Economia
Menos empregos nos EUA: vem aí um rally da bolsa?
Veja como os números fracos do Payroll já deram uma injeção de adrenalina no mercado. E o que pode vir adiante
Lembra o rally da bolsa no final do ano passado? O Ibovespa fechou 2023 com uma alta buffettiana de 22%. Mas tem um detalhe. Até o dia 30 de outubro, com o ano prestes a fechar as portas, o índice estava quase no zero a zero. Tinha subido parcos 2%.
O que aconteceu? O Payroll aconteceu. Na primeira semana de novembro, o relatório de emprego mais importante dos EUA, referente a outubro, veio com números animadores: a criação de novas vagas ficou em apenas 150 mil – 30 mil abaixo das previsões e menos da metade do número de setembro (336 mil).
A lógica, sempre vale lembrar, é a inversa no cenário atual de juros escorchantes: quanto menos vagas, melhor para o mercado financeiro – sinais de fraqueza na economia americana forçam o Fed a começar de uma vez a redução nos juros; e tudo o que importa agora é que a taxa lá fora saia dos 5,5%, a maior em 23 anos.
Bom, nesta sexta (3), veio o melhor Payroll possível (nessa leitura market friendly): criação de 175 mil vagas, contra 243 mil do consenso elaborado pela Lseg.
Aqui, vale mais um recap. Depois daquele payroll de outubro, foi só pancada. Todos vieram acima das previsões.
Pior: em janeiro e no de março a criação de novas vagas ficou além da linha vermelha de 300 mil – número diante do qual as previsões sobre o futuro das taxas dos Fed tendem a ficar assombrosas, como ficaram (o que jogou o dólar lá para cima e as ações lá para baixo nos últimos meses).
Essas 175 mil vagas de agora são o melhor resultado desde outubro. E nesse mundo invertido de “quanto pior para a economia real, melhor para a virtual (a do mercado financeiro)” veio outro dado ruim que é bom: aumento no desemprego, de 3,8% para 3,9%.
E a reação do mercado foi imediata. S&P 500 e seu às vezes fiel cão, o Ibovespa, abriram (e fecharam) com altas ao norte do 1%. Os treasuries de 10 anos, que refletem as expectativas quanto ao amanhã dos juros, saíram de 4,54%, o patamar logo antes do anúncio do Payroll, para terminar o dia a 4,49%.
Caem os títulos públicos americanos, cai o dólar: -0,85% ante o real na sexta, a R$ 5,07.
E com o clima mais amigável para os juros, os títulos IPCA+ deram uma folguinha. O 2035 caiu dos monstruosos 6,20% aa de quinta (2) para 6,16%.
E como será o amanhã? Para dizer isso, a Grécia antiga tinha o Oráculo de Delfos, nas encostas do monte Parnaso. Já o mercado financeiro tem o Fed Watch, ferramenta situada nas encostas da Bolsa Mercantil de Chicago (a CME).
A pesquisa diária da CME com investidores passou a apontar o seguinte: até ontem, 38,4% acreditavam que o Fed chegaria à reunião de novembro sem ter cortado um fio de cabelo dos juros. Essa proporção caiu para 28% logo após a divilgação do relatório de empregos – ainda que tenha fechado o dia um pouco acima disso, em 32%.
O próximo dado fundamental para traçar o futuro chega só no dia 15 de maio, o CPI (IPCA dos EUA). E ele vem acelerando:
Janeiro: 3,1%
Fevereiro: 3,2%
Março: 3,5%
Ou seja, até este momento, o CPI só tem dado combustível ao Fed para manter os juros na ionosfera. Agora é ver se, a exemplo do Payroll, o índice vai mostrar alguma desaceleração.
Para o JP Morgan, um CPI dócil o bastante pode ressuscitar a expectativa de um primeiro corte em julho – porque com essa nem o Payroll deu jeito: a maioria (perto de 60%) segue não acreditando nessa possibilidade.
Mercado escaldado, afinal, tem medo de água fria. Mesmo depois do banho quentinho na manhã de sexta.
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