Economia

Com Congresso mais à direita, economistas não esperam mudanças radicais com Lula

Ainda assim, as atenções seguirão voltadas para a situação das contas públicas.

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A formação do Congresso após as eleições de 2022 e o cenário externo não deixam muito espaço para mudanças drásticas na economia no início do governo Lula em 2023. Essa é a visão de economistas ouvidos pelo InvestNews após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2º turno no domingo (30). Mesmo assim, as atenções devem seguir voltadas às contas públicas.

Lula foi eleito após fazer uma campanha que propõe medidas como revogação do teto de gastos e zerar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Especialistas apontam que a situação fiscal é a principal preocupação, mas acrescentam que ainda é cedo para prever mudanças – especialmente enquanto ainda se aguarda o anúncio dos nomes que irão compor a equipe econômica do novo governo. 

Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, diz que “a grande expectativa do mercado financeiro agora é em relação à questão de planos econômicos, divulgação de possíveis ministros e a percepção em relação à questão de gastos. Esse é um dos pontos mais importantes agora.”

Mas, independente do cenário e dos nomes escolhidos para a equipe econômica, o economista Roberto Luis Troster afirma que o governo Lula “tem três nós importantes para desamarrar”. 

“O primeiro são as contas públicas. É um nó difícil. São muitos gastos, vai precisar de uma reforma tributária e uma fiscal. O segundo nó são as próprias reformas. Tem que fazer reformas se o Brasil quiser avançar um pouco mais. E o terceiro nó é um projeto de país. Mostrar para onde a gente vai seguir não só nos próximos 4 anos, mas nos próximos 10 anos, 12 anos”, diz Troster. 

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini avalia que, por mais que haja incertezas sobre a equipe econômica, não há “espaço para um ‘cavalo de pau’ na economia brasileira, até porque a economia vai estar blindada por conta de um Congresso mais alinhado à direita”.

“Primeiro ano de governo sempre é para negociações com o Congresso e ver o que pode ser feito. Não tem muitas expectativas de alguma medida do novo governo de Lula”, diz o economista. 

Vieira, da Infinity Asset, acrescenta que “temos que lembrar que o governo Lula não vai ser um governo com apoio do Congresso”. “O Congresso em si quebrou o paradigma do presidencialismo de coalizão, com a criação do chamado Orçamento de Parlamentar, ou seja, dos tais ‘orçamentos secretos’. Tirou muito poder do Executivo.”

O economista diz que “precisa-se entender como será um governo Lula com poderes limitados, principalmente com a oposição ao governo dele literalmente dominando as duas casas.”

Cenário externo

Agostini comenta que “o principal desafio do Brasil não vai ser o novo governo, que vai mudar ou não o que está em curso, mas sim o cenário internacional, que pode trazer um desafio muito grande – aliado, claro, às necessidades de colocar as contas fiscais em ordem.”

Também comentando o cenário externo, Troster aponta expectativas que devem beneficiar o cenário econômico para o Brasil em meio à mudança de governo. “O setor externo para o novo governo, apesar de tumultuado no resto do mundo, se mostra positivo para o Brasil. Os preços das commodities acima do patamar histórico anterior à pandemia, taxa de juros, apesar da alta, abaixo da média histórica e os mercados bursáteis favoráveis (bolsa de valores) ao Brasil.”

O economista acrescenta: “a projeção é que tenha uma supersafra no ano que vem. Mais produtos exportados e com preços mais caros, são mais dólares entrando para a economia brasileira.”

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento com prefeitos em São Paulo 26/10/2022 REUTERS/Carla Carniel

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