Economia

China esfria interesse por grãos e pode aliviar pressão sobre a inflação global de alimentos

Desaceleração é reflexo de uma queda da atividade econômica do país

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Armazéns em toda a China estão abarrotados de grãos, em meio a uma desaceleração econômica que pode ter impacto duradouro para exportadores que há anos contam com a demanda da potência asiática por commodities agrícolas.

Já há sinais de tensão nos mercados globais. As exportações de cevada francesa para a China estão em queda, e os EUA ainda não venderam um embarque completo de milho da nova safra. Os produtores de trigo da Austrália provavelmente estão apreensivos enquanto se preparam para começar a colher sua nova safra nas próximas semanas.

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Nada disso mudará tão cedo, e a combinação de envelhecimento da população chinesa e esfriamento da economia não é um cenário animador. As tradings e os produtores terão que começar a se ajustar a uma perspectiva de demanda muito diferente. Mesmo que as preocupações com segurança alimentar mantenham as importações robustas pelos próximos anos, o crescimento desenfreado visto nas últimas duas décadas provavelmente acabou.

“As pessoas estão ficando mais pessimistas com a economia e com a demanda”, disse Ivy Li, analista de mercados de commodities da StoneX. “Os importadores serão bastante cautelosos, comprando mais lentamente e só o necessário. O impacto do colapso da confiança se espalhou por toda parte.”

Inflação de alimentos

Para os consumidores globais, grãos mais baratos podem aliviar a pressão sobre a inflação de alimentos que aumentou após a invasão da Ucrânia. Uma incógnita é o resultado da eleição presidencial dos EUA em novembro, que pode derrubar os fluxos comerciais caso o vencedor tome uma posição dura em relação à China.

Outro ponto de interrogação é o clima, que ainda pode afetar os planos de redução das importações. A China foi forçada a usar grande parte de seu trigo para alimentar animais no ano passado após danos causados por chuvas, e teve que importar mais para repor o trigo estragado.

China desacelera

A desaceleração da China e a crise imobiliária do país abalaram a confiança do consumidor, levando famílias a cortar o consumo de carne e abrir mão de ir a restaurantes, reduzindo os volumes de grãos e oleaginosas necessários para alimentar os rebanhos de porcos do país ou produzir óleo de cozinha.

O governo já tomou medidas para tentar proteger os agricultores, pedindo às tradings que limitem as compras de milho, cevada e sorgo no exterior — um esforço para aliviar o excesso de oferta exacerbado por uma onda de compras no início do ano. Estas remessas chegaram aos portos chineses bem quando o consumo diminuía. O país também reduziu o uso de farelo de soja na ração animal.

O boom econômico da China no início do século transformou a nação em uma potência consumidora de commodities, desde grãos a metais e petróleo, e levou países ricos em recursos naturais como o Brasil a aumentarem produção para atender à demanda crescente. A indústria agrícola da China é enorme, mas a necessidade de alimentar 1,4 bilhão de pessoas tornou o país um importador gigante de soja, milho e, mais recentemente, trigo.

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Da safra que começou este mês, os EUA venderam apenas 13.400 toneladas de milho para a China até agora, em comparação com mais de 564.000 toneladas um ano atrás, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA. No ano-safra anterior, as exportações caíram 63%. Os embarques do Brasil também recuaram.

Uma commodity-chave para a qual China continuará a depender fortemente de importações é a soja, com Brasil e EUA liderando o fornecimento. A produção doméstica chinesa está longe de ser capaz de atender às necessidades do país, mesmo que a demanda tenha diminuído.

O Brasil registrou exportações recordes para a China no início deste ano, impulsionadas por preços mais baixos para a oleaginosa usada para produzir óleo de cozinha e ração animal para porcos. Mas, os EUA venderam até agora menos de 5 milhões de toneladas para entrega na temporada 2024-25 — o menor volume em 16 anos fora da guerra comercial de 2018-19, e uma queda de 25% em relação ao ano passado.

“A demanda chinesa não está tão forte quanto no passado”, disse Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil. “Não estamos vendo um crescimento significativo como nos anos anteriores.”

E os agricultores locais não são os únicos a sentir a pressão, com lucros para grandes empresas de catering em Pequim caindo 88% no primeiro semestre do ano, à medida que os consumidores se tornaram mais econômicos.

Importações

No ano comercial 2024-25, as importações de milho da China podem cair em mais da metade, para entre 9 milhões e 11 milhões de toneladas, enquanto as importações de trigo podem cair para entre 7 milhões e 9 milhões de toneladas — ante 13 milhões em 2023-24 — de acordo com traders na China, que pediram para não serem identificados porque não estão autorizados a falar com a mídia.

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Pequim “declarou no início deste ano seu objetivo de melhorar a renda dos produtores de grãos chineses e de promover uma maior eficiência na agricultura, o que implica que a China exercerá um maior controle sobre as importações no futuro”, disse Tanner Ehmke, economista-chefe para grãos e oleaginosas no CoBank. “Mas também há a preocupação óbvia sobre a desaceleração da economia da China.”

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