Colunistas

A estratégia dos fundos de investimento agora é ESG

Lista divulgada pela Anbima com os fundos que alocam 100% em investimentos sustentáveis gerou uma movimentação frenética das Asset Managements e bancos.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 4 min

2022 está se tornando um ano mágico para os investimentos sustentáveis no Brasil, que na esteira do mundo estão sendo incentivados pelas diversas regulações governamentais e autorregulações das entidades do mercado financeiro e de capitais a estimularem os gestores de recursos e investidores a direcionarem sua estratégia de alocação de capital para investimentos ESG (acrônimo em inglês para investimentos que levam em conta os aspectos ambientais, sociais e de governança).

A novidade é que a lista divulgada pela Anbima com os fundos que alocam 100% em investimentos sustentáveis gerou uma movimentação frenética das Asset Managements e bancos pela adoção rápida de estratégias robustas de ESG. Ninguém quer ficar para trás dos concorrentes na corrida pela manutenção e atração de investidores. 

A consequência é que as empresas que querem financiar seus projetos socioambientais agora possuem caminho mais facilitado para essa capitalização. O motor agora acelerou e as engrenagens têm que se ajustar para o avião decolar.

Tudo começa em janeiro de 2022, quando a Anbima, entidade que regula os fundos de investimentos geridos por bancos, gestoras, administradores e distribuidores, cria um Código que estabelece os critérios para a identificação dos fundos sustentáveis.

Desde então, um fundo só pode utilizar em seu nome o sufixo IS – Investimento Sustentável – quando aloca 100% de seu capital em ativos dessa natureza. A outra categoria foi chamada de “Fundos que Integram Questões ESG”, que não possuem como objetivo principal esse tipo de investimento, ou seja, podem ter em sua carteira outras classes de ativos.

Até julho desse ano, quando a entidade divulgou a lista com 17 Fundos IS e 5 fundos que integram questões ESG, as demais instituições financeiras gestoras não estavam se movimentando, cheguei a ouvir de mais de um gestor que apesar do burburinho mundial dos investidores em busca desse tipo de investimento, ainda aguardavam saber se o ESG era algo que veio realmente para ficar. 

Tudo mudou quando a lista de gestoras com investimentos sustentáveis apareceu na imprensa. Só para vocês terem uma ideia, no mês de agosto fomos procurados por mais de uma dezena de Asset Managements em busca de classificação e teste de stress de carteiras para descobrirem quais de seus investimentos já são sustentáveis. Além de outra dezena, requerendo nossos trabalhos para buscarmos ativos dessa natureza para colocarem em suas carteiras.

Uma das motivações dada para a publicação do novo Código foi que a entidade está atenta à velocidade que cresce a demanda por produtos ESG e que o intuito da autorregulação criada é o de assegurar um crescimento saudável e robusto destes produtos. 

Isso vem em linha com o que vem sendo apresentado em diversos estudos de instituições financeiras renomadas. Na semana passada, a Bloomberg e o Fundo Mubadala, publicaram o estudo “Futuro Sustentável” com uma pesquisa apresentando as percepções dos gestores de recursos a respeito dos investimentos ESG.

Segundo a publicação, 79% dos entrevistados colocaram o investimento sustentável como prioridade máxima na lista de escolhas das suas gestoras. Além disso, foi apontado que os mercados estão alinhados na expectativa de que o investimento sustentável é de alta prioridade tanto hoje quanto em 2030.

Isso posto, o motor agora está engrenado em direção a esse tipo de investimento, e como na história do Profeta Maomé, os árabes pediram um milagre e ele trouxe a montanha, o que a Anbima fez foi o mesmo, trouxe a montanha dos investimentos ESG para perto dos gestores, consequentemente, dos investidores. 

*Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Mais Vistos