Economia

BC deixa Selic em 2% e diz que compromisso de não subir juros pode cair em breve

Apesar disso, o BC destacou que uma alta da Selic não seria um processo mecânico.

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O Banco Central manteve nesta quarta-feira (9) a Selic na mínima histórica de 2% ao ano, na terceira vez consecutiva que optou por deixá-la no mesmo nível, e destacou que, em função do quadro inflacionário, as condições para seu compromisso de não elevar os juros básicos podem em breve não estar mais satisfeitas.

Apesar disso, o BC destacou que uma alta da Selic não seria um processo mecânico.

No comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC destacou que desde a adoção do chamado forward guidance (uma indicação de médio prazo feita pelo BC, apontando como pretende conduzir a política monetária), em setembro, houve uma reversão da queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante, que hoje inclui os anos de 2021 e 2022.

Por meio do forward guidance, o BC havia se comprometido a não elevar a Selic desde que algumas premissas fossem mantidas:

  • expectativas de inflação e projeções de inflação de seu cenário básico abaixo da meta para o horizonte relevante de política monetária,
  • não alteração do regime fiscal
  • ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.

No comunicado desta quarta-feira, o BC avaliou que essas condições seguem de pé, mas reconheceu que as expectativas de inflação permanecem abaixo da meta para o horizonte relevante, e não mais “significativamente abaixo”.

“Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta”, disse o BC.

A manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, acrescentou.

O BC apontou que, caso seja retirado o forward guidance, as decisões para a Selic seguirão “o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”.

Na sua comunicação, o BC também abandonou a frase de que o espaço remanescente para baixar os juros, se houver, deve ser pequeno, ao mesmo tempo em que disse considerar adequado o atual nível “extraordinariamente elevado” de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2% ao ano, em conjunto com o forward guidance.

Na reunião anterior do Copom, em outubro, o BC não havia feito avaliação sobre o atual nível de estímulo, limitando-se a dizer que o considerava adequado.

Previsões

Para a equipe da banco Modalmais, a mudança de tom no comunicado é um “evidente alerta” de que o forward guidance poderá ser retirado já na próxima reunião do Copom, em 19 e 20 de janeiro, passo que o time de analistas da instituição passou a prever em seu cenário base.

“Mantemos ainda assim perspectiva que a Selic permanecerá estável até o final do primeiro semestre de 2021, encerrando o ano em 3,5% (com viés de alta)”, afirmou o banco, em comunicado a clientes.

Em pesquisa Reuters, todos os 28 economistas consultados haviam previsto que a taxa básica seguiria no mesmo patamar na decisão desta quarta-feira. Os olhos do mercado estavam voltados exatamente para a sinalização do BC quanto à manutenção do forward guidance e também sobre sua leitura do balanço de riscos num cenário de maior pressão inflacionária.

Inflação

Em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve sua maior alta do ano, de 0,89%, levando o acumulado em 12 meses a 4,31%, acima da meta central para 2020.

Nesta quarta-feira, o BC piorou suas estimativas para o IPCA, passando a prever alta de 4,3% em 2020, 3,4% em 2021 e 3,4% em 2022, ante metas de 4%, 3,75% e 3,5%, respectivamente, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Na última reunião do Copom, os percentuais calculados pela autoridade monetária eram de 3,1%, 3,1% e 3,3%.

As estimativas levaram em conta a taxa Selic da pesquisa Focus e taxa de câmbio seguindo trajetória de acordo com a teoria da paridade do poder de compra (PPC).

Sobre a inflação, o BC manteve seu diagnóstico de que, apesar da pressão mais forte no curto prazo, os choques atuais são temporários, e reafirmou que segue monitorando essa evolução com atenção, adicionando que dará foco nessa análise às medidas de inflação subjacente, isto é, à tendência para os preços independentemente dos componentes transitórios.

Em relação ao cenário externo, o BC pontuou que os resultados promissores que têm sido divulgados para vacinas contra a covid-19 tendem a trazer melhora da confiança e normalização da atividade no médio prazo, ainda que a ressurgência da pandemia tenha atingido algumas das principais economias.

“A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes”, disse o BC.

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