do "Do it live!" do Bill O'Reilly pelo menos uma vez por ano (procure na internet). Passar alguns minutos admirando a incandescência da raiva de O'Reilly nunca deixa de me encher de ânimo. Mas, por mais divertidos que esses vazamentos possam ser, vale lembrar que cada um deles é uma traição.

Dimon passa o dia todo, todos os dias, pensando em como tornar o JPMorgan Chase bem-sucedido, e algum funcionário que não quer sair do sofá decide que sabe melhor? É grotesco.

Todo líder deveria gastar pelo menos um pouco de tempo pensando em como evitar ser gravado secretamente. Proibir celulares e computadores nas reuniões é uma opção, embora possa gerar ressentimento e fazer você parecer paranoico. Dependendo de sua avaliação do risco real, esse compromisso pode valer a pena. Decisão difícil, mas você é o chefe. Você é pago para tomar essas decisões.

Uma regra antiga dizia que você nunca deve colocar nada em um e-mail que não queira ver na primeira página de um jornal. Cada vez mais, CEOs e gerentes seniores também precisam prestar atenção ao que dizem atrás de portas fechadas. Você nunca sabe quem estará ouvindo.

Hennessey é o editor assistente de recursos editoriais do Journal.

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