Economia
IPCA cai 0,29% em setembro e registra terceiro mês seguido de deflação
No ano, a inflação acumulada é de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,29% em setembro, após baixa de 0,36% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11).
No ano, a inflação acumulada é de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%.
Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de queda de 0,34% em setembro, acumulando em 12 meses alta de 7,10%.
Principais impactos
O grupo dos transportes exerceu o maior impacto negativo, de 1,98%, sobre o índice geral, contribuindo com recuo de 0,41 ponto percentual. Este é o terceiro mês consecutivo de queda nos transportes.
“Os combustíveis e, principalmente, a gasolina têm um peso muito grande dentro do IPCA. Em julho, o efeito foi maior por conta da fixação da alíquota máxima de ICMS, mas, além disso, temos observado reduções no preço médio do combustível vendido para as distribuidoras, o que tem contribuído para a continuidade da queda dos preços”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Em setembro, com queda de 8,33%, a gasolina exerceu o impacto negativo mais intenso no índice, de 0,42 p.p. Os outros três combustíveis pesquisados também tiveram queda nos preços: etanol (-12,43%), óleo diesel (-4,57%) e gás veicular (-0,23%).
“O etanol, mesmo tendo um preço livre, acaba acompanhando a gasolina, pois é um produto substituto”, acrescenta Kislanov. No grupo, houve ainda o recuo nos preços das motocicletas (-0,08%), dos automóveis novos (-0,15%) e dos automóveis usados (-0,38%), que haviam subido em agosto.
Já o grupo alimentação e bebidas passou de alta de 0,24% em agosto para queda de 0,51% em setembro, puxado pela alimentação no domicílio.
“Os alimentos vinham apresentando crescimento desde o começo do ano, inclusive altas fortes em março (2,42%) e abril (2,06%). Essa queda de setembro é a primeira desde novembro de 2021 (-0,04%)”, afirma Kislanov.
O gerente do IPCA destaca que o produto que mais impactou neste resultado foi o leite longa vida (-13,71%), que contribuiu com -0,15 p.p. no resultado do mês.
“O leite vinha subindo muito nos últimos 12 meses, especialmente em 2022, por conta do período de entressafra, a partir de março e abril, mas também por causa da guerra da Ucrânia, que aumentou muito o preço dos insumos agrícolas. Agora, com o final do período de entressafra e a volta das chuvas, aumentou a oferta do produto no mercado, o que gerou uma queda nos preços.” Apesar da queda, o produto ainda tem alta de 36,93% no acumulado dos últimos 12 meses.
Outras altas
Outro grupo em alta foi o de vestuário (1,77%), assim como já havia acontecido em agosto (1,69%). Todos os itens tiveram alta em setembro, com destaque para as roupas femininas (2,03%), que contribuíram com 0,03 p.p. Kislanov observa que isso pode estar relacionado a uma demanda reprimida no pós-pandemia. “Enquanto vários produtos tiveram uma alta de preços significativa na pandemia, o vestuário não, então, também tem uma base de comparação mais baixa”.
A alta do grupo despesas pessoais, de 0,95%, foi puxada pelo aumento dos serviços bancários (1,56%). Além disso, serviços ligados ao turismo, como hospedagem (2,88%) e pacote turístico (2,30%) também subiram. “Essas altas também são explicadas por esse contexto de retomada dos serviços após a pandemia”, explica o gerente.
Outro destaque foi o grupo habitação, que acelerou de 0,10% na passagem de agosto para 0,60% em setembro, especialmente por conta da energia elétrica residencial, que subiu 0,78%, após a queda de 1,27% observada no mês anterior. Kislanov explica que o aumento é efeito do reajuste tarifário observado em Vitória e Belém.
Repercussão
Na avaliação de Leandro Vasconcellos, especialista em finanças e sócio da BRA, o IPCA de setembro evidencia o acerto na condução da política monetária pelo Banco Central e reforça a chegada da Taxa Selic ao teto, como apontando no último comunicado do Copom.
“Enquanto a maioria dos países do globo sofrem com inflação e baixo crescimento, o Brasil tem provado ao mundo que possui uma economia com dinâmica própria e que tem sido capaz de manter a inflação sob controle apesar da guerra e da pandemia e hoje cresce, gera empregos e assumiu uma posição de vantagem em relação às principais economias do G20”, diz Vasconcellos.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, aponta que pode ser que o IPCA registre mais um ou dois meses de deflação, dependendo do nível de desaceleração da economia mundial por causa da política monetária nos Estados Unidos e Europa.
“Essa política agressiva tende a diminuir a inflação global e isso certamente irá beneficiar a nossa inflação aqui. Eu não acredito em recorrência de mais meses de deflação. Vamos voltar a ter uma aceleração de preços por mais que seja num ritmo menor do que vimos nos últimos meses”, afirma Jorge.
(*Com informações da Agência IBGE.)
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