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Desempenho das ações mexe até com a oferta de gorjetas
Variação de alta de ativos faz com que investidores sejam mais generosos nas gratificações.
Nos Estados Unidos, dar gorjeta é quase uma instituição nacional e uma tradição em setores como transporte, restaurantes e turismo. No pós-pandemia, passou a ser comum também para entregadores, cabeleireiros e até dentistas, envolvendo no total bilhões de dólares anuais e milhões de trabalhadores. É natural, por isso, que seja um assunto do interesse de economistas.
Não faltam estudos que discutem, por exemplo, se dar gorjeta é bom ou ruim para a economia e os profissionais. Um trabalho recente, no entanto, inova ao abordar um aspecto curioso: a relação entre as gorjetas e o desempenho da carteira de ações dos passageiros dos táxis.
Em dias em que os papéis se valorizam, os funcionários de empresas com ações negociadas em bolsa são mais generosos, segundo o trabalho, coordenado pelo economista Cihan Uzmanoglu, professor da Escola de Negócios da Universidade Binghamton, nos Estados Unidos, e publicado no Journal of Empirical Finance.
Os gastos que serão feitos pelos empregados são um dos fatores levados em conta por governantes ao conceder benefícios fiscais para atrair empresas. O raciocínio é que a perda de arrecadação acaba compensada pelos estímulos à economia local. Mas o levantamento demonstra que o cálculo deve levar em conta algumas complexidades.
O estudo começou analisando os dados de pagamento de dois milhões de corridas de táxi iniciadas entre as 5 e 6 da tarde (horário de fechamento da New York Stock Exchange) próximo de empresas com ações negociadas na bolsa localizadas na cidade de Nova York entre 2016 e 2019.
Havia grande chance de que os passageiros fossem empregados de uma destas companhias, permitindo ao pesquisador verificar o quanto davam de gorjeta aos motoristas. Para evitar falsas conclusões, Uzmanoglu também analisou os pagamentos feitos em outros horários, comparando com os valores oferecidos no final do dia. Por último, o economista comparou os dados com o desempenho das ações das empresas.
O quanto uma pessoa dá de gorjeta por determinado serviço diz muito sobre seu estado emocional no momento, assim como sua sensação de prosperidade. Se alguém se sente satisfeito e com mais dinheiro, tende a ser mais generoso. Foi algo constatado pelo estudo, com as gorjetas subindo se o desempenho das empresas melhorava.
O efeito era mais forte em companhias que oferecem bônus em ações para recompensar o desempenho de seus empregados. O estudo também notou que o número de táxis disponíveis próximo às empresas aumentava quando seus papéis subiam. E que as gorjetas aumentavam sensivelmente depois do final do período de lock-up após um IPO, quando os empregados eram autorizados a vender suas ações.
Mas se as ações caíam, as gorjetas também eram menores na mesma proporção? Na verdade, não. Em dias de queda dos papéis, as recompensas até eram menores, mas não muito. O que, para o autor do estudo, é um sinal de que as pessoas parecem considerar que mesmo quando se sentem menos satisfeitas e com menos dinheiro, seguem considerando que há um mínimo aceitável para recompensar motoristas.