Economia
Frete rodoviário sobe 3,79% por km rodado em 1 ano, enquanto diesel aumenta 53%
Valor por eixo no Brasil era de R$ 1,02 em maio, segundo Fretebras. Fretes de agronegócio eram os mais caros.
Com as sucessivas altas do óleo diesel, o preço do frete rodoviário também subiu, elevando os custos das cargas transportadas no país e contribuindo para o aumento da inflação. Em um ano, o custo do transporte por eixo do quilômetro rodado atingiu alta de 3,79%, enquanto o preço do litro do diesel comum subiu 53,11% no mesmo período. Segundo pessoas do setor ouvidas pelo InvestNews, caminhoneiros acabam arcando com o custo, já que o preço do frete não acompanha o aumento do diesel.
Os dados são da Fretebras, plataforma de transporte de cargas, e foram colhidos entre maio de 2021 e maio de 2022.
Apesar da aumento dos custos do frete rodoviário, os preços não acompanham o aumento do combustível utilizado pelos veículos de transporte de carga, e nem da inflação do período medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 11,73%.
De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), em maio de 2021, o preço médio do litro do diesel no país era de R$ 4,47. Um ano depois, o valor do litro subiu para R$ 6,87. E, em julho deste ano já atingiu os R$ 7,50. O diesel responde por quase 60% do custo dos caminhoneiros.
“O diesel representa cerca de 40% dos custos do transporte no geral, segundo a NTC [Associação Nacional de Transporte de Carga]. E quando falamos somente de preço do frete, o diesel pode representar cerca de 60% a 70% do custo, ou seja, é o principal insumo do transporte rodoviário, e por isso, suas recentes altas causam preocupação”, afirmou Bruno Hacad, diretor de operações da Fretebras.
De acordo com Hacad, o caminhoneiro não consegue repassar a alta do custo do diesel para o frete, mas ele ressaltou que a determinação do preço segue a lei da oferta e demanda.
“Pelo que temos visto, o caminhoneiro acaba tendo que arcar com diversos custos para fazer o frete, pois as transportadoras ainda não conseguiram equiparar os preços dos fretes com os sucessivos aumentos do preço do diesel. Se os caminhoneiros não aceitarem mais viajar a um preço que não compensa, naturalmente o valor do frete vai aumentar. Está nas mãos dos próprios caminhoneiros a força para influenciar o preço no curto prazo, mas para isso é essencial eles saberem calcular bem os custos do trajeto.”
Para controlar os custos, a Fretebras sugere às transportadoras a contratação de caminhoneiros autônomos, que costumam ser de 20 a 30% mais barato do que aumentar a frota própria.
Queda na renda
Vindo do Mato Grosso, o caminhoneiro Silvano de Azevedo, de 32 anos, esperava há 3 dias em um posto de combustível na Rodovia Fernão Dias para descarregar a carne para um frigorífico em São Paulo. Como o veículo tem uma câmara fria para preservar os alimentos, mesmo parado, o caminhão liga automaticamente a cada 10 minutos para refrigerar a carne, e com isso consome ainda mais combustível.
“Precisava aumentar o preço do frete, mas o povo não quer pagar, parado não dá pra ficar, é pior. Está ruim, mas nós vamos rebolando”, disse.
Ele estima que sua renda diminuiu cerca de 30% nos últimos 12 meses devido às altas do diesel. Com mulher e dois filhos para sustentar, ele decidiu deixar a família em casa para economizar.
“Agora as crianças estão de férias na escola. Se estivessem aqui comigo, todo o lucro ia embora só com alimentação. Não deu pra trazer dessa vez”, lamenta.
O caminhoneiro autônomo Marcos Luiz, de 53 anos, que atua 35 anos na profissão, disse que não se lembra de ter sido tão impactado pelo aumento do preço do diesel como no último ano. E apesar do valor do frete não acompanhar a inflação do combustível, ele aceita os valores oferecidos por necessidade. Apenas com troca de óleo de filtros do caminhão ia gastar R$ 3 mil em um posto de Guarulhos, na Grande São Paulo.
“O que mata a gente é o diesel. A gente também tem gastos com pedágio, manutenção do caminhão. Tem que pagar as contas, então tem que trabalhar, não tem alternativa.”
Para Marcelo Reis de França, de 45 anos, dono de uma transportadora em Santo André, na região do ABC, o aumentou do diesel também pesou no bolso.
“Nem sempre a gente consegue repassar no preço do frete, então a gente acaba diminuindo nossa margem. Está cada dia mais difícil trabalhar”, disse ele.
Na semana passada, o Congresso aprovou uma PEC que oferece um voucher de R$ 1 mil até dezembro para os caminhoneiros autônomos para ajudar com os custos provocados pelas altas do diesel. O pagamento do valor deve começar no mês de agosto.
Valor do frete no país
O valor médio do frete por quilômetro rodado, por eixo, no Brasil era de R$ 1,02 em maio deste ano, último dado divulgado pela Fretebras. As regiões Sudeste e Sul apresentaram o quilômetro por eixo mais caro no período, ficando em R$ 1,04 e R$ 1,03, respectivamente.
Os valores mais baixos foram registrados no Norte e Nordeste, onde o frete custava R$ 0,99.
Na comparação entre maio do ano passado e maio deste ano, a maior alta no preço do frete foi registrada no Sudeste, que aumentou 7,20%. A região Sul apareceu logo em seguida, com alta de 4,10%.
De abril a maio de 2022, a região Norte registrou o maior aumento (7,76%), seguida do Centro-Oeste (2,06%). Nas demais regiões, o preço ficou praticamente estável.
Fretes mais caros
Os fretes do agronegócio foram os mais altos registrados em maio de 2022, sendo fixados em R$ 1,03 por km rodado por eixo. Logo em seguida aparecem os fretes de produtos industrializados, que chegaram ao valor médio de R$ 1,02.
Na sequência, estão os fretes de insumos para construção, que ficaram em R$ 1,01 por km rodado por eixo. Na variação anual, os fretes para produtos industrializados registraram aumento de 4,17%. No agronegócio, o valor dos fretes aumentou 3,92%. Já os fretes de insumos para construção subiram 1,31% em comparação com maio de 2021.
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