Economia
Inflação dos EUA sobe 0,4%; Fed terá ‘desafio’ para decidir rumo dos juros
Após falência de instituições, banco central norte-americano terá que decidir como controlar a inflação e manter o setor financeiro saudável.
O Consumer Price Index (CPI), principal indicador de inflação dos Estados Unidos da América (EUA), desacelerou para uma alta de 0,4% em fevereiro. O resultado veio em linha com a expectativa do mercado.
Com isso, agentes do mercado esperam que o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, desacelere o aumento da taxa de juros do país, da expectativa de 50 a 25 pontos base, à vista da preocupação com o desempenho do setor financeiro após a falência do banco Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank.
Ainda assim, segue no radar do mercado o desafio do Fed para manter a inflação sob controle e, ao mesmo tempo, lidar com a preocupação com o desempenho do setor financeiro. Isso porque, apesar da desaceleração em fevereiro, a taxa de 6% em 12 meses segue distante da meta de 2% do Fed.
Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, comenta que a taxa de juros dos EUA, que está na faixa de 4,5% e 4,75%, é o principal fator da crise no setor financeiro. “Um dos grandes motivos que os bancos quebraram foi exatamente a alta do juros versus a contração de empréstimos que eles tiveram nos últimos tempos”, diz.
Paulo Silva, economista da Efí, comenta que será um desafio para o Fed tentar equilibrar dois cenários tão distintos (inflação e saúde do sistema financeiro).
“Como ele [Fed] vai fazer isso que é o desafio, visto que são duas coisas antagônicas. Ou seja, para controlar a inflação, ele precisa aumentar a taxa de juros, o que desaquece a atividade. Mas, para manter o sistema financeiro e o dinheiro circulando, ele precisará reduzir a taxa de juros.”
Paulo Silva, economista da Efí.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, alerta para um ‘efeito dominó’ nas empresas do setor financeiro caso a taxa de juros se mantenha muito elevada. “A principal preocupação sobre o fato… é o ‘efeito dominó’. Não apenas restrito ao mercado americano, e sim às principais economias: Europa, Ásia e América Latina. O fato ocorrido nos remete à crise imobiliária de 2008, em que tivemos justamente o efeito cascata após a quebra de uns dos principais bancos americanos naquele ano”, pontua.
Risco sistêmico
André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP, observa que situações como essa podem causar uma corrida bancária (quando um grande número de clientes solicita, ao mesmo tempo, resgates de suas contas) e gerar problemas de liquidez ao setor.
“Os bancos funcionam emprestando dinheiro de terceiros. Por isso, se toda população precisar retirar sua poupança ao mesmo tempo, o caixa disponível não será suficiente para cumprir os resgates. Isso, acontecendo de maneira macro, significaria uma quebra sistêmica, o que traz implicações negativas para toda economia“, menciona.
Para evitar que uma situação como essa aconteça, o Fed se adiantou e criou uma série de medidas de emergência após o colapso. Joe Biden, presidente dos EUA, também prometeu regulamentação bancária mais rígida.
“Vou pedir ao Congresso e aos reguladores bancários que fortaleçam as regras para os bancos, para tornar menos provável que esse tipo de falência aconteça novamente e para proteger os empregos americanos como uma pequena empresa”, disse o presidente.
Além disso, o Federal Deposit Insurance Corporation (Fdic) dos EUA, disse na véspera que transferiu todos os depósitos do SVB para um banco recém-criado e que todos os depositantes terão acesso ao dinheiro nos próximos dias.
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