Economia
Previsões para taxa Selic chegam a 14% com inflação pressionada
Apostas em juros mais altos mostram o quão difícil será para o BC ajustar política monetária em tempos de guerra e rupturas na cadeia de suprimentos.
A inflação no Brasil está tão alta que um número expressivo de economistas espera que o Banco Central aumente as taxas de juros muito além do que os diretores da instituição consideravam necessário apenas alguns meses atrás.
Economistas do Credit Suisse e BNP Paribas estão entre aqueles que esperam que a taxa básica de juros, agora em 12,75%, encerre o atual ciclo de aperto monetário em 14,25% ou próximo disso, igualando seu último pico em 2016. A maioria dos economistas consultados pela “Bloomberg” ainda vê a taxa terminando o ano em 13,25%.
“A inflação corrente continuará surpreendendo os banqueiros centrais, assim como as expectativas de inflação”, disse Lucas Vilela, economista do Credit Suisse. O plano de voo, que seria entregar um aumento final neste mês, “terá que mudar”, disse ele.
As apostas em juros mais altos mostram o quão difícil será para a instituição liderada por Roberto Campos Neto ajustar a política monetária em tempos de guerra e rupturas na cadeia de suprimentos.
Juros mais altos
Os diretores do BC sinalizaram que gostariam de parar de subir o juro em 12,75%, mas tiveram que sinalizar outro aumento de 50 pontos-base como “provável” após indicadores de preços decepcionantes. Eles já aumentaram a taxa básica em 10,75 pontos percentuais desde o ano passado – entre os ciclos de aperto mais agressivos do mundo após a pandemia.
Apesar dos esforços do banco, os preços continuaram a subir mais do que o esperado e levaram as estimativas de inflação para ainda mais acima da meta, o que prejudica as chances de o presidente Jair Bolsonaro ser reeleito em outubro.
Quase um terço de seus apoiadores disseram que podem mudar de voto se a inflação continuar acelerada nos próximos meses, de acordo com a pesquisa Datafolha da semana passada, que mostrou a ampliação da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O aumento dos preços ao consumidor é uma dor de cabeça para quase todos os líderes mundiais hoje em dia, mas o impacto é desproporcional sobre os pobres no Brasil, onde compõem a maior parte da população.
Campos Neto, tentando um equilíbrio entre conter os aumentos de preços e proteger o crescimento, disse na terça-feira que fará “o possível” para cumprir a meta de inflação com “custo mínimo” para a economia. Operadores interpretaram suas observações como mais um sinal de que o BC tentará encerrar o aperto neste mês, reduzindo as taxas de juros futuras.
Mas a inflação ainda não deu ao BC uma razão para parar. Os preços ao consumidor subiram 12,2% ao ano até meados de maio, acima das expectativas dos economistas, com aumentos generalizados em quase todas as cestas de bens e serviços monitoradas pelo IBGE.
“Não são só eles. Todos os banqueiros centrais estão errando sobre esse choque inflacionário”, disse o ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, atualmente professor da Fundação Getulio Vargas.
Erros passados
O próprio Campos Neto reconhece o alto custo de ancorar expectativas de inflação desequilibradas. “Nas duas últimas vezes que isso aconteceu no Brasil, tivemos que mergulhar em uma recessão”, disse ele na terça-feira.
Os economistas com as estimativas de taxas de juros mais altas temem que um remédio tão amargo, incluindo uma desaceleração econômica em 2023, seja inevitável agora.
“Aprendemos quanto tempo leva e quão difícil pode ser” reduzir as expectativas de inflação, disse Gustavo Arruda, dirigente para a América Latina no BNP Paribas. Ele citou a última crise inflacionária que se formou durante o governo de Dilma Rousseff e que acabou forçando o BC a manter a Selic em 14,25% por mais de um ano entre 2015 e 2016.
Embora as causas para a alta dos preços fossem diferentes naquela época, a inflação já está “muito pior agora”, disse Vilela, do Credit Suisse.
“Já está mais alto e mais difundido, até o núcleo da inflação está mais alto.”
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