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COP28 e o dilema de Sofia: salvamos o planeta ou lucramos com o petróleo?
Em apenas dois dias de evento, o Brasil escolheu dois caminhos de protagonismo climático mundial: um que pode ser a trilha para acabar com o planeta e outro para salvá-lo.
Para quem nunca assistiu ao filme “A escolha de Sofia”, peço desculpas pelo “spoiler”, mas se trata da película que mostra o pior dilema que uma mãe pode vivenciar: ter que escolher qual de seus dois filhos vai continuar vivo. Estamos nesse momento na COP28 – Conferência Climática das Nações Unidas (ONU) – vivendo o mesmo dilema, o que resta a dúvida: escolheremos salvar o planeta ou continuar lucrando com os combustíveis fósseis?
Na trama, a atriz não teve margem para decisão, ou ela escolheria um filho ou outro. Em nosso dilema atual, estamos também chegando perto desse limite decisório, ou criamos metas robustas para quando pararemos de produzir petróleo ou gás natural, ou não conseguiremos manter a temperatura da terra em níveis que não nos tragam o holocausto completo.
O dilema está permeando as discussões e debates na COP28, enquanto de maneira inédita, nunca feito no primeiro dia de evento, o presidente da conferência anunciava a criação do Fundo de perdas e danos climáticos para países pobres. Mas dias antes da Cúpula do Clima em um seminário online, o mesmo personagem declarava que “não há ciência” comprovando a necessidade de se reduzir progressivamente o uso de combustíveis fósseis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Também no primeiro dia de evento, causando um mal estar completo entre os participantes da conferência, o presidente Lula anuncia a intenção de aceitar o convite dos membros da Organização que congrega os maiores produtores de petróleo do mundo, a OPEP, para integrar a OPEP+. Esta última congrega os países aliados à organização, como, Azerbaijão, Bahrein, Malásia, México e Rússia.
O dilema de Sofia se põe para o Brasil de forma contundente, ele quer se transformar realmente em um país protagonista para salvar o planeta com iniciativas robustas ambientais e de transição energética ou quer continuar produzindo e ganhando com os combustíveis fósseis que podem acabar com o planeta?
Porém, o dilema continua, já que no dia seguinte, na mesma COP28, o ministro da Economia, Fernando Haddad e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciaram o Plano de Transformação Ecológica do Brasil estruturado em seis eixos:
- financiamento sustentável
- desenvolvimento tecnológico
- bioeconomia
- transição energética
- economia circular
- infraestrutura e adaptação às mudanças do clima.
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Entre as medidas, estão o mercado regulado de carbono, a criação de núcleos de inovação tecnológica nas universidades, a ampliação de áreas de concessões florestais, a eletrificação de frotas de ônibus, o estímulo à reciclagem e obras públicas para reduzir riscos de desastres naturais.
Ou seja, em apenas dois dias de evento, o Brasil escolheu dois caminhos de protagonismo climático mundial: um que pode ser a trilha para acabar com o planeta e outro para salvá-lo.
No filme, a mãe polonesa vivida pela atriz Meryl Streep não tinha escolha, ela teve que decidir qual dos dois filhos iria para o campo de concentração nazista ou teria liberdade para continuar vivendo. Então qual caminho escolheremos: salvar o planeta ou continuar lucrando com combustíveis fósseis?
Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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