Economia
Ritmo da alta da Selic só muda se inflação der sinais, diz Campos Neto
Mudança em “normalização parcial” demandaria alteração importante em perspectiva de inflação, afirmou.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que o Comitê de Política Monetária (Copom) só alterará sua estratégia de “normalização parcial” da política monetária caso veja sinais de elevação significativa da inflação e das expectativas para a alta dos preços à frente.
Ele reiterou, durante evento do banco Itaú, que a decisão do BC de elevar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual em março e sinalizar nova alta da mesma magnitude para maio seguiu entendimento de que agir rápido na política monetária implica fazer “menos ao final”.
Questionado sobre o que poderia levar o BC a optar por uma normalização total da política monetária – ao invés do processo de normalização “parcial” citado na última decisão sobre os juros -, Campos Neto mencionou os preços elevados das commodities em reais e os prêmios fiscais na parte longa da curva de juros impactando a inflação e as expectativas.
“Esses elementos teriam que mudar muito para a gente fazer algo diferente”, disse Campos Neto, em inglês.
“Estávamos vendo contaminação nas expectativas de 2021 para 2022 e até além. Então não é sobre consertar 2021, que estará fora do cenário muito em breve, mas é sobre o processo de contaminação que estava se estabelecendo, acho que foi por isso que fizemos o que fizemos”, afirmou.
Campos Neto frisou que o BC atua com a preocupação de equilíbrio e que o risco visto no ano passado de a inflação ficar próxima de 1,5% o preocupou tanto quanto a possibilidade de inflação superar a meta agora.
Em apresentação inicial, Campos Neto afirmou que a expectativa é que, após a forte recuperação da economia após o baque da primeira onda da pandemia da Covid-19, a segunda onda da doença afetará negativamente a atividade do país em março, abril e maio.
Ele reiterou, contudo, que a perspectiva para o segundo semestre é favorável, com a expectativa de reabertura da economia. Destacando que o país “finalmente” atingiu a marca de mais de 1 milhão de vacinados por dia, Campos Neto disse que a expectativa é de aceleração do processo de imunização a partir daí.
Calamidade
Campos Neto alertou que o eventual acionamento do estado de calamidade para aumentar a margem que o governo tem para gastar na pandemia traria mais prejuízos do que ganhos.
Se esse for o caminho a ser seguido, o país precisará ter cautela em adotar uma “narrativa correta” para justificá-lo, frisou.
“Se eu disser que vou para calamidade porque quero gastar R$ 20 bilhões a mais, R$ 25 bilhões a mais, posso te garantir que o efeito econômico do ponto de vista de turbulência nos mercados e nas variáveis macroeconômica será muito maior do que o efeito que você tem de gastar R$ 25 bilhões”, disse Campos Neto.
“Nós temos que ser muito cautelosos com a narrativa que será usada se esse for o caminho adotado. Eu vejo claramente que, se você não tem a narrativa correta, vejo um efeito negativo em termos de algo para o qual você espera um efeito positivo. Acho que é isso que o mercado está nos dizendo, que as variáveis estão nos dizendo.”
Campos Neto também afirmou que o processo de aprovação do Orçamento gerou incertezas que tiveram impacto no prêmio de risco do cenário fiscal.
“Acho que temos que explicar às pessoas o que será feito porque acho que precisamos remover isso (prêmio), acho que isso é relativamente fácil de se fazer”, afirmou.
Apesar das preocupações, Campos Neto destacou que o Congresso Nacional não está parado e, citando a aprovação da Lei do Gás e o projeto de autonomia do Banco Central, afirmou que o país é um dos únicos do mundo que está aprovando medidas estruturais em meio à pandemia.
Ele também afirmou que a PEC Emergencial foi uma “conquista” que estabeleceu marcos importantes para a política fiscal.