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Governo brasileiro não desistiu de novas medidas fiscais para acalmar o mercado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à esquerda, e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Fonte: Bloomberg

O governo avalia novos cortes de gastos depois que o muito aguardado pacote de redução das despesas falhou em conseguir acalmar as preocupações dos investidores em relação ao compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a responsabilidade fiscal.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu na terça-feira (7) que o governo irá continuar a trabalhar em formas adicionais de controle dos gastos, dizendo em entrevista à GloboNews que sua equipe “não descansará enquanto situação fiscal não se resolver”.

A equipe econômica já trabalha em um segundo plano de redução de despesas, segundo três autoridades familiarizadas com o assunto. A equipe está ciente de que as medidas precisam ser ambiciosas o suficiente para apaziguar os receios dos investidores sobre a alta da dívida pública e dos déficits fiscais que atingiram quase 10% do PIB, disseram as autoridades, que pediram anonimato ao discutir assuntos internos.

A equipe considera que o ideal seria tentar resolver o assunto no primeiro semestre de 2025, disseram as autoridades, em um esforço para aliviar as pressões que levaram à alta do dólar e a uma nova rodada de aumentos nas taxas de juros a níveis que o Ministério da Fazenda considera insustentáveis.

Os membros da equipe econômica admitem que o seu principal desafio ainda é convencer Lula e o Partido dos Trabalhadores de que são necessárias mais medidas, disseram as pessoas. Mas acrescentaram que o presidente está ciente do fato de que o governo precisa agir para reforçar a confiança dos investidores depois que o real caiu 21% ante o dólar, tendo o pior desempenho entre as principais moedas no ano passado.

Haddad disse que discutiu com Lula a importância da “diligência fiscal” em suas reuniões recentes.

“Acho que a recente desvalorização cambial finalmente chamou a atenção do governo, e agora eles precisam adotar medidas que estabilizem a situação fiscal”, disse Paresh Upadhyaya, diretor de estratégia de renda fixa e câmbio da Amundi US.

O pacote de corte de gastos do ano passado foi elaborado para garantir que o Brasil será capaz de entregar os resultados exigidos pelo chamado arcabouço fiscal. Mas, junto com os déficits fiscais, os investidores estão agora concentrados na trajetória da dívida bruta do Brasil, que atingiu 77,7% do PIB em novembro e deverá atingir 81,8% em 2027, segundo estimativas da Fazenda.

Existe agora um amplo consenso dentro da equipe de Haddad de que o pacote, que visava cortar R$ 70 bilhões antes de ser diluído no Congresso, foi insuficiente para produzir a estabilização da trajetória da dívida pública que o mercado financeiro buscava.

Atender às demandas do mercado, no entanto, provavelmente será difícil, mesmo que Lula esteja convencido da necessidade de tentar.

Segundo as autoridades, os investidores querem que o Brasil entregue um superávit primário de 2,5% a 3% do PIB para estabilizar a dívida. O Ministério da Fazenda prevê atualmente que a maior economia da América Latina terminará 2024 com um déficit primário de 0,4% do PIB, e a dimensão do superávit que os investidores procuram não é viável no curto prazo, disseram as autoridades.

O governo, contudo, poderia propor medidas que não necessariamente entrariam em vigor imediatamente, mas que promoveriam mudanças mais estruturais no longo prazo, disseram as autoridades. Isso poderia potencialmente conquistar Lula, empurrando pelo menos alguns dos cortes para além de 2026, quando ele planeja buscar a reeleição.

A dívida do Brasil está a caminho de se estabilizar e começar a cair em breve, disse Haddad na entrevista à Globo News, acrescentando que espera que os resultados fiscais deste ano surpreendam os mercados.

“O governo precisa fazer uma reviravolta e passar por um ajuste fiscal que mostre aos investidores que eles levam a questão fiscal a sério”, disse Ashish Chugh, gestor de recursos e chefe de ações globais de mercados emergentes na Loomis, Sayles & Co. “Caso contrário, os investidores provavelmente esperarão até as próximas eleições antes de terem uma opinião positiva sobre o Brasil.”

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