Economia
Após surpresa positiva no 2º tri, economistas esperam PIB maior em 2022
Revisões de projeções acontecem após o PIB do 2º trimestre crescer 1,2%.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta-feira (1º) que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Segundo economistas, o resultado é bom, superou as expectativas, mostrando que a atividade do país está muito mais forte que o esperado, estimulando projeções mais elevadas para o PIB deste ano.
João Beck, economista e sócio da BRA, avalia que o PIB mostrou resultado bem forte e em linha com os dados de desemprego que foram divulgados nesta semana, o que demonstra, segundo ele, que a atividade no Brasil está muito mais forte do que era estimado no começo do ano, mesmo com níveis de taxas de juros altas no país.
“Não era esperado no início de 2022 que o país teria um crescimento de PIB tão alto. Podemos dever isso a alguns fatores: alta das commodities ao longo do início de 2022, incentivos fiscais muito fortes e, mais recentemente, desonerações fiscais. E, talvez, o fim da pandemia, ainda estamos no retorno, no resultado da retomada da mobilidade. Esse PIB vai provocar revisões para cima”, diz Beck.
Este foi o quarto resultado positivo seguido e acima das expectativas do mercado. Segundo pesquisa da Reuters, era esperado uma expansão de 0,9% .
De acordo com o IBGE, o PIB do Brasil no segundo trimestre teve alta de 2,5% em comparação ao mesmo intervalo de 2021. Já no acumulado dos quatro trimestres até junho de 2022, a economia brasileira cresceu 2,6%.
Impulso de serviços
A atividade econômica no segundo trimestre deste ano foi impulsionada pela alta de serviços, que representa cerca de 70% do PIB do país. No segundo trimestre, o setor avançou 1,3% e 4,5% em relação ao mesmo período de 2021.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, fazia sentido serviços puxarem o resultado.
“O IBGE já tinha relatado que esse setor já estava impactando bastante a questão da volta ao presencial. Tudo que era presencial e ficou muito deprimido no ano de 2020 e 2021, agora, com as pessoas vacinadas, se sentido mais confiantes, e retiradas de restrições, elas começaram a frequentar mais os lugares, sendo motivo de surpresas contínuas”, destaca Cruz.
Já a indústria, teve crescimento de 2,2% e a agropecuária expandiu 0,5%.
Perspectivas
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o resultado do PIB do segundo trimestre estimula elevação de perspectiva no crescimento do país em 2022, podendo chegar a 2,5%, devido, por exemplo, ao impacto do Auxílio Brasil e dos combustíveis mais baratos, dando espaço para outros gastos que estavam mais caros.
“Muitos empresários pegam esses dados e fazem planos para frente, sendo algo que se retroalimenta, com a sensação de que a atividade está aquecida”, aponta Cruz.
A Ativa Investimentos também revisou sua perspectiva para o PIB de 2022, de 1% para 2%.
Acompanhando o mesmo movimento, o Bank of America mudou sua projeção para o PIB deste ano, de 2,5% para 3,25%.
O economista André Perfeito, da Necton, também avaliou que o resultado do PIB foi bom e deve elevar as projeções para 2022, uma vez que, segundo ele, muito dos incentivos dados pelo governo se concentram no terceiro trimestre, como o Auxílio Brasil e a queda da gasolina.
Perfeito destaca, no entanto, que não irá revisar ainda o PIB deste ano, no qual projeta 2%, uma vez que analisará em detalhe outros componentes, como o setor externo, “que recuou com a alta expressiva de importações e queda nas exportações”.
De acordo com o último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (28), a previsão é de que Produto Interno Bruto cresça 2,10% este ano.
Crescimento pode se sustentar?
João Beck, economista e sócio da BRA, faz um alerta se o aquecimento da economia do país pode se sustentar.
“Temos no cenário global uma recessão muito forte, tanto nos Estados Unidos, Europa e China. Tem também a queda dos preços das commodities, que prejudica a nossa arrecadação. Tem os custo com juros, que oneram muito nosso lado fiscal e causa uma restrição muito grande na economia. E há uma restrição de gastos, que não podem ser feitos o ano que vem, pois já chegamos em um nível muito alto de endividamento por causa de todos estes estímulos e desonerações”, destaca o economista e sócio da BRA .
A economista Bruna Centeno, especialista em renda fixa da Blue3, também faz alertas. Segundo ela, toda política de aperto monetário que o Banco Central tem feito reflete no consumo das famílias, pois encarece o crédito, acontece um endividamento maior. Ainda segundo Centeno, toda a elevação de juros realizada no Brasil tem uma defasagem para ter efeito na economia.
“O PIB para 2022 segue forte ainda, mas a perspectiva para o ano que vem é de um PIB menor, vendo esse reflexo. Já observamos um crescimento maior no endividamento das famílias. E, na parte da oferta, as próprias empresas tendo que tomar decisões, pois o crédito ficou mais caro. Um ponto de atenção nesse aquecimento é que ele fica um pouco mascarado, por causa desse atraso da política monetária mais contracionista fazendo efeito na economia”, explica a especialista em renda fixa da Blue3.
Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador e CEO da escola Eu me banco, destaca que outro ponto de atenção para o crescimento da economia em 2023 é como as medidas do governo em relação aos benefícios sociais vão impactar a inflação no início do ano que vem.
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