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A nova ordem mundial das empresas: salve o mundo e ganhe dinheiro
Alexandre Furtado, novo colunista do Investnews, explica que investidores não precisam mais escolher entre o lucro ou conseguir ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
Investidores não precisam mais escolher entre o lucro ou conseguir ajudar a tornar o mundo um lugar melhor. As finanças também estão se tornando ESG, na sigla em inglês para ambiental, social e governança. Essa ‘nova onda’ vem com tudo para mudar o mundo e as empresas estão aprendendo como jogar ‘esse jogo’. Por outro lado, o ESG cobra, e como cobra…
A COP 26 gerou um novo marco para as empresas: agora, as informações de finanças sustentáveis serão divulgadas obrigatoriamente pelas companhias para ter acesso a capital. Claro que isso soou como música para os bancos, que estão adorando a ideia de gerar acesso a generosos recursos de fundos diversos, órgãos multilaterais e vários tipos de investidores ávidos por bons projetos e negócios ESG.
Mas para ter acesso a esse capital, vão exigir informações integradas e reais das organizações. O relatório de sustentabilidade é só o começo; terá que haver comprometimento das empresas e relatórios financeiros interligados aos de sustentabilidade. Porém, muito mais importante do que isso, tem que ser uma organização ESG verdadeira.
Para facilitar a divulgação de que a empresa respeita e adota os fatores ESG, a IFRS Foundation, responsável pela emissão das normas contábeis internacionais, criou o International Sutainability Standard Board – ISSB com o apoio do G20 e dos mais importantes órgãos de sustentabilidade mundial para se tornar responsável por elaborar as normas a serem observadas na elaboração dos relatórios de sustentabilidade.
Em breve, além da escrituração dos eventos econômico-financeiros, também os eventos relacionados aos fatores ESG serão classificados (taxonomia) e mensurados com base em padrões internacionais. A IFRS Foundation passa a ter um Conselho para emitir as normas de sustentabilidade, com prioridade para aquelas relacionadas às questões climáticas e as metas de zero carbono.
No campo regulatório, a Inglaterra saiu na frente e já está começando a tornar mandatório que as informações das companhias abertas ao mercado sejam integradas: finanças e sustentabilidade. A IOSCO, órgão constituído pelas Comissões de Valores Mobiliários de diversos países, os xerifes dos mercados de capitais, está trabalhando em conjunto com a IFRS Foundation na elaboração das normas do ISSB.
No Brasil, foi tomada a iniciativa de constituição do Comitê ISSB BR – IFRS no Centro de Pesquisa de Contabilidade e Analytics A&A-ARC da Fundação Getúlio Vargas – FGV, que reúne especialistas de grandes empresas nas áreas de finanças, contabilidade, sustentabilidade, relações com investidores, jurídica e de riscos para estudar as normas e responder aos questionamentos do ISSB e claro, ver as oportunidades de negócios vindouras com o ESG, principalmente, para financiamento dos seus projetos de negócio e de sustentabilidade.
Por aqui, a CVM já promoveu alterações no Formulário de Referência, por meio da Resolução CVM 59, obrigando às companhias a elaborarem o relatório de sustentabilidade, informar se as suas informações são auditadas (“assurance”) e identificar o modelo adotado na sua elaboração.
Isso posto, agora os investidores conseguirão perceber se uma empresa apenas faz disclosure de sua sustentabilidade ou se realmente é comprometida com ela. Vamos aguardar para ver o resultado. Contudo, é fato que será muito difícil as empresas continuarem a se financiar sem projetos ESG concretos: um sinal disso é a postura do BNDES de já exigir esse comprometimento das empresas. A nova ordem mundial começou, para ganhar dinheiro temos que salvar o mundo primeiro.
*Alexandre Furtado é Presidente do Comitê ISSB BR – IFRS do Centro de Pesquisa de Contabilidade ARC-A&A da FGV, Sócio e Diretor de Relações Institucionais da Grant Thornton
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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