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Emprego nos EUA surpreende, mas alta do desemprego mostra mercado ainda frágil

Payroll atrasado pelo shutdown mostra criação de 119 mil vagas, mas taxa de desemprego atinge o maior nível em quase quatro anos

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O mercado de trabalho dos EUA criou mais vagas que o esperado em setembro, mas a taxa de desemprego seguiu avançando, em um sinal de que, apesar da resiliência, a economia americana já mostra fissuras.

Para os mercados globais, inclusive o do Brasil, esses dados são cruciais porque influenciam diretamente o rumo dos juros do Federal Reserve (Fed), o humor dos investidores e o apetite por risco no mundo inteiro.

O relatório mais recente do Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS, em inglês), conhecido como “payroll”, publicado nesta quinta-feira (19) com atraso devido ao longo shutdown do governo, mostrou que o emprego fora do setor agrícola aumentou em 119 mil vagas no mês, após queda em agosto. 

Já a taxa de desemprego subiu ao maior nível em quase quatro anos — reflexo de dois movimentos simultâneos: mais americanos voltaram a procurar trabalho, ao mesmo tempo em que mais pessoas efetivamente perderam seus empregos.

Apesar do salto nas contratações, o dado defasado não muda muito para o Federal Reserve. Muitos dirigentes já vinham se afastando da ideia de cortar juros novamente no mês que vem. Ainda assim, o relatório ajuda a ilustrar as forças contraditórias que marcaram a economia na reta final do ano.

A criação de vagas foi concentrada em poucos setores, com destaque para saúde e lazer e hospitalidade. Indústrias como manufatura, transporte, armazenagem e serviços empresariais cortaram postos. Para muitas empresas, o ambiente de “contrata pouco e demite pouco” deu lugar a uma onda mais explícita de anúncios de demissões – elevando o receio dos americanos sobre a segurança no emprego.

“À primeira vista, o número de setembro parece tranquilizador, mas um olhar mais atento mostra que o mercado de trabalho continuou frágil e estreito na entrada para o mais longo shutdown da história”, disse Lydia Boussour, economista-sênior da EY-Parthenon.

Desemprego

Outros dados divulgados nesta quinta-feira mostram que os pedidos semanais de seguro-desemprego caíram ao menor nível em três semanas. Mas os pedidos contínuos – uma proxy para quem já está recebendo o benefício – subiram ao maior patamar desde o fim de 2021.

“Isso deve significar folhas de pagamento bem mais fracas em outubro”, disse Veronica Clark, economista do Citigroup.

O relatório de setembro, originalmente programado para 3 de outubro, foi o primeiro grande dado perdido durante o shutdown. O BLS já havia concluído a coleta em 1º de outubro, então o documento acabou sendo um dos primeiros a ser publicado após a reabertura do governo.

Já o relatório de outubro, previsto para 7 de novembro, não será divulgado. Os números serão incorporados ao relatório de novembro — que sai em 16 de dezembro, depois da próxima reunião do Fed. Alguns indicadores importantes, como a taxa de desemprego, não aparecerão porque a pesquisa domiciliar usada para calculá-los não pôde ser coletada durante o período de paralisação do governo.

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“Mesmo defasado, o relatório de setembro não reforça a tese de corte de juros no encontro do Fed em 9 a 10 de dezembro. O aumento da taxa de desemprego chama atenção, mas se deve mais à maior participação na força de trabalho do que à fraqueza na criação de vagas”, escreveram Anna Wong, Chris G. Collins e Eliza Winger, da Bloomberg Economics.

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