Economia
Aumento do óleo de soja: qual a relação com a guerra na Ucrânia?
Produto, que acumula alta de 6,09% no Brasil desde o início do ano, já impacta bolso de comerciantes.
O óleo de soja, também conhecido como óleo vegetal ou óleo de cozinha, é um dos principais itens da cesta básica. O produto, que é o mais utilizado no Brasil por ter um preço mais em conta, foi um dos itens que mais encareceram dentre os componentes da inflação no país.
De acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a prévia da inflação oficial, o óleo de soja teve um aumento de 3% no mês de março e de 6,09% desde o início de 2022. Já a inflação acumulada do produto, nos últimos 12 meses, chega a 16,44%.
Quem sentiu no bolso o impacto do reajuste foi o pasteleiro Sérgio Sonoda, de 40 anos. Há 17 anos no ramo, ele diz que não sabe até quando vai conseguir segurar o atual preço do pastel, que é comercializado a R$ 8 em sua banca em uma feira do Parque Edu Chaves, na Zona Norte de São Paulo.
“Está aumentando direto, não para de subir o preço”, lamenta. “Eu uso, no mínimo, 30 litros de óleo de soja para vender 300 pasteis por dia. Em feiras mais movimentadas, chego a usar 60 litros por dia.”
O galão com 20 litros de óleo, que ele compra direto da distribuidora e que custava R$ 100 em janeiro, passou para R$ 180 em fevereiro. Com isso, o pasteleiro diz que não sabe até quando vai conseguir segurar o repasse do preço ao consumidor. “A população não teve aumento de salário, não teve reajuste da inflação, então fica difícil repassar”, comenta.
O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de óleo de soja no mundo (leia abaixo). Apesar disso, o consumidor interno que já vinha enfrentando os reajustes no preço durante a pandemia, voltou a sentir o impacto da alta do óleo.
A dona de casa Maria Luiza também sente os efeitos do aumento do produto e procura alternativas para cozinhar.
“Já comprava o óleo de soja para economizar, pois era o mais barato. Agora, com esse preço nas alturas, estou evitando fazer frituras em casa”, afirmou ela.
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o aumento vertiginoso do preço do óleo de soja fez cair o poder de compra do consumidor. Em março de 2010, quando o preço da garrafa de óleo de 900 ml custava, em média, R$ 4, era possível comprar 25 unidades com R$ 100.
Em março de 2011, com os mesmos R$ 100, só dava para adquirir 13 garrafas de óleo. Na ocasião, o produto era comercializado a R$ 7,58. E, em março deste ano, com o preço médio de R$ 9,41, o consumidor conseguia comprar somente 10 unidades.
Qual a relação com o conflito entre Rússia e Ucrânia?
A Rússia e a Ucrânia são os maiores exportadores de óleo de girassol do mundo. Juntos, são responsáveis por 70% de toda a exportação. Com a guerra entre os dois países, o óleo de soja, que é uma alternativa ao óleo de girassol, acaba sofrendo a influência da alta de preços.
A Rússia também é maior produtora e fornecedora de trigo para o mercado internacional. Já a Ucrânia é o quarto maior fornecedor de milho, ficando atrás somente dos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
“Com menos milho e trigo chegando ao mercado, a cotação dessas commodities aumenta. Para a produção, o uso de solo é praticamente o mesmo, mas os grãos competem entre si, então há uma contração da área de soja plantada, pressionando mais a cotação do grão”, afirmou Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Seca e valorização da matéria-prima
O professor também ressalta que outros fatores favorecem a elevação dos preços como a alta da matéria-prima e fatores climáticos, como a seca que atingiu o Sul do país e afetou a última safra.
“A matéria-prima, a soja, tem operado em patamares elevados no cenário internacional desde o segundo semestre de 2020, principalmente devido à China que está comprando os grãos para recompor seu rebanho suíno”, explicou.
Além da redução das exportações de óleo de girassol, a escassez de óleo de palma na Indonésia também aqueceu a procura global por óleo de soja. No Brasil, o óleo de palma é conhecido como óleo de dendê, muito consumido na região Nordeste. A valorização do petróleo também elevou o interesse por biodiesel, que tem o óleo de soja como a principal matéria-prima.
Do lado da oferta, há incertezas quanto à disponibilidade do derivado na Argentina (principal exportadora mundial de derivados de soja), devido à menor colheita do grão nesta temporada, que fez o país interromper as exportações do farelo e do óleo de soja.
“Há uma demanda de óleo no cenário internacional, só que a oferta ficou menor. Com esse desequilíbrio, o preço mantém a sustentação de patamares mais elevados.”
Felippe Serigati afirma que o preço do óleo poderia estar mais elevado no país, mas o valor da saca do grão ganhou um “alívio” devido à questão cambial, já que o real tem se valorizado frente ao dólar.
Brasil
O óleo de soja corresponde a aproximadamente 70% do volume total de óleos vegetais consumido no Brasil, segundo dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).
Os principais destinos do óleo de soja brasileiro em 2021 foram:
- Índia: 39% das exportações;
- China: 26% das exportações.
De acordo com a Abiove, as exportações brasileiras de óleo de soja em janeiro totalizaram 170.300 toneladas, contra apenas 8.500 toneladas no mesmo período do ano passado, com a Índia comprando quase 140.000 toneladas, maior volume em pelo menos 20 anos.
De acordo com a USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o Brasil produziu 8,9 milhões de toneladas nos últimos 12 meses. O país foi o terceiro maior produtor de óleo de soja do mundo, ficando atrás da China e Estados Unidos.
Maiores exportadores
A Argentina é a maior exportadora de óleo de soja do mundo. Entre março de 2011 e março de 2022, o país enviou para países do exterior 5,9 milhões de toneladas.
O Brasil está na segunda posição do ranking, mas aparece bem distante dos vizinhos, com 1,7 milhão de toneladas exportadas.
A União Europeia fica na terceira posição com 1,05 milhão de toneladas exportadas. Já os Estados Unidos, segundo maior produtor mundial, é o quarto que mais exportou nos últimos 12 meses, com 737 mil toneladas.
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