Economia
China injeta liquidez em setor imobiliário, mas demanda é fraca
Ativos ligados ao frágil setor imobiliário do país subiram nas últimas duas semanas, depois que reguladores introduziram diretrizes que abordam desde problemas de liquidez das empresas até o uso de fundos de pré-vendas.
O tão esperado resgate de incorporadoras na China finalmente chegou neste mês para aliviar a grave crise de liquidez. Reverter a queda da demanda doméstica pode ser um desafio tão grande quanto.
Ativos ligados ao frágil setor imobiliário do país subiram nas últimas duas semanas, depois que reguladores introduziram diretrizes que abordam desde problemas de liquidez das empresas até o uso de fundos de pré-vendas. Embora as medidas tenham animado investidores, um relatório nesta semana mostrou que os preços de novos imóveis caíram pelo 14º mês, enquanto a Moody’s Investors Service projeta queda das vendas de até 15%.
“Não acho que as medidas de apoio sejam adequadas enquanto a confiança dos compradores de imóveis e vendas contratadas permanecerem baixas”, disse Zerlina Zeng, analista da Creditsights Singapore. “A maioria das medidas visa conter o risco sistêmico e de cauda, em vez de resgatar os detentores de títulos”, e também levará tempo para “ver a transmissão real dessas políticas”, afirmou.
As medidas de apoio introduzidas na semana passada puxaram ganhos recordes das ações de incorporadoras e ajudaram a colocar os indicadores acionários de Hong Kong em terreno altista. A Loomis Sayles & Co. descreveu a política como um “divisor de águas” que pode ajudar a reestruturar uma indústria assolada por defaults e construções interrompidas. Um indicador que acompanha títulos de alto risco da China, principalmente de empresas imobiliárias, avançou 6,2 centavos de dólar nesta semana para 58,5 centavos de dólar, uma recuperação frente a mínimas históricas.
Um índice Bloomberg de construtores chineses subiu 8% esta semana, depois do salto recorde de 27% na semana passada. Os papéis do setor devolveram parte dos ganhos nesta sexta-feira, com queda de 2%. Em 11 de novembro, reguladores anunciaram um plano de 16 pontos para impulsionar o mercado imobiliário, e autoridades seguiram as recomendações em 14 de novembro com a permissão para que incorporadoras acessem mais recursos da pré-venda de imóveis, a maior fonte de receita do setor.
Preços em queda
O otimismo esfriou alguns dias depois, quando um relatório do governo mostrou que os preços dos imóveis haviam registrado a maior baixa em sete anos em outubro. Os preços de imóveis novos em 70 cidades caíram 0,37% em relação a setembro, disse o Departamento Nacional de Estatísticas. O mercado de imóveis usados encolheu 0,47%, o pior número desde 2014.
“Sob a política atual, as mudanças do lado da demanda ainda precisam ser vistas e, portanto, a magnitude e a sustentabilidade da melhoria nas condições de crédito das empresas imobiliárias também precisam ser observadas”, disse Yewei Yang, analista-chefe de títulos na Guosheng Securities.
As vendas contratadas de propriedades na China cairão de 10% a 15% até o final do próximo ano, disse a Moody’s Investors Service em relatório nesta semana. Medidas recentes para ajudar a indústria só “terão efeito lentamente e levarão a uma recuperação gradual”, segundo o relatório.
O pacote de resgate do setor imobiliário anunciado neste mês beneficiará principalmente incorporadoras privadas que ainda não entraram em default, de acordo com analistas que acompanham o segmento. A maior incorporadora do país, a Country Garden Holding, foi a primeira aproveitar as medidas para fazer uma oferta de ações.
Entre os maiores vencedores em títulos offshore nesta semana estão Seazen Group, Country Garden e Gemdale Ever Prosperity Investment, de acordo com um índice de alto rendimento da Bloomberg. Todas as três geraram retorno acima de 100% na semana passada. As incorporadoras que ficaram para trás incluem a Zhongliang Holdings, cujo título mostra queda de 1,6% na última semana depois de suspender todos os pagamentos offshore.
No início do mês, um analista da Loomis Sayles disse que a crise dos títulos imobiliários chineses em dólares é tão extrema que uma análise significativa não é mais possível.
“A diretriz da política sobre a extensão dos prazos de empréstimos e pagamentos de títulos deve ajudar incorporadoras maiores e financeiramente mais fortes”, escreveu em nota Chang Wei Liang, macroestrategista do DBS Bank, em Singapura. “Entidades que já entraram em default, ou já estão à beira do default, provavelmente não se beneficiarão.”
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