A alta no preço dos combustíveis tem tirado o sono de motoristas brasileiros e pressionado a inflação no país.
Após o reaquecimento da economia mundial, que desacelerou com a recessão provocada pela pandemia de Covid-19, e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o preço do barril do petróleo, que é negociado em dólar, subiu. A Rússia é a terceira maior produtora de petróleo do mundo, depois dos Estados Unidos e Arábia Saudita. Como a gasolina é derivada do petróleo, o litro do combustível aumentou com o conflito político.
E na hora de olhar os preços nas bombas de combustível antes de abastecer, o consumidor se assusta ao ver que o valor do litro do etanol também subiu e não entende o motivo, já que o combustível é composto pela fermentação da cana-de-açúcar, que é produzida no Brasil.
Oferta x demanda
De acordo com Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União das Indústrias de Cana-de-açúcar), sempre vai existir uma paridade entre o preço dos dois combustíveis no país.
“O etanol é um produto concorrente da gasolina, por isso, ele tem sempre como referência o preço da gasolina. E sempre o etanol vai acompanhar o preço da gasolina na alta ou na baixa. O consumidor é quem vai fazer sua avaliação se vai usar o etanol ou a gasolina, e ele faz esse equilíbrio de mercado”, disse.
Rodrigues ressalta que são as regras de mercado, da oferta e demanda, que determinam o valor do combustível. Ou seja, quando o preço da gasolina aumenta, o consumidor abastece mais com etanol, que passa a vender mais. E, com a alta demanda pelo etanol, os produtores sobem o preço cobrado para as distribuidoras, que repassam a alta para o consumidor.
“A gasolina tem um preço em linha com a política de preços da Petrobras (PETR3; PETR4), mais o tributo, que vale tanto para a gasolina nacional quanto para a importada. E as variações de preços acontecem ao consumidor em alguns momentos porque o preço da gasolina na refinaria sobe, ou em outros momentos porque a margem da distribuidora ou da revenda sobe. E tem também a questão tributária”, afirma o diretor-técnico da Unica.
A Petrobras, empresa controlada pelo governo, é a maior exploradora de petróleo no país, e pratica uma política de preços de reajuste dos combustíveis conforme as cotações do mercado internacional. Por isso, essas cotações são em dólar. Apesar da desvalorização que sofreu nos últimos dias no Brasil, a moeda norte americana é bem mais forte que o real, o que encare o valor do barril, afetando ainda mais o preço dos combustíveis.
O valor da matéria-prima varia conforme a demanda global. Com as sanções aplicadas à Rússia que vetaram a compra do petróleo do russo, os países compradores pedem à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que aumente a produção do combustível para diminuir o valor praticado no mercado.
Outros fatores, como a entressafra e questões climáticas, também podem interferir no preço do etanol.
Questão climática
Segundo a Unica, a última safra sofreu uma queda de mais de 80 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por conta de clima, que teve desde geada a focos de incêndio, reduzindo tanto a oferta de açúcar como a oferta de etanol. Com isso, os preços oscilaram e, em alguns momentos, ficou muito mais favorável à gasolina e, em outros momentos, mais favorável ao etanol. No entanto, a queda da mobilidade gerada com a pandemia e recessão aumentou a oferta do produto disponível.
O economista André Braz, da DFGV, explica que a gasolina C, que é a que gente usa para abastecer os veículos, tem 27% de álcool anidro, então, a gasolina do posto não sofre o reajuste da gasolina da refinaria, que é a gasolina A, que não tem mistura alguma.
“E essa gasolina C segue influência das safras de cana. Então durante os períodos de safra o etanol é mais barato e pode diminuir também os impactos da gasolina A na gasolina C, como pode a piorar. Se a demanda por etanol subir muito, o álcool anidro também pode subir de preço fazendo com que a gasolina suba mais. Então, o preço do combustíveis não segue apenas só o preço do barril de petróleo e a nossa taxa de câmbio”.
Braz ressalta que a redução do IPI da importação do etanol proposta pelo governo “é frágil” já que a maior parte do combustível utilizado é produzido no Brasil.
Produção de etanol
O Brasil é o maior produtor mundial de etanol derivado da cana-de-açúcar. O país é autossuficiente na produção do biocombustível.
Na última safra, em 2021, o Brasil produziu 30 bilhões de litros de etanol:
- 3,5 bilhões etanol de milho
- 26,5 bilhões etanol de cana
Deste total, o país exportou 1,5 bilhão de litros que não foram utilizados como combustível, mas como álcool com fins não carburantes para a fabricação de produtos de higiene, como álcool gel.
Tipos de etanol
No Brasil, são produzidos dois tipos de etanol, o anidro e o hidratado:
Anidro: É o etanol puro, sem adição de nenhuma substância. Ele é adicionado à gasolina A, na proporção de 27%, resultando na gasolina comum.
Hidratado: É o etanol misturado com água e vendido aos motoristas.
Aumento real dos combustíveis
O preço real do etanol subiu 36,49% no Brasil nos últimos 11 anos, descontado o valor da inflação no período, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O combustível, que é derivado da cana-de-açúcar, aumentou mais, em termos percentuais, que o preço da gasolina, que é derivado do petróleo e cujo barril é negociado em dólar.
De 2001 a 2022, a gasolina, descontando o valor da inflação, foi reajustada em 20,58%. Ou seja, o valor do etanol em relação à gasolina ficou 15,91 pontos percentuais mais alto.
Já o preço da gasolina corrigido pela IPCA (Índice de Preços do Consumidor Amplo) atingiu o valor máximo médio de R$ 7,27 o litro em 19 de março desde ano e o litro mais barato foi vendido por R$ 4,45 em 1 de maio de 2020.
E, desde 2001, o valor mínimo médio do litro etanol foi de R$ 2,82 em 1 de junho de 2009. O valor máximo comercializado foi de R$ 5,54 em em 1 de novembro de 2011.
Como o motorista calcula qual combustível é mais vantajoso?
Era comum o motorista fazer um cálculo simples para saber se devia abastecer o carro com álcool ou gasolina. Bastava dividir o preço do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado fosse inferior a 0,7, a recomendação era para usar álcool. Caso fosse maior do que 0,7, o ideal era usar gasolina.
No entanto, a tecnologia automotiva mudou as regras. A evolução dos motores flex e a realidade de cada motorista faz com que os resultados sejam diferentes.
“Não existe mais essa eficiência de 70% como todo mundo fala, tem carros que tem eficiência de 76%, tem carro menos de 70%, tem a forma de dirigir. Então, o consumidor ao longo do tempo aprendeu a fazer essa conta e perceber claramente o que acontece”, afirmou Rodrigues.
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