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A recessão está chegando?
Situação econômica exige ajustes mais frequentes nas carteiras de investimentos.
Já tem algum tempo que estamos argumentando que a economia global está entrando em um novo macro regime. Os bancos centrais reunidos no recente fórum de Jackson Hole, nos EUA, começaram a reconhecer essa realidade. Contudo, parece que não percebem suas implicações econômicas, dada à pressão que enfrentam para conter a inflação, e que não pretendem – por ora – administrar o forte dilema entre a inflação e o crescimento. Trata-se de um problema grave, na medida em que leva os bancos centrais, em sua busca para que a inflação volte às suas metas, a provocar uma recessão e, ao mesmo tempo, é uma má notícia para ativos de risco – como ações – no curto prazo.
Uma recessão está chegando aos EUA?
Tudo indica que ela pode se tornar real no início do próximo ano. O Fed deixou muito claro em Jackson Hole que não tem intenção de recuar em seu ciclo de aumento das taxas de juros, por enquanto. O problema é que esses aumentos não resolverão o maior fator que explica a alta da inflação: os problemas de oferta. A única maneira da inflação cair rapidamente é aumentando as taxas o suficiente para forçar a demanda a cair cerca de 2%, para o nível que equilibra a oferta, considerando os problemas de abastecimento. Porém, isso acarreta um grande custo econômico, principalmente no mercado de trabalho: cerca de 3 milhões a mais de pessoas ficariam desempregadas para que esta meta seja atingida.
Somente quando os bancos centrais virem esse impacto, eles responderão parando de aumentar as taxas, e dificilmente o farão antes disso. Entretanto, até lá será tarde demais para evitar uma contração econômica e o declínio não será o suficiente para trazer a inflação para a meta. No caso dos EUA, a inflação persistirá por algum tempo perto de 3%, um pouco acima da meta de 2%.
O caso da Europa é uma história diferente
A recessão chegará mais cedo devido à crise energética. Os aumentos das taxas pelo Banco Central Europeu (BCE) vão empurrar o euro para uma recessão mais profunda do que os EUA, já no final do ano. Embora o BCE continue aumentando as taxas pelo resto de 2022, é provável que pare mais cedo e bem abaixo das projeções do mercado quando confrontado com a gravidade da desaceleração.
O que tudo isso significa para os investimentos?
A principal conclusão: o novo regime exige ajustes mais frequentes nas carteiras. O horizonte de tempo também é fundamental. Em curto prazo, estamos sub-ponderados nas ações dos mercados desenvolvidos devido ao agravamento das perspectivas macroeconômicas. Em longo prazo, temos ações moderadamente sobre ponderadas.
Ao mesmo tempo, estamos sobre ponderados em títulos globais indexados à inflação global, agora e mais ainda no futuro. Por quê? Acreditamos que os mercados estão mais uma vez subestimando a persistência de uma inflação mais alta. Temos argumentado o ano todo que estamos em um novo regime, de maior volatilidade macroeconômica impulsionada por restrições de oferta que serão mais persistentes. No curto prazo, eles são causados por interrupções no fornecimento, por conta da covid-19 e escassez de mão de obra. Já no longo prazo, os vemos pressionados por forças estruturais, como uma transição acidentada para emissões líquidas de zero carbono e um novo redesenho das cadeias de suprimentos globais em meio às tensões geopolíticas.
*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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