Economia
Inflação bateu pico e tendência segue de desaceleração, mas há riscos no radar
A avaliação foi feita por especialistas após a divulgação do IPCA de abril.
Apesar da surpresa negativa com os dados de abril, o pico da inflação no Brasil já foi batido e a tendência é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) siga desacelerando nos próximos meses. Essa é a avaliação feita por especialistas nesta quarta-feira (11) após a divulgação dos dados do mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Porém, riscos como a guerra na Ucrânia e lockdowns na China seguem sob as atenções.
O IPCA subiu 1,06% em abril, uma desaceleração após a alta de 1,62% no mês anterior. Mas, nos últimos 12 meses, a elevação acumulada é de 12,13%, acima dos 11,3% observados antes.
Pesquisa da Reuters apontou que o IPCA veio pouco acima das projeções em abril: a expectativa de analistas era de alta de 1% em abril, acumulando em 12 meses alta de 12,07%.
Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, acredita que a tendência para os próximos meses é que o IPCA passe a mostrar desaceleração também no acumulado em 12 meses. “É esperado que a gente veja uma tendência de desaceleração um pouco mais relevante do acumulado em 12 meses do IPCA na virada para o segundo semestre”, aponta ela.
De maneira semelhante, os economistas David Beker e Natacha Perez, do Bank Of America (BofA), escreveram em relatório: “ainda acreditamos que a inflação já atingiu o pico e esperamos mais desaceleração à frente.” Também em relatório, Marco A. Caruso e Eduardo Vilarim, do Banco Original, afirmam que consideram abril como o pico inflacionário deste ano.
João Beck, economista da BRA, acredita que há “sinais de que poderemos ver uma inflação mais comportada nos próximos trimestres”. “O aumento de preços ainda continua bem difuso, mas novamente a pressão veio dos alimentos e da gasolina, principais itens influenciados pela guerra na Ucrânia. Nossa taxa Selic se encontra em nível bastante contracionista, e muitos dos impactos das altas recentes ainda não foram sentidas”, diz ele, cirando ainda “outros indicadores de atividade e de oscilação” que apontam para uma possível trégua da inflação.
Para Rafael Marques, CEO da Philos Invest, o resultado do IPCA mostra a desaceleração em grande parte dos itens de vetores mais voláteis da inflação, que foram a alimentação no domicílio e os combustíveis. Também há uma deflação no subgrupo de energia elétrica por causa da mudança da bandeira tarifária de escassez hídrica para verde em 16 de abril.
O pior já passou mesmo?
No entanto, os especialistas apontam os riscos que podem derrubar as previsões de algum alívio na inflação para os próximos meses.
“Existem, sim, incertezas relevantes, principalmente na questão da China. E isso pode colocar mais lenha na fogueira no debate sobre a inflação global”, diz Abdelmalack, da Veedha.
“É lógico que traz uma preocupação acerca do movimento de desaceleração porque, olhando para o cenário futuro, a gente tem algumas incertezas principalmente em relação ao preço dos bens industrializados, que vêm mostrando uma resiliência da inflação devido à questão ainda do abastecimento da cadeia de suprimentos global. Agora essa situação que não foi equalizada fica ainda mais acentuada por conta dos lockdowns na China”, explica.
Os especialistas do Original também listam riscos que podem pressionar a inflação. “Nosso balanço de risco considera o reajuste de 8,87% do diesel anunciado pela Petrobras para maio (com risco de aumento da gasolina, que também apresenta defasagens em relação à PPI), a tendência do câmbio (projetamos um dólar de R 5,50 em 2022) e a as pressões adicionais das commodities”, afirmam.
Marques, da Philos Invest, também cita o risco cambial e a questão dos combustíveis. Ainda entre os pesos negativos, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acrescenta a guerra na Ucrânia. “Eu destacaria a questão dos alimentos sendo o principal peso do mês, e principalmente alimentos que têm relação com a questão da Ucrânia. Eu destacaria óleo de soja, pão francês”, diz ele.
“Pelo conflito, a oferta mundial está bem mais escassa. O preço subiu bastante nos últimos meses, e isso puxou aqui no Brasil, dado que importamos bastante trigo. E os produtores locais estão exportando no lugar de deixar internamente essa produção. Como a tendência não é de uma solução pacífica em breve, infelizmente isso deve continuar sendo pressão em 2022”, afirma Cruz.