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ESG: você está fazendo a sua parte?
Não podemos achar que basta as empresas seguirem o receituário das boas práticas para que possamos dormir tranquilos.
Nos últimos anos fomos bombardeados por matérias diversas nos dando conta que o ecossistema financeiro obedece a uma nova estrela guia que o mercado denominou chamar de investimentos: o ESG.
Até mesmo o mais desatento dos leitores a essa altura do campeonato já deve saber que a sigla ESG é o acrônimo para as palavras em inglês environmental, social and governance, que na tradução para o português significam ambiental, social e governança.
O ESG tem a função de propor boas práticas corporativas e passou a ser avaliado pelos investidores a partir de um espectro mais amplo envolvendo os pilares: conservação ambiental, inclusão social e governança corporativa. Uma nova cultura que pressupõe que a capacidade de gerar valor e sobrevivência no longo prazo exige das organizações reestruturar o seu modo de operar a favor do meio-ambiente e da inclusão social, sem deixar de lado os princípios da governança corporativa.
Há sinais por todos os lados demostrando que a Terra não está brincando conosco. Só para ficarmos no curto prazo, fenômenos climáticos extremos em várias partes do mundo e a pandemia do covid-19, em que um simples vírus foi capaz de provocar a maior crise global multidimensional dos últimos cem anos, escancararam o quanto a espécie homo sapiens é frágil e dependente dos demais seres que habitam este planeta.
E, a mais recente carta de Larry Fink da Blackrock, publicada no dia 18 de janeiro e endereçada aos CEOs, renova nossas esperanças de sermos testemunhas de uma grande revolução na criação de valor pelas forças produtivas, que permitirá não só a geração do lucro, mas, principalmente, a redução da desigualdade social e a manutenção da vida no planeta Terra.
Entendemos os princípios ESG como uma bússola guiando as organizações em suas estratégias de negócios e, se incorporados de forma verdadeira por todos os níveis da organização, representam grande avanço no sentido de alinhamento estreito com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS. E, como reforçou Larry Fink na mais recente mensagem ao mercado, precisamos compreender de vez que lucro, pessoas e o planeta andam juntos e compõem o triple bottom line.
Porém, não podemos achar que já temos um atalho e que basta incorporar algumas medidas que atendam aos princípios das boas práticas ESG para considerar executada a lição de casa. Episódio recente envolvendo um grande banco mostrou o quanto esta pauta é complexa e sensível. Incorporar os princípios ESG exige executar um plano complexo, multifacetado, sensível e “vamos precisar de todo mundo”, como dizia aquela música de Milton Nascimento.
Há muito a ser feito e o propósito aqui é provocar uma reflexão: o que você está fazendo para salvar o mundo? Não podemos achar que basta as empresas seguirem o receituário das boas práticas para que possamos dormir tranquilos. Há lições a serem feitas – e por todos nós.
Dito de outra forma, qual é o seu papel diante do desafio global de mudanças climáticas e aumento crescente da desigualdade social? Você se sente fazendo a sua parte? Não basta comprar produtos de empresas ambientalmente responsáveis, tornar-se vegano e praticar a filantropia. Como cidadão você pode (e deve) exercer o advocacy e cobrar dos demais atores sociais medidas eficazes plenamente alinhadas com a sustentabilidade.
Por exemplo, aquele que exerce um mandato político tem grandes contribuições a fazer para avançar a pauta ESG no âmbito das políticas públicas. Provavelmente essas iniciativas passarão por novo marco regulatório, incentivos tributários, oferta de novas linhas de financiamento e diálogo com os demais agentes da sociedade. Agindo assim, abrirá trincheiras estratégicas a favor do desenvolvimento sustentável.
Precisamos promover uma transformação profunda na maneira de produzir e consumir produtos e serviços, na forma de se relacionar com a natureza e de exercer nossa cidadania. Isso requer um olhar atento e conectado. Exige reconhecer que o nosso gesto pode inspirar muitos outros a ganhar escala, que somos agentes poderosos de mudança independente do nosso lugar de fala. ESG é parte da senha que nos levará ao futuro – nosso futuro comum – e não podemos eximir de nossas responsabilidades.
Em suma, não cabe tão somente às empresas a responsabilidade pela execução de medidas necessárias para restaurar o equilíbrio do planeta a partir de uma nova matriz de negócios ancorada na sigla ESG. O alcance do desenvolvimento sustentável requer que todos façam a sua parte – governos, empresas, políticos, cientistas, ativistas e cidadãos.
Pode ser a nossa última chance. O último chamado. E você não pode fingir que isso não é problema seu. Somos todos parte da solução!
*Marcos Rodrigues é sócio da BR Rating e da MRD Consulting. C-Level e membro de Conselhos nas áreas de tecnologia, serviços, indústria, saúde, varejo, educação e transporte no Brasil e exterior. |
*Dulcejane Vaz é consultora em ESG associada da BR Rating. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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