Economia
Conta de luz no Brasil é a 2ª mais cara em lista com 33 países, diz estudo
Cálculos da ABRACE levam em conta a comparação em dólar, considerando a renda per capita de cada país.
O consumidor brasileiro tem a segunda conta de luz mais cara em um levantamento com 33 países. Em um índice que mede o custo em dólar de cada 200 quilowatts consumidos por hora, considerando a renda per capita dos países, o Brasil fica em segundo lugar com 0,003 – atrás apenas da Colômbia, que, com 0,005, tem a conta de luz mais custosa do mundo.
Os cálculos são da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (ABRACE). Paulo Pedrosa, presidente da associação, explica que a posição do Brasil na lista não é reflexo apenas dos custos internos da energia para o consumidor, mas também da desvalorização do real.
Para ele, o dólar alto “distorce muito a informação do custo de energia”. Mas, além dessa variável, ele aponta que, para avaliar o custo da conta de luz no Brasil, é preciso observar “o custo de energia frente ao nosso potencial”.
“O Brasil é o país da energia limpa e barata. Os milhões que o governo fez comprando energia solar e eólica mostram que a gente pode ter uma energia muito competitiva. Mas mais da metade do que a gente paga nas contas são impostos, taxas, subsídios e ineficiência do setor”, afirma.
Nesse cenário, Pedrosa aponta que um dos principais vilões da conta de luz no Brasil é o conjunto de custos embutidos nela – que vão muito além dos operacionais.
“Há um custo político da energia. Tem muita política pública que deveria ser paga pelo Orçamento da União e está escondida na conta de energia. (…) A gente subsidia, por exemplo, irrigação para produção de soja para exportação dentro da conta de energia elétrica”.
Paulo Pedrosa, presidente da ABRACE
Recentemente, em uma tentativa do governo de baratear as contas de luz, o Congresso aprovou uma medida que passa a considerar combustíveis, telecomunicações, energia elétrica e transporte coletivo bens essenciais. Assim, a lei limita a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) a um teto máximo entre 17% e 18%.
Mas, além da questão tributária, especialistas apontam ainda a dependência climática da produção da maior parte da energia no Brasil. “O Megawatt-hora (MWH) no Brasil não é caro em termos relativos e o país tem a maior bacia hidrográfica do mundo. Apesar das hidrelétricas fornecerem energia a um custo baixo, o regime de chuvas, do qual as usinas dependem, tem se tornado mais incerto em tempos de mudança climática. E foi isso que aconteceu nos últimos anos”, analisa João Beck, economista e sócio da BRA.
“O país viveu sob o fantasma do apagão devido ao baixo nível de reservatório nas hidrelétricas. Para suprir a baixa oferta de energia hidrelétrica, o governo contratou emergencialmente no segundo semestre de 2021 o equivalente a R$ 39 bilhões em energia de usinas termelétricas a gás natural – um combustível caro e que ficou ainda mais caro, impactado pela guerra na Ucrânia. Para o consumidor, uma série de bandeiras tarifárias foram implementadas, aumentando ainda mais o custo da residência familiar”, lembra Beck.
Pedrosa, da ABRACE, credita ainda o custo da conta de luz no Brasil à pouca concorrência no mercado. “Tem pouca competição no setor de energia”, diz ele.
Nesse ponto, Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, acredita que as perspectivas são positivas. “Temos uma privatização que acabou de acontecer da Eletrobras (ELET3; ELET6). Então, essa competição entre os geradores de energia junto aos consumidores tende a baixar ao longo do tempo o custo de energia”, prevê ele.
Energia para a indústria: cenário melhor?
Enquanto o preço da conta de luz para o consumidor se destaca negativamente em relação ao outros países, para a indústria brasileira a energia é menos custosa. É o que mostram dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) compilados pela ABRACE.
Segundo o levantamento, o custo da energia elétrica para a indústria brasileira em dólar foi de US$ 94,29 para cada Megawatt-hora (MWh). Em reais, o preço no mesmo período foi de R$ 481,77. Com esses números, a indústria do Brasil tem o 10º menor preço de energia para a indústria numa lista com 29 países.
Diante desses números, Pedrosa aponta que “é importante tomar cuidado para não simplificar o raciocínio e dizer ‘ah, a conta de luz é muito cara para o consumidor residencial e menos cara para a indústria. Então, vamos diminuir para o consumidor e aumentar para a indústria’. Isso porque, para cada KWH que o consumidor gasta na conta de luz, ele gasta mais que o dobro da energia nos produtos que ele compra.”
Em outras palavras, ele aponta que um aumento do custo da energia para a indústria iria encarecer a produção, o que seria repassado ao consumidor nos preços dos produtos. “Quando o brasileiro compra uma telha, um espelho, uma bandeja de frango congelado, ele está pagando energia ali dentro.”
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