Economia
Copom reduz Selic para 13,25% ao ano, com expectativa de novos cortes em breve
Ajuste de 0,50 ponto percentual veio após desaceleração da inflação em junho.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (2) que reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, levando a taxa básica de juros ao patamar de 13,25% ao ano. O corte, que é o primeiro desde julho de 2020, era esperado pela maior parte do mercado financeiro.
A decisão não foi unânime, com 5 diretores votando a favor da redução de 0,50 ponto percentual, contra 4 que se colocaram a favor de um corte menor, de 0,25 ponto percentual. O Copom destacou no comunicado que avaliou na possibilidade do corte mais suave, mas que, no fim das contas, “considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual em função da melhora“ da inflação.
Se houver a confirmação do cenário esperado, os membros do Copom, unanimemente, “anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
No comunicado, o Comitê informou que seus integrantes avaliaram que, por conta da melhora do quadro inflacionário, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional (CMN) em manter a meta do indicador, foi possível “acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”.
O órgão reforçou “o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.”
comunicado do copom.
Repercussão
Para o economista André Perfeito, o comunicado do Copom sugere que o “tiro vai ser curto”, ou seja, que o afrouxamento final da Selic deve ser maior que o mercado espera. “Fatalmente, o ciclo se encerra já no começo do ano que vem, quando a Selic deve estar em 10,75%, taxa que ainda deve ser considerada contracionista”, pontua.
Já Cristiane Quartaroli, economista Banco Ourinvest, acredita que o comunicado trouxe um tom ainda duro, considerando o destaque ao cenário externo e a inflação do segundo semestre deste ano, que tende a ficar pressionada.
“O ambiente externo mostra-se incerto, com alguma desinflação sendo observada na margem, mas em um ambiente marcado por núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países”.
comunicado do copom.
No entanto, Quartaroli acrescenta que a sinalização de que a Selic irá baixar mais do que o mercado esperava anteriormente pode ser positiva, pois tende a contribuir para um melhor desempenho da economia no médio prazo – o que melhora a imagem do país e pode ajudar no comportamento do câmbio.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, pontua que uma das maiores surpresas do comunicado foi a votação. Para ele, apenas Ailton de Aquino Santos e Gabriel Muricca Galípolo, membros do comitê indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), iriam votar num corte de 0,50 ponto percentual.
“A gente viu que outros membros decidiram abraçar a ideia de um corte de juros maior mesmo nesse início de ciclo com uma inflação ainda resiliente. Mas a maior surpresa de fato fica por conta do desempate, o Roberto Campos Neto desempatando essa decisão que foi bastante apertada.”
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, menciona que a decisão do comitê foi positiva e o mercado deve continuar reagindo bem, pois a bolsa de valores já vem se sustentando acima de 120 mil pontos há mais de um mês.
“Embora o mercado já precificasse um pouco disso, o efeito deve contribuir na margem positivamente ainda para as ações. Outro destaque é que oficialmente nós temos o início do ciclo de corte de juros no Brasil”, comenta.
Inflação no Brasil
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acumula alta de 3,16% nos últimos 12 meses até junho, contra 3,94% registrados no mês anterior, de acordo com divulgação mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O indicador já está abaixo da meta estabelecida pelo BC, que é de 3,25% no acumulado de 2023. Agora, o IPCA só precisa se manter nesse nível até o fim do ano.
Por outro lado, o núcleo da inflação, que desconsidera distúrbios resultantes de choques temporários, ficou no patamar de 6,62% em junho, segundo dado do Trading Economics.
Para 2024, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, na faixa de 1,50% a 4,50%.
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