Colunistas
Especial COP27: dinheiro “vivo e estável” para salvar o mundo
A conferência climática da ONU terminou no domingo (20) e, apesar de todo o pessimismo, alcançou um feito histórico. Veja coluna de Alexandre Furtado.
A conferência climática da ONU terminou no domingo (20) e, apesar de todo o pessimismo, alcançou um feito histórico: a assinatura do acordo pela criação de um fundo de investimento global contra danos climáticos. Dessa vez, o que se espera é que o dinheiro seja realmente distribuído e de forma estável.
Para compreender melhor porque se trata de algo a ser celebrado, temos que recordar que os países mais ricos do mundo sempre tiveram muito receio de ter que pagar toda a conta pelos desastres ambientais globais e recair em seus ombros os prejuízos causados por cada um deles no futuro.
Olhem sob o ponto de vista de finanças governamentais, os países ricos teriam que incluir em sua classificação de risco quanto eles teriam que pagar para bancar tais prejuízos, isso é incalculável. As agências de rating teriam que rever as suas notas e graus de investimentos.
Lembrando que uma classificação de risco ou rating serve para medir a capacidade do agente econômico de arcar com suas obrigações financeiras com terceiros. Serem considerados os responsáveis por arcar com os danos ambientais do mundo colocaria em seus balanços de pagamento um custo inimaginável em termos de valores a serem pagos por cada um deles. Seguramente, rebaixaria as suas notas de risco e causaria um colapso no mercado financeiro mundial.
Claro que esse efeito nunca foi posto nas mesas de negociação, mas o avanço dado pelo país anfitrião da COP27, o Egito, que pela primeira vez colocou na pauta de uma conferência climática o tema sobre compensação financeira dos países ricos para os países pobres gerou tanta repercussão negativa nesses países que o principal documento dos eventos anuais das Nações Unidas foi publicado somente 2 dias após o fim oficial da Conferência.
Os países europeus e os Estados Unidos só aceitaram assinar pela criação do fundo depois de insistirem na inclusão da China como um dos países a colocarem dinheiro. Por sua vez, os representantes do país ainda não confirmaram como será sua contribuição e muitos assuntos estratégicos e operacionais ainda serão tratados até o fundo realmente sair do papel.
Maior poluidor do mundo há muitos anos, a China usou o estudo apresentado na COP para se defender e dizer que somente nos últimos vinte anos entrou na lista negra de países poluidores e que Europa e Estados Unidos, desde a Revolução Industrial, são os maiores emissores de gases nocivos ao efeito estufa responsáveis por 50% de todas as emissões.
Esse nó geopolítico ainda terá muitos desdobramentos, mas a COP27 para o Brasil pode ter gerado um resultado bem positivo em nosso futuro próximo. Podemos, se o novo governo mantiver o discurso pós eleição de que acabará com o desmatamento florestal e continuar a demonstrar vontade de se tornar protagonista no debate socioambiental mundial ser um dos países com maior destinação de recursos do Fundo criado.
Temos que esperar para ver, mas algumas ações internas já estão sendo realizadas, o BNDES, por exemplo, assumiu o compromisso de se tornar neutro em carbono até 2050, o que envolverá suas emissões diretas e a descarbonização de sua carteira de investimentos com mais de R$ 450 bilhões em empréstimos, além de R$ 70 bilhões em participações societárias. Muito dinheiro para nossas empresas realizarem projetos de ESG.
Enfim, mais uma COP foi realizada e o saldo é que para caminharmos rumo a salvação de nosso planeta os países mais ricos deverão assumir a responsabilidade de colocar muito dinheiro vivo e estável para financiar os projetos ambientais mundiais. Vamos aguardar para ver, sou um eterno otimista, acredito que tendo recursos financeiros amplos conseguiremos atingir todas as metas necessárias para salvá-lo.
Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
Veja também
- BB Asset busca parcerias para alcançar R$ 2 trilhões em ativos
- Imóveis mundiais perderão 9% do seu valor por conta de tragédias climáticas
- A boiada passa, chega a conta e fica a pergunta: quem vai pagar?
- Desastres climáticos: a função social das empresas e o novo papel do investidor
- Cadeia produtiva é pilar para estabelecer círculo virtuoso da agenda ESG