A bolsa de Buenos Aires cai forte, com o índice Merval (o “Ibovespa” deles) cedendo 12% nesta tarde (15h), enquanto o peso cede 5%, a 1,4 mil por dólar. Motivo: a derrota do partido de Javier Milei na eleição provincial de Buenos Aires.
Milei prometeu não mudar seu programa econômico, mesmo com a derrota no domingo (7) para a oposição peronista de centro-esquerda em Buenos Aires. A oposição venceu com 47% dos votos. O partido de Milei, La Libertad Avanza, ficou com 34%.
O resultado decepcionou os investidores. Previa-se que uma derrota por mais de cinco pontos percentuais desencadearia uma onda de vendas nos ativos do país. Não deu outra.
A votação na província de Buenos Aires, a maior do país e por décadas um bastião peronista, é vista como um indicador para as eleições legislativas nacionais de meio de mandato, que acontecem no mês que vem. Milei pretende reforçar o atual status de seu partido no Congresso para conter a inflação e diminuir os gastos do governo.
Em um discurso conciso, Milei insistiu que não se desviaria da busca por um superávit orçamentário ou das prioridades de políticas cambiais e monetárias do governo. Mas prometeu embarcar em uma “autocrítica profunda”.
“Hoje sofremos uma derrota clara”, disse Milei, da sede de campanha de seu partido nos arredores da capital da província, La Plata. “Tivemos um revés eleitoral e temos que aceitá-lo.”
Para Matias Montes, chefe de estratégia da EMFI Securities, o “resultado foi pior do que o consenso esperava”, em referência às expectativas dos investidores de que o partido de Milei pudesse ter um desempenho melhor. Montes, no entanto, acredita que a diferença de votos diminua nas eleições de outubro.
Reação dos investidores argentinos
A derrota de domingo aumenta as chances de um “cenário negativo, em que o mercado questiona a continuidade das reformas e aumenta a incerteza quanto o financiamento externo”, informaram o economista Fernando Sedano, do Morgan Stanley, e o estrategista Simon Waever, em relatório a investidores.
A província de Buenos Aires representa quase 40% do eleitorado nacional. Embora as chances de vitória fossem mínimas para Milei, dado o perfil peronista da região, os investidores queriam avaliar o sentimento público antes das eleições de meio de mandato.
Desvalorização do peso
Plataformas de criptomoedas apontaram para uma depreciação do peso, mesmo antes de os resultados serem anunciados.
“Tudo vai depender da reação do governo. Dada a magnitude da derrota, somente uma reorganização ministerial conterá a derrocada nos preços dos títulos”, disse Ramiro Blazquez, estrategista na Stonex. “O partido de Milei têm a chance de recuperar o terreno em outubro. Mas vai precisar repensar a política econômica”, acrescentou Blazquez.
Nas últimas semanas, Milei tentava defender o peso, restringindo a liquidez do setor financeiro com taxas de juros altíssimas.
Como último recurso, as autoridades intervieram no câmbio, levantando preocupações sobre os ativos em dólar do governo.
Com o câmbio em turbulência e os riscos políticos crescentes, os títulos em dólar da Argentina já estavam atrás de todos os pares de mercados emergentes no último mês, apresentando perdas de 5,5%. Nesta segunda, os títulos de 15 anos do governo argentino desmoronam 7%.
Milei enfraquecido
Milei enfrentou grandes ventos contrários nas últimas semanas, e chegou ao ponto mais fraco desde que assumiu o poder no final de 2023.
O escândalo de corrupção no governo o atingiu em cheio o resultado da eleição.
No mês passado, a mídia argentina publicou áudios, nos quais o chefe da agência nacional para pessoas com deficiência, que já foi demitido, descrevia supostos subornos em compras de produtos farmacêuticos em benefício da irmã de Milei, Karina Milei. Karina é uma figura influente, e atua como principal conselheira de Milei. O governo negou qualquer irregularidade.