Economia
Comunicado sobre Selic foi duro e trouxe recado ao governo, dizem especialistas
Documento, segundo especialistas, reforçou que BC só fará uma alteração nos juros se houver queda na inflação.
O Comitê de Política Montária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (22) que decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Na visão de especialistas, mesmo com a decisão em linha com a expectativa do mercado, o comunicado, além de duro, foi um recado para o governo, especialmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem criticado o patamar dos juros no país, além da independência e as decisões da autoridade monetária.
“O BC foi para o pau contra o Poder Executivo. Diferentemente do que se pressupunha, ele não flexibilizou o tom do comunicado, apesar de ter mantido a taxa de juros inalterada”, avaliou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, sobre o Copom.
Para Spiess, o recado foi diretamente para Lula. “Se quer corte de juros, pare de falar e apresente responsabilidade fiscal“, avaliou.
O analista citou como exemplo a frase final do comunicado do BC, na qual a autoridade enfatiza que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e (o Copom) não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, avaliou o comunicado como sóbrio e duro, além de ter reforçado a independência do Banco Central.
Na análise de Alves, o comitê foi na contramão das expectativas de agentes de mercado mais otimistas, que esperavam um tom mais leve e até mesmo uma eventual antecipação de corte de juros para o curto prazo.
“Apesar das reiteradas críticas (do governo) ao Banco Central e ao Roberto Campos Neto, o BC manteve a postura de que fará o necessário ‘independentemente’ para conduzir a inflação para a meta, e ele avalia que a melhor forma para a desancoragem das expectativas de inflação de longo prazo é através da manutenção da taxa de juros em 13,75% por mais tempo”
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos
Caio Megale, economista-chefe da XP, afirmou que muitos participantes do mercado, incluindo a própria casa, acreditavam que o comitê removeria a sinalização de que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, para manter a sinalização futura dos juros mais simétrica.
“Assim, consideramos esta uma comunicação serena, o que parece apropriado considerando as perspectivas de inflação ainda desafiadoras.”
Para Megale, a decisão e o comunicado são consistentes com o cenário de que a Selic permanecerá em 13,75% até o final do ano.
Inflação
O economista André Perfeito reiterou que para o BC a única questão na mesa é a inflação. Para o especialista, estão praticamente descartados cortes nos juros nas reuniões de maio e junho diante do cenário atual.
“O recado é simples, se a inflação não cair, o BC não irá cortar os juros. Não sabemos o quanto seria necessário cair para dar o sinal verde para algum corte”
André Perfeito, economista
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, também considerou que a manutenção da Selic mostra que o Banco Central segue empenhado no controle da inflação.
“E a queda na inflação observada com a desoneração do preço dos combustíveis, da energia elétrica e das telecomunicações perde seu efeito no momento em que o mercado de trabalho se mantém aquecido, e a reoneração dos impostos federais dos combustíveis sinalizam futuras pressões no IPCA, mantendo-o em níveis elevados em 2023″, destacou.
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