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Fomo x Lomo: a guerra de siglas e o momento do Ibovespa
Medo de ficar de fora pode estimular um comportamento menos racional; entenda.
De 14 de julho até o último dia 12, o Ibovespa saltou dos 96 mil para 112 mil pontos. Alta de praticamente 17% em menos de um mês, embalada por uma mudança de cenário. No exterior, surgiu uma menor probabilidade de que a economia americana venha a entrar em recessão. E no contexto local, veio um cenário mais benigno, com deflação em julho e maior possibilidade de que o ciclo de alta dos juros esteja no fim.
Para os investidores que estavam comprados ou pegaram a alta no início, um belo lucro. As ações da Petrobras (PETR3, PETR4), por exemplo, acumulam alta de 33%, descontados os dividendos que a companhia vai pagar este mês e em setembro. Papéis de small caps ostentam subidas ainda mais impressionantes, como da Locaweb (LWSA3), que se valorizou 68%.
Para quem está de fora, em momentos assim é mais forte o Fomo. Fear of Missing Out ou, na tradução, Medo de Ficar de Fora foi uma expressão popularizada pelo investidor e autor Patrick McGuinis em um artigo para a The Harbus, publicação da Harvard Business School, inspirado nos estudos do estrategista de marketing Dan Herman, o primeiro a conceitualizar a ideia. Um sentimento que acompanha a humanidade há muito mais tempo, mas se generalizou a partir dos smartphones e das redes sociais.
Ver como os amigos estão se divertindo enquanto você está em casa pode levar ao Fomo. O mesmo ocorre se todo mundo está vendo uma série, menos você. E também ao perceber que o estilo de vida dos outros é mais maravilhoso do que o seu. O medo de se sentir excluído hoje baseia estratégias de marketing para vender produtos (“última oportunidade!”). Faz parte. Como humanos, somos seres sociais e ninguém gosta de se sentir excluído.
Para investidores, no entanto, Fomo pode estimular um comportamento menos racional. Ficar de fora quando todos parecem estar ganhando é um estímulo para se correr mais riscos. No final de 2021, por exemplo, os sinais de que o Federal Reserve iria começar em breve a subir os juros já estavam no ar, afetando as expectativas para as bolsas, mas o S&P 500 continuava a subir. Para analistas, a razão era o Fomo.
Vendo que os outros estavam ganhando, mesmo com o índice esticado, os investidores seguiram comprando, esperando que subisse mais ignorando o risco maior. É claro que uma hora a conta viria e veio, com o S&P 500, mesmo depois da recuperação recente, ainda caindo mais de 10% no ano. Não quer dizer que vai acontecer o mesmo no caso do Ibovespa. Ao contrário dos índices americanos em 2021, a bolsa brasileira vem de mais de um ano de queda, considerando os 130 mil atingidos em junho do ano passado.
Mesmo assim é inegável que o risco de comprar ações é maior depois de uma alta prolongada. Porém, se o Fomo pode ser traiçoeiro, existe uma sigla parecida, bem menos conhecida, mas que acaba sendo determinante em situações de risco. Lomo (Fear of Losing Out ou Medo de Perder) remete a um dos sentimentos mais arraigados entre investidores: a aversão à perda. Se um estimula o risco, o outro quer evitá-lo.
Em geral, as pessoas são mais sensíveis a perder R$ 100 do que a ganhar R$ 200. O Lomo, por isso, acaba sendo um escudo para situações de maior risco, priorizando a segurança. Fomo x Lomo é uma sopa de letrinhas, mas do embate dos dois sentimentos é possível um equilíbrio entre a hora de se arriscar e a hora de se precaver.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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