Economia
Juro do cheque especial cai para 110% ao ano; inadimplência fica menor
Dívidas em atraso com os bancos recuaram para 3,7% em junho, apesar da pandemia.
Os juros médios cobrados no cheque especial pelos bancos caíram de maio para junho: passaram de 116,1% ao ano para 110,2%, segundo dados divulgados pelo Banco Central. No crédito pessoal, a taxa média passou de 33,4% para 32,7% ao ano.
Desde julho de 2018, os bancos estão oferecendo um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. A expectativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) era de que essa migração do cheque especial para linhas mais baratas acelerasse a tendência de queda do juro cobrado ao consumidor.
Em função da ineficácia da autorregulação da Febraban, o BC anunciou a limitação dos juros do cheque especial em 8% ao ano (151,82% ao ano). A nova regra começou a valer em 6 de janeiro deste ano.
Além da limitação do juro, os dados desta quarta também refletem uma revisão realizada na série histórica do BC. De acordo com a autarquia, os números passaram a considerar o fato de alguns bancos cobrarem juro no cheque especial apenas após dez dias de atraso no pagamento da fatura.
Antes, era considerado todo o período de atraso. Esta mudança fez com que o nível do juro no cheque especial, na nova série histórica, fosse menor em anos anteriores.
Os dados divulgados pelo Banco Central mostraram ainda que, para aquisição de veículos, os juros foram de 19,5% ao ano em maio para 19,0% em junho.
Juros totais do crédito
A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas (com recursos da poupança e do BNDES), foi de 20,5% ao ano em maio para 19,3% ao ano em junho. Em junho de 2019, estava em 24,8%.
Em meio aos efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, a taxa média de juros no crédito livre caiu de 29,6% ao ano em maio para 27,9% ao ano em junho, informou nesta quarta-feira, 29, o Banco Central. Em junho de 2019, essa taxa estava em 37,6% ao ano.
Os dados são influenciados pela pandemia, que colocou em isolamento social boa parte da população e reduziu a atividade das empresas – em especial, nos meses de março e abril. Em meio à carência de recursos, famílias e empresas aumentaram a demanda por algumas linhas de crédito nos bancos.
Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre passou de 42,9% para 40,7% ao ano de maio para junho, enquanto para as pessoas jurídicas foi de 14,2% para 13,0% ao ano.
ICC
Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) caiu 0,5 ponto porcentual em maio ante junho, aos 18,7% ao ano. O porcentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês, considerando todo o estoque de operações, dividido pelo próprio estoque.
Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.
Spread dos bancos caiu
O spread (diferença entre os juros rebebidos no crédito e pagos para captar recursos) em operações de crédito apresentou redução. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o spread bancário médio no crédito livre passou de 24,7 pontos porcentuais em maio para 23,4 pontos porcentuais em junho.
O spread médio da pessoa física no crédito livre foi de 37,4 para 35,7 pontos porcentuais no período. Para pessoa jurídica, o spread médio passou de 10,0 para 9,2 pontos porcentuais.
O spread é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes finais (famílias e empresas) em operações de crédito.
Em meio à carência de recursos na pandemia, famílias e empresas aumentaram a demanda por várias linhas de crédito nos bancos. Ao mesmo tempo, o risco de inadimplência nas operações aumentou – o que, em tese, serve de impulso ao spread.
O spread médio do crédito direcionado foi de 4,7 para 4,4 pontos porcentuais na passagem de maio para junho. Já o spread médio no crédito total (livre e direcionado) foi de 16,5 para 15,6 pontos porcentuais no período.
Endividamento
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro ficou em 46,5% em maio, mesmo patamar de abril, informou o Banco Central. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 27,3% em maio, ante 27,4% em abril.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses. Além disso, incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.
Em função da metodologia utilizada, os números de endividamento sempre são divulgados com um mês de defasagem. Assim, os dados desta quarta têm como referência o mês de maio, quando várias cidades do Brasil iniciaram o processo de saída do isolamento social.
Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu 21,5% em maio, ante 21,6% em abril. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 18,9% em maio, ante 19,1% em abril.
Inadimplência recua
Mesmo com famílias e empresas em dificuldades para fechar as contas, em meio à pandemia do novo coronavírus, a taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 4,0% para 3,7% de maio para junho, informou o Banco Central.
Para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência foi de 5,5% para 5,2% no período. No caso das empresas, a taxa passou de 2,4% para 2,0%.
Os dados apresentados pelo BC são influenciados pelos efeitos da pandemia, que colocou em isolamento social boa parte da população e reduziu a atividade das empresas – em especial, nos meses de março e abril. Muitos bancos adiaram o pagamento de parcelas de empréstimos ou renegociaram financiamentos em aberto.
A inadimplência do crédito direcionado (recursos da poupança e do BNDES) passou de 2,1% para 1,8% na passagem de maio para junho. Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência foi de 3,2% para 2,9%.
*Estadão Conteúdo