Preço recorde da prata faz cada vez mais gente esvaziar a caixinha de joias

Forte demanda da indústria leva o metal menos precioso que o ouro ao maior patamar de preço em mais de uma década

O ouro sempre ganha os holofotes, mas a prata também disparara neste ano, subindo 27% e alcançando os maiores níveis em mais de uma década.

Assim como o ouro, investidores nervosos estão comprando o metal precioso, mas os preços da prata estão recebendo um impulso extra da forte demanda industrial, especialmente de fabricantes de painéis solares.

Ao contrário do ouro, usado principalmente como reserva de valor e em joias, a maior parte da demanda por prata — cerca de 80% — vem da indústria. Isso deveria ser um problema para os preços da prata este ano. Analistas previam que a demanda seria prejudicada pela guerra comercial do presidente Trump e pelo desmonte dos incentivos às energias renováveis.

Essa previsão parecia certeira em abril, quando Trump lançou sua ofensiva tarifária. Os preços da prata despencaram junto com as ações e outros ativos como o petróleo, enquanto investidores corriam para o ouro.

Mas os preços se recuperaram com força neste mês, estimulando uma onda de vendedores de prata que estão correndo para lojas de moedas, revendedores de metais e joalherias para transformar em dinheiro moedas, talheres de prata e barras.

Os contratos futuros de prata para entrega em junho encerraram a quarta-feira a US$ 36,8 mil (R$ 202) por onça (31 g), alta de 12% só em junho. O ouro fechou a US$ 3.4 mil (R$ 18,6 mil), acumulando alta de 29% no ano – e 3,1% no mês.

A demanda de compradores industriais ainda não dá sinais de desaceleração. O consumo de prata para talheres e eletrônicos permanece estável, enquanto a demanda de fabricantes de painéis solares continua crescendo, disse Michael Widmer, chefe de pesquisa de metais do Bank of America.

Há um risco de que a demanda do setor solar, especialmente na China, tenha sido antecipada antes de restrições comerciais e mudanças na política energética dos EUA, e que isso possa gerar um efeito de retração na segunda metade do ano, disse Greg Shearer, chefe de pesquisa de metais do JPMorgan. Outro risco para a manutenção dos preços, segundo analistas, é que os fabricantes possam substituir a prata por metais mais baratos ou reduzir a quantidade usada se o preço ficar muito alto.

Mesmo que os preços continuem subindo este ano, é improvável que alcancem o recorde de US$ 48,70 (R$ 267,85), registrado em 1980, quando os irmãos Herbert Hunt e Bunker Hunt tentaram controlar o mercado ao tomar empréstimos para comprar o máximo de prata possível. Os preços dispararam de cerca de US$ 11 (R$ 60,50) por onça para quase US$ 49 (R$ 269,50) — e depois despencaram.

Posteriormente, os irmãos fizeram um acordo judicial por manipulação dos preços da prata física e dos contratos futuros, aceitaram uma proibição de operar no mercado de commodities e entraram com pedido de falência pessoal. Corrigido pela inflação, o recorde de janeiro de 1980 equivaleria a mais de US$ 200 (R$ 1.100) hoje.

Em 2011, os preços da prata dispararam novamente numa mania especulativa, chegando a US$ 47,99 (R$ 263,95) — o que seria cerca de US$ 69 (R$ 379,50) hoje. Assim como em 1980, os preços caíram quase tão rápido quanto subiram.

Investidores apostam que a prata ainda tem espaço para subir. O iShares Silver Trust, um fundo negociado em bolsa que detém barras de prata e é popular entre investidores individuais, adicionou quase 11 milhões de onças de prata este ano para acompanhar a demanda, segundo documentos do fundo.

Outros preferem possuir a prata fisicamente.

Andrei Hnedchyk, dono da Honest Coin Shop em Union City, Nova Jersey, disse que o movimento na loja aumentou cerca de 20%, principalmente por causa dos chamados “stackers” de prata — pessoas que acumulam o metal precioso como proteção contra a incerteza econômica.

Russ Bega, diretor de operações da revendedora de moedas Harlan J. Berk, em Chicago, disse que muitos clientes estão comprando pequenas quantidades de prata com regularidade, apesar dos preços altos, com medo de perder a alta.

Alguns estão comprando grandes quantidades. Bega vendeu duas barras de 1.000 onças no mês passado e, mais recentemente, vendeu 1.500 onças para outro cliente. Segundo ele, a empresa mais que dobrou a quantidade de prata comprada mensalmente para atender à demanda.

“Estamos vendo mais pessoas indo com tudo”, disse ele.

Por outro lado, outros estão vasculhando casas e cofres em busca de prata para vender.

A disparada da prata fez valer o esforço de revirar potes de moedas à procura de moedas antigas de dez, vinte e cinco e cinquenta centavos de dólar. O valor de fusão de uma moeda de 25 centavos cunhada antes de 1965, quando ainda era de prata, supera US$ 6,50 (R$ 35,75).

E para quem não quiser vender, o governador da Flórida, Ron DeSantis, assinou recentemente uma lei permitindo que algumas moedas de ouro e prata sejam usadas como moeda corrente para pagamentos, ao lado da moeda tradicional.

Bega contou que alguns vendedores, que compraram prata há décadas por apenas US$ 10 (R$ 55) a onça, estão procurando a Harlan J. Berk para liquidar caixas de segurança que estão sendo fechadas em um banco Chase nas proximidades. Outro cliente era um trabalhador de demolição que encontrou um esconderijo de moedas antigas de prata — no valor de mais de US$ 20.000 (R$ 110.000) — nas paredes de uma casa, disse Bega.

Daniel Herzner, dono de empresas que compram e vendem joias de herança em White Plains, Nova York, disse que o telefone está tocando com frequência com clientes ansiosos para vender joias e talheres de prata herdados ou que já não precisam mais.

“Eles preferem transformar isso em dinheiro”, disse ele.

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