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Para os mercados, a recessão ganhará as eleições nos EUA

Com um impasse político, cai qualquer perspectiva de estímulo fiscal contracíclico que tente abrandar os efeitos de uma política monetária restritiva.

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Nos últimos dias, toda a atenção dos investidores esteve voltada para os resultados das eleições legislativas de meio de mandato nos EUA. Há boas razões para isso: as ações geralmente sobem após essas votações. Isso ocorre porque uma maioria de oposição geralmente assume o controle do Congresso, o que evita mudanças de política que podem ser disruptivas para a economia e para os mercados financeiros. 

No entanto, parece que esse padrão não se manterá desta vez, dado o crescente risco de recessão que o Fed  pode causar ao aumentar as taxas de juros em um esforço para reduzir a inflação.

Além disso, um impasse político diminui qualquer perspectiva de estímulo fiscal contracíclico que tente abrandar os efeitos de uma política monetária restritiva. Isso é particularmente difícil quando a inflação é resultado mais de restrições de oferta do que de um excesso de demanda.

Neste caso, os esforços de estímulo fiscal nessas condições podem quase não ter efeitos para o crescimento, mas dificultam a tarefa dos bancos centrais, como claramente aconteceu no Reino Unido, causando muita incerteza política.    

Dessa forma, o foco político substituirá cada vez mais a economia. Embora se espere que a inflação diminua – refletindo o efeito da alta da taxa –, ela permanecerá acima do seu objetivo, uma vez que o Fed terá de lidar com os riscos crescentes de recessão.

Nesse ponto, o foco político está quase exclusivamente na inflação alta, mas, como as campanhas políticas que antecederam essas eleições alertaram de forma gritante, ele pode se deslocar para críticas ao banco central dos EUA por aumentar demais as taxas de juros e, eventualmente, causar uma recessão.

Tudo isso ocorre em meio a uma crescente politização das decisões econômicas, justamente em um ambiente cada vez mais polarizado que em breve se concentrará nas eleições presidenciais de 2024. 

Isso acabará colocando o Fed na posição desconfortável de ter que considerar uma pausa em sua trajetória ascendente, em meio a crescentes danos econômicos e aumento da pressão política para reduzir as restrições monetárias, o que provavelmente ocorrerá antes que as pressões sobre os preços diminuam. É por isso que eventualmente todos – consumidores, empresas, governos e bancos centrais – terão que aceitar viver em um futuro com alguma inflação.

Quais serão as consequências disso tudo para os investimentos?

Por enquanto, a cautela deve ser maior ao olhar para eventos que já foram positivos para as ações no passado, como as eleições legislativas de meio de mandato. Ao mesmo tempo, o resultado deve ser uma revisão da atratividade da renda fixa, dada a possibilidade dos bancos centrais acabarem cedendo às pressões para aumentar os juros à medida que a atividade econômica sofra um baque.

Para os ativos de mercados emergentes, como os da América Latina, as consequências devem impactar as taxas de câmbio, onde a recente valorização do dólar em vários países da região pode se render a um Fed que entre em pausa antes do esperado quando o foco ainda é a inflação. 

*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock.
Axel Christensen

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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