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Nos jogos de tênis e nas bolsas de valores: como os campeões reagem aos riscos?
Pesquisadores realizaram estudo para entender se a chance de ser eliminado durante os jogos de tênis aumentaria ou diminuiria com a propensão ao risco.
Como um investidor ousado, o grande Roger Federer não tem medo de correr riscos para evitar uma perda. Se arriscar mais quando está atrás no placar, sacando mais forte e tentando jogadas difíceis, é uma das características do suíço, tão bom que vê-lo jogar foi comparado a uma experiência religiosa pelo escritor americano David Foster Wallace.
Não é assim com Serena Williams. Como a maioria das mulheres, ela não altera o padrão de jogo, esteja ou não na frente no placar. Serena, uma lenda do tênis com seus 23 títulos de Grand Slam, lembra mais um investidor que se mantém fiel à estratégia, não importa se está lucrando ou perdendo dinheiro no momento, se as premissas do investimento (ou do jogo) não mudarem.
Já Novak Djokovic, quando não está causando polêmicas sobre a vacinação, lembra um investidor que só se mexe no instante final. O sérvio espera alguns milésimos a mais do que os adversários para reagir. Procrastina em seu estilo de jogo, usando todo o tempo disponível para decidir onde vai mandar a bola. Uma vantagem que permitiu acumular 20 títulos do Grand Slam – mesmo número de Federer.
Mas procrastinar mesmo é com Rafael Nadal, o final de janeiro o maior ganhador entre os homens da história do Grand Slam, com seus 21 troféus. O ritual antes de um saque envolve limpar os tênis, o rosto, a camisa e cada orelha. A média de tempo gasto é de 20 segundos, mas já chegou a um minuto e meio. Tudo para que a lenda espanhola possa focar na estratégia que vai adotar assim que bater na bola.
Uma partida de tênis exige decisões rápidas. O mesmo ocorre no mercado financeiro. Uma dinâmica em ambos os casos que envolve nossas escolhas diante do risco. E que motivou um curioso estudo de quatro economistas e também professores – Nejat Anbari (Durhan, Inglaterra), Peren Arin (Zayed University, Abu Dhabi), Cagla Okten (Universidade Bilkent, Turquia) e Christina Zenker (St. Gallen , Suíça) – de universidades espalhadas pela Europa.
O grupo se debruçou sobre 32 partidas – 19 masculinas e 13 femininas – do Torneio de Dubai disputado em 2013 com uma regra diferente: as partidas têm apenas dois sets. Se perder o primeiro, o jogador se aproxima perigosamente da derrota caso comece perdendo também o segundo set. Com as estatísticas das partidas, os pesquisadores estavam curiosos: ‘a chance de ser eliminado aumentou ou diminuiu a propensão ao risco?’.
Na Teoria da Perspectiva, de Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia, e Amos Tversky, quase todos somos muito mais afetados pelas perdas do que pelos ganhos. Se alguém perde R$ 10, o sofrimento psicológico tende a ser mais intenso do que a felicidade de achar uma nota de R$ 20. Se a teoria estava certa, tenistas deveriam se arriscar mais quando estavam sendo derrotados e menos quando estavam à frente no placar.
O que valeu para os homens. Em desvantagem, eles sacaram a 1,6 km/h mais rápido do que se estavam ganhando. Porém, não entre as mulheres. Perdendo, elas não mudavam o saque. Mas se estavam ganhando, a bola se movia 6,8 km/h mais lenta. Agiam assim devido à aversão à perda. Errar o saque é dar os pontos à adversária. Com um saque mais lento, aumentavam as chances de decidir com a bola em jogo.
O estudo explica ‘por que economistas têm estudado o tênis?’. Seja na iminência de um set perdido ou da queda da bolsa, os resultados indicam como tomamos decisões em situações arriscadas. Mas claro que ser uma lenda do esporte ajuda.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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