Economia

Com defasagem maior que diesel, expectativa por alta da gasolina aumenta

Apesar de não ter sido alterado pela Petrobras, preço da gasolina tem defasagem de 19% contra o mercado externo.

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Depois da alta de 8,9% do diesel anunciada pela Petrobras (PETR3 e PETR4), o aumento da gasolina passou a rondar as expectativas dos economistas diante do tamanho da defasagem entre os valores do mercado brasileiro e os praticados lá fora. Essa diferença era de mais de 19% no mesmo dia em que a Petrobras aumentou o diesel para as refinarias sem aumentar a gasolina.

No caso do diesel, mesmo após a alta nas refinarias, a defasagem ainda está em quase 11% em relação aos preços internacionais. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (ABICOM), a diferença no valor do combustível vendido nas refinarias brasileiras na comparação com o que é cobrado no exterior se manteve em 10,83%, ou de US$ 0,60, após o reajuste. Enquanto o preço internacional é de US$ 5,59, no Brasil a média nas refinarias é de US$ 4,99.

Já no caso da gasolina, que não sofre reajuste pela Petrobras desde março (quando o preço do litro subiu quase 19% de uma vez), a defasagem é bem maior. O preço internacional é de US$ 4,79, enquanto no Brasil a média por litro é de US$ 3,86 – uma defasagem de 19,35%.

Essa defasagem, exceto se o governo quiser intervir nos preços dos combustíveis, é prenúncio de que há mais aumentos a caminho, inclusive do diesel, já que a diferença vem aumentando. No dia 1º de maio, por exemplo, ela era de 10,5%. Esse número quase dobrou em menos de duas semanas.

Produção de petróleo x refino

Quando os preços ficam defasados, caem as importações de combustíveis. E, sem importação, existe o risco de desabastecimento, já que o Brasil não é auto suficiente tanto em gasolina como no diesel. De cada 4,5 litros de diesel consumidos no país, um foi importado. Ou seja, 22% vêm de fora. E de cada 6,4 litros de gasolina usados nos carros, um foi trazido de fora. Nada menos do que 15,6% do total.

O assunto gera dúvidas porque o Brasil produz mais petróleo do que consome, principalmente desde o início da exploração das reservas do pré-sal. Mas as refinarias em operação no país estão equipadas para refinar um óleo mais leve do que o óleo que produzimos aqui. A situação é herança dos tempos em que o Brasil importava da Arábia Saudita a maior parte do óleo que consumia.

O tempo passou, a produção no país avançou, mas a capacidade de refino não se adaptou. Resultado: o Brasil acaba exportando quase metade do petróleo que produz.

Em 2021, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o país vendeu para o exterior 45,5% de sua produção de 2,9 milhões de barris diários. Foi só um pouco menos do que em 2020 (46%).

O óleo do pré-sal, que corresponde a 1,5 milhão dos 2,9 milhões de barris diários produzidos, é leve e vira combustível no Brasil. Mas o restante acaba sendo vendido principalmente para a China e os Estados Unidos.

A Petrobras, responsável por 98% do refino no país, aos poucos tem deixado o setor, se concentrando na produção, mais lucrativa. Então, o país depende de investimento privado – que só virá se houver liberdade para definir os preços do diesel e da gasolina conforme os custos de produção, sem interferência do governo.

Por ora, o importador não vai trazer combustível pagando mais caro no exterior para vender barato no Brasil. Se o cenário é adverso, não vende gasolina aqui.

Isso afeta principalmente regiões que dependem mais das importações, como o Nordeste do país. E produz um racionamento no setor, no qual só as maiores empresas vão continuar importando com prejuízo.

Preços represados?

Defasagem do preço da gasolina. (Elaboração: Samy Dana)

Mas o complicador é que a gasolina tem impacto na inflação. Isso levanta algumas suspeitas de que a Petrobras segura os preços para não prejudicar o governo em ano eleitoral. A empresa nega, mas desde o início do ano vem segurando os aumentos.

E é de notar que, mesmo com o aumento, como já ocorreu outras vezes, o Brasil não deixou de ter um custo do diesel entre os menos caros.

No site Global Petrol Prices, o Brasil tem, entre 169 países, o 83º diesel mais caro na bomba, sem levar em conta o poder aquisitivo dos consumidores de cada local. Já a gasolina brasileira é a 93ª mais cara do mundo nos preços atuais.

* colaborou Karina Trevizan

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