Economia

Do filtro solar à mesa: ‘inflação do calor’ já impacta bolso do brasileiro

Fenômeno de altas temperaturas ocorre pela terceira vez no ano e já pressiona preços no curto prazo.

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Não é apenas o corpo humano que vem sofrendo com a mais recente onda de calor no Brasil – a terceira só em 2023. As altas temperaturas que voltaram a castigar vários estados do país e o Distrito Federal (DF), desde a semana passada, causaram estragos também no bolso do consumidor.

Praia de Ipanema lotada durante onda de calor no Rio de Janeiro 12/11/2023 REUTERS/Ricardo Moraes

A boa notícia é que o clima deve dar um refresco até sexta-feira (17). A má é que o alívio nos preços deve demorar. O impacto negativo da onda de calor na produção de alimentos dificulta a colheita e até a reprodução de animais – o que afeta uma ampla oferta de produtos que saem das lavouras e dos campos em direção à mesa dos brasileiros.

“Já é possível ver o reflexo desse problema na leitura dos índices de preços ao consumidor. A dúvida é se o El Niño vai impactar na mesma magnitude da onda de calor”.

Matheus Peçanha, economista da FGV/Ibre. 

Enquanto o impacto do chamado El Niño nos termômetros já vem sendo percebido desde junho, o efeito na inflação está só começando. Para piorar, o pico deste fenômeno climático, geralmente associado ao aumento das temperaturas globais, começou em outubro e só deve perder força em junho de 2024, englobando o verão e o outono brasileiros. 

“Inflação do calor”

Atualmente, o preço dos alimentos já está cerca de 10% acima da média dos últimos cinco anos, segundo estimativas oficiais de organizações internacionais. Portanto, a “inflação do calor” já está sendo sentida no mundo todo.

Porém, nos chamados IPCs (Índice de Preços ao Consumidor) apenas no mês passado é que começou-se a registrar o fim da deflação dos alimentos por aqui. No caso do indicador calculado pela FGV, o grupo “alimentação” saiu de uma queda de 0,64% ao final de setembro para uma ligeira alta de 0,05% em outubro. 

Plantação de soja em Barreiras, Bahia. REUTERS/Roberto Samora

Já no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, esta classe de despesas passou de variação negativa de 0,71% para positiva em 0,31% no mesmo período, após quatro quedas consecutivas. “Foi a primeira alta após meses de deflação do grupo alimentação, que vinha segurando o índice cheio ao longo do ano”, destaca o economista André Perfeito.

Bolso é a parte mais sensível

Com isso, enquanto especialistas do mercado financeiro refazem as contas para a previsão da inflação oficial ao consumidor ao final de 2023, os consumidores estão mais atentos aos itens que podem pesar no orçamento. Até porque o maior consumo de luz e de água devem encarecer as contas mensais.  

Na medição mais recente da FGV, referente à primeira prévia de novembro, destaque para o comportamento do item hortaliças e legumes, cujo preço variou 4,79% ante 0,88% na edição anterior do IPC-S. O economista da instituição chama a atenção para a alta da batata-inglesa, cebola, tomate e ovos, além de “frutas suculentas”, como laranja e limão.

“O impacto está bem concentrado no grupo alimentos, principalmente em domicílio, mas a demanda também aumenta para itens fora, como sucos, açaí e sorvete”.

Peçanha, da FGV/Ibre. 

Além disso, o economista também atenta para o aumento da procura por artigos de higiene e cuidado pessoal, o que também pressiona a variação do grupo relacionado a itens de saúde. Segundo ele, o principal destaque fica com o filtro solar.  

Ou seja, para evitar riscos à saúde em meio aos cuidados físicos necessários, o alívio para se proteger da onda de calor pode incomodar a parte mais sensível do ser humano, como dizia Delfim Netto: o bolso.

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