Economia
Corte de impostos não é suficiente para sustentar demanda por carros
Avaliação é de especialistas que apontam necessidade de corte de juros para impulsionar o setor com mais força.
O corte de impostos anunciado pelo governo para baratear os carros zero pode ter algum efeito imediato, mas, sozinho, não é suficiente para aumentar a demanda com força a ponto de ajudar o setor de forma mais significativa.
Essa é a avaliação feita por especialistas na tarde desta quinta-feira (25), após o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, anunciar a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e PIS/Cofins para baixar os preços dos carros em até 10,96%. O corte será feito via Medida Provisória (MP) nos próximos dias.
Para o economista André Perfeito, a impressão que fica “é que o governo resolveu fazer na ‘marra’ algo que poderia e deveria ser feito pela queda de juros”. “Hoje as taxas estão altas em relação à renda disponível de tal sorte que não há demanda possível para o setor”, afirma ele.
De forma parecida, Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, afirma que o corte de impostos pode melhorar marginalmente as vendas, “porque vai abrir espaço no financiamento, vai ficar mais barato em termos de montante total. Então, mais gente consegue pegar financiamento”. Mas ele ressalta que “o efeito dos juros, a partir do momento em que começarem a ceder, é que vai beneficiar” o setor de forma mais significativa.
“Redução do preço do carro, aumento de capacidade de financiamento e taxas e juros menores, aí sim é capaz de surgir uma demanda forte e impulsionar os pátios que estão abarrotados e, claro, fazer com que a cadeia gire novamente.”
Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital
Em um cenário de juros altos no país, com a Selic mantida em 13,75% ao ano, o financiamento de carros caiu. Segundo dados da B3, até abril de 2023 foram financiados 580 mil carros novos, uma alta em relação aos 490 mil do mesmo período em 2022, mas sem recuperar o patamar pré-pandemia (em 2019, foram 691 mil no mesmo período).
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Como criar demanda?
Considerando o percentual anunciado pelo governo e os preços atuais anunciados pelas próprias marcas, o carro zero mais barato no Brasil passaria a custar em torno de R$ 61 mil (uma redução em relação aos quase R$ 69 mil dos dias de hoje).
Mas a redução pode ser ainda maior, segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Após o anúncio de Alckmin, Márcio Lima Leite disse a jornalistas que é possível que os preços dos veículos novos caiam para menos de R$ 60 mil com as medidas anunciadas pelo governo.
Em vista desse número, Perfeito diz que o setor “pode encontrar uma demanda que estava sendo negligenciada nos últimos anos”. No entanto, isso não é considerado suficiente para que a elevação da demanda seja consolidada. Para isso, o economista afirma que é preciso que haja melhora do crescimento da economia e, consequentemente, alívio da inflação e crescimento de renda das pessoas.
“A questão na mesa é simples: corte de tributos, medidas regulatórias e mesmo queda de juros não fazem milagre algum se não houver demanda. A expectativa é que alguma demanda surja, afinal as projeções de crescimento estão melhorando e a renda real melhorou com a queda da inflação em 12 meses para citar alguns fatores.”
André Perfeito, economista
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